c a p í t u l o. 5

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Agosto de 2019 – Mouwalk Univesrsity – EUA

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Agosto de 2019 – Mouwalk Univesrsity – EUA

O auditório está lotado quando Amélia e eu chegamos, há apenas duas cadeiras vagas, uma mais a frente e uma nas últimas fileiras.

Amélia diz que vai se sentar mais atrás para ficar próxima a um amigo, então me direciono para sentar próxima a primeira fila.

Não sou uma aluna exemplar.

Mas se estou recomeçando uma vida que jurei ter desistido, é melhor que eu esteja nos holofotes do que na coxia neste momento.

Não acho que conheça ninguém aqui além de Amélia, o que é uma coisa particularmente boa na minha situação. Não gostaria que eu virasse o assunto da aula neste semestre.

Principalmente quando o nome do Moulwalk Children's Home e Mouwalk Hospital está em destaque no quadro branco. Esses nomes me dão calafrios, principalmente porque passei grande parte da minha vida intercalando de um lugar para o outro.

- Bom. – O professor inicia sua fala quando termina de escrever – Estes são os lugares para a ação social. Não podemos esquecer que estaremos nestes lugares representando nossa Universidade, então estejam cientes de que a boa conduta é essencial. 

Algumas pessoas riem do que ele fala.

- Como o Senhor Smith bem colocou anteriormente. O objetivo da disciplina é levar às pessoas o acesso à educação ou informação a fim de compartilhar conhecimento. Todos os cursos estarão participando então, por favor, - ele junta as mãos como se estivesse prestes a orar - não esqueçam que as Noites de Saco Cheio servem para trocar experiencias e conversas que não estejam apenas relacionadas ao preço da maconha.

Ele fala alto e a sala toda ri.

Olho para Amélia com uma expressão acusatória, mas ela dá de ombros, fingindo cinismo.

- Estão dispensados.

Todos na sala se levantam ao mesmo tempo, loucos para sair dali. Reviro aos olhos ao perceber que perdi a primeira aula do primeiro dia como se fosse uma caloura burra. Permaneço sentada até que o tumulto passe e acabo restando como uma das últimas pessoas a me dirigir até saída.

- Fire. – Uma voz me chama e eu paro no lugar.

Quando me viro, vejo que é professor quem chama minha atenção. Ele acena para que eu me aproxime de sua mesa.

- Fire Marie – ele diz suavemente - Você provavelmente não lembra de mim, mas eu fui professor do Sky a muito tempo, quando ainda era um professor de Ensino Médio.

Tento sorrir, mas algo me impede. 

- Senhor O'conell, lembro sim.

Sei o que vem a seguir.

- Eu nunca tive a chance de dizer o quanto eu sinto muito pela perda que sua família teve. - Ele se aproxima e pega minha mão. - Sky era um menino incrível, e serei eternamente grato por ter tido a oportunidade de conhecê-lo.

Não gosto quando isso acontece.

Os últimos anos foram repletos de situações como essas.

E quando não eram momentos de condolências, eram momentos de acusações que me faziam sentir sufocada.

- Eu tenho certeza que o lapso dele foi apenas um momento de fraqueza, - ele continua quando não falo nada a respeito. – Sky nunca me pareceu o tipo de menino que lida com substâncias ilegais.

Cravo minhas unhas nas palmas da mão.

- Não, ele não era. - Falo firme.

Ele coloca as mãos no bolso da calça e permanece me encarando.

- O que exatamente aconteceu naquela noite? - Pergunta.

Meus olhos encaram meus coturnos e deixo um sorriso tímido brotar em meus lábios.

- Eu não sei se o senhor se lembra, - começo - mas eu passei onze meses em coma depois daquela noite.

Essas palavras fazem minha garganta doer quando são pronunciadas.

Mas elas surgem nele o efeito que eu procurava.

- Eu... eu, sabia. – Ele gagueja.

- Então, - me aproximo um centímetro a mais para fitar bem o fundo dos seus olhos antes de comentar – o que diabos te faz achar que eu me lembro do que aconteceu naquela noite?

- Eu, eu... - ele começa a falar, mas algo está preso sua garganta e única coisa que consegue fazer é gaguejar e se afastar de mim.

- Tudo bem, – assinto - não precisa dizer nada. A maioria das pessoas não sabe o que dizer, só sabem presumir.

- Fire...

- Tenha um bom dia, senhor O'conell. - Pego meus materiais, apressada, e me retiro da sala.

Minhas entranhas se reviram e sinto vontade de vomitar.

Sigo em direção a porta com passos calmos, mas logo eles se tornam frenéticos à medida em que me aproximo da saída.

O corredor do lado de fora do auditório está cheio, e por um segundo me vejo sem ter para onde correr. Sigo em direção ao banheiro mais próximo, esbarrando nas pessoas que ficam em meu caminho.

Quando chego no banheiro, me ajoelho em frente a privada pronta para despejar todo meu café da manhã.

Lágrimas de raiva se misturam ao suor do esforço e me vejo sentada no chão e em pânico.

Foi burrice minha estar aqui, me matricular aqui.

Não importa aonde eu vá, os fantasmas parecem me perseguir.

Eu queria que todos esquecessem o que aconteceu naquela noite. Comigo. Com Sky.

Algo se quebrou de uma forma que nunca irei recuperar e ser lembrada constantemente do trauma, faz com que os pedaços se recusem a se juntar novamente.

Preciso respirar.

Imploro por ar.

Preciso respirar.

Respira.

Insisto.

Respira.

Mais uma vez.

Meus pulmões ardem e meu peito está em chamas.

Mais uma vez.

Mais uma vez.

Mais uma vez.

O ar volta lentamente, assim como o passado.

O ar volta lentamente, assim como o passado

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