c a p í t u l o. 44

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Outubro de 2019 – Residência dos Di Laurence, Moulwalk City – EUA

Faz uma semana que não vejo Fire, está quase na hora de voltar para a faculdade, mas não tenho certeza se quero voltar para lá.

Sinto sua falta.

Sinto falta de Daniel.

Sinto falta de como tudo era antes.

E sinto falta do que nunca foi.

Conversei com Amélia sobre a possiblidade de ir até Fire, mas ela me recomendou deixar ela ter o tempo dela.

Deixar todo mundo ter seu tempo para processar o que aconteceu.

Quando acordo, em um dia qualquer como os outros dias qualquer que tive antes deste, mamãe está na cozinha preparando panquecas, mas meu pai já saiu para o trabalho.

Apesar de estar na mesma casa que ele, o vejo o mesmo tanto de vezes do que quando estou longe.

Ela já está vestida com o seu uniforme.

Quando a vejo, minha mãe dá um sorriso e coloca um prato de panquecas em minha frente, seguidas por uma vantajosa cobertura de melado.

Não estou com fome, mas dou uma mordida em uma apenas para deixá-la feliz.

Não falamos nada enquanto estamos ali, mas sei que ela quer me consolar, então vez ou outra sorrio para ela e dou mais uma mordida.

Uma batida leve na porta chama nossa atenção e minha mãe caminha até lá para atender.

Ouço passos suaves no assoalho de madeira quando ela dá passagem para que alguém entre.

- Marie! - Minha mãe exclama. - Quanto tempo!

Meu coração bate mais forte com a menção de seu nome, de forma descontrolada.

Me olho no reflexo do micro-ondas tentando dar um jeito rápido em meu cabelo.

Fire entra na cozinha.

Ela tem os cabelos presos, usa uma shorts escuro e uma camisa um pouco maior do que seu tamanho original.

- Oi.

Ela sorri tímida.

- Oi.

Digo, tentando conter minha voz.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que minha mãe o quebra.

- Tenho que ir, mas se comportem crianças.

Ela caminha até mim e dá um beijo em minha testa, depois anda até Fire e para de frente para ela.

- Sinto muito, Fire. - Ela sussurra, para que apenas ela escute, então dá um beijo em sua testa também e sai.

Longos segundos em silêncio se passam novamente.

Fire mexe os dedos.

Ansiedade a consome.

- Foi no dia em que você me levou na sua casa. - Começo, respondendo à pergunta que ela não consegue fazer. - Eu comecei a suspeitar naquele dia, quando lia reportagem que dizia que havia marcas de pneu de um Impala 89 modificado na pista.

Ela assente.

- Por que você não me disse?

Engulo em seco.

- Eu queria ter certeza antes.

Ela assente mais uma vez.

- Quando você teve certeza?

Passo meus dedos pelos cabelos, bagunçando-o.

- No dia da festa da MAP.

Por favor não surta.

Ela apenas me encara, sua expressão não demonstra nenhuma emoção.

Fico nervoso, minhas mãos estão tremendo e não sei o que vai acontecer a seguir.

- Cas, eu não sei o que fazer. - Ela diz, suas mãos espalmando na bancada da cozinha.

Quero me aproximar.

Quero dizer que eu estou aqui para ela, mas mal sei se estou aqui para mim mesmo.

- É muita informação, foi como quando eu acordei. - Fire balança a cabeça, não querendo trazer à tona as lembranças. - Em um momento eu não sabia de nada e do nada era só disso que se falava.

Ela chora e não aguento.

Caminhos até ela com passos longos e a tomo nos braços.

Fire envolve minha cintura.

Suas lágrimas molham minha camisa assim como as minhas em seus cabelos.

É como no dia em que ficamos no chão da sala de música, nossos batimentos se completando, nossas frustações e nossas mágoas.

Quando finalmente a solto Fire me encara, se afastando alguns passos.

- Fire. - Um vazio me preenche.

- Eu quero você. - Ela diz. - Eu quero muito.

Eu também. - Quero dizer, mas nada sai.

- Mas eu acho que nós dois concordamos que é melhor dar um tempo. - Ela seca as lágrimas.

Um soco me atinge.

- Para colocar as coisas no lugar, nossas emoções. - Ela completa.

Concordo com a cabeça.

- Eu amo você. - É a única coisa que digo.

Ela sorri.

- Eu também.

Eu balanço a cabeça.

- Eu sinto culpa, Fie. - Digo, lágrimas caindo descontroladamente.

- Eu sei. Eu li a carta.

Ela fala, sua voz embargada.

Fecho os olhos com força.

- Você o perdoou? - Pergunto.

Fire olha para baixo, procurando uma resposta.

- Minha mãe uma vez me disse que, você só chega ao fundo do poço se escolher descer até ele. - Ela diz. - Eu estive lá por muito tempo para deixar que essa situação me faça voltar para lá. Eu perdoei. E foi muito, muito difícil. - Ela seca suas lágrimas e limpa a garganta. - Mas eu fiz.

- Você me perdoou? - Pergunto.

Meu coração bate forte.

Ela sorri.

- Sim.

Essa é a palavra, é o suficiente para que eu volte a cair no choro.

Antes de perdoar a qualquer um, é a mim mesmo que tenho que perdoar. 

FIRE MEET GASOLINEOù les histoires vivent. Découvrez maintenant