Outubro de 2019 – Residência dos Di Laurence, Moulwalk City – EUA
Faz uma semana que não vejo Fire, está quase na hora de voltar para a faculdade, mas não tenho certeza se quero voltar para lá.
Sinto sua falta.
Sinto falta de Daniel.
Sinto falta de como tudo era antes.
E sinto falta do que nunca foi.
Conversei com Amélia sobre a possiblidade de ir até Fire, mas ela me recomendou deixar ela ter o tempo dela.
Deixar todo mundo ter seu tempo para processar o que aconteceu.
Quando acordo, em um dia qualquer como os outros dias qualquer que tive antes deste, mamãe está na cozinha preparando panquecas, mas meu pai já saiu para o trabalho.
Apesar de estar na mesma casa que ele, o vejo o mesmo tanto de vezes do que quando estou longe.
Ela já está vestida com o seu uniforme.
Quando a vejo, minha mãe dá um sorriso e coloca um prato de panquecas em minha frente, seguidas por uma vantajosa cobertura de melado.
Não estou com fome, mas dou uma mordida em uma apenas para deixá-la feliz.
Não falamos nada enquanto estamos ali, mas sei que ela quer me consolar, então vez ou outra sorrio para ela e dou mais uma mordida.
Uma batida leve na porta chama nossa atenção e minha mãe caminha até lá para atender.
Ouço passos suaves no assoalho de madeira quando ela dá passagem para que alguém entre.
- Marie! - Minha mãe exclama. - Quanto tempo!
Meu coração bate mais forte com a menção de seu nome, de forma descontrolada.
Me olho no reflexo do micro-ondas tentando dar um jeito rápido em meu cabelo.
Fire entra na cozinha.
Ela tem os cabelos presos, usa uma shorts escuro e uma camisa um pouco maior do que seu tamanho original.
- Oi.
Ela sorri tímida.
- Oi.
Digo, tentando conter minha voz.
Ficamos em silêncio por um tempo, até que minha mãe o quebra.
- Tenho que ir, mas se comportem crianças.
Ela caminha até mim e dá um beijo em minha testa, depois anda até Fire e para de frente para ela.
- Sinto muito, Fire. - Ela sussurra, para que apenas ela escute, então dá um beijo em sua testa também e sai.
Longos segundos em silêncio se passam novamente.
Fire mexe os dedos.
Ansiedade a consome.
- Foi no dia em que você me levou na sua casa. - Começo, respondendo à pergunta que ela não consegue fazer. - Eu comecei a suspeitar naquele dia, quando lia reportagem que dizia que havia marcas de pneu de um Impala 89 modificado na pista.
Ela assente.
- Por que você não me disse?
Engulo em seco.
- Eu queria ter certeza antes.
Ela assente mais uma vez.
- Quando você teve certeza?
Passo meus dedos pelos cabelos, bagunçando-o.
- No dia da festa da MAP.
Por favor não surta.
Ela apenas me encara, sua expressão não demonstra nenhuma emoção.
Fico nervoso, minhas mãos estão tremendo e não sei o que vai acontecer a seguir.
- Cas, eu não sei o que fazer. - Ela diz, suas mãos espalmando na bancada da cozinha.
Quero me aproximar.
Quero dizer que eu estou aqui para ela, mas mal sei se estou aqui para mim mesmo.
- É muita informação, foi como quando eu acordei. - Fire balança a cabeça, não querendo trazer à tona as lembranças. - Em um momento eu não sabia de nada e do nada era só disso que se falava.
Ela chora e não aguento.
Caminhos até ela com passos longos e a tomo nos braços.
Fire envolve minha cintura.
Suas lágrimas molham minha camisa assim como as minhas em seus cabelos.
É como no dia em que ficamos no chão da sala de música, nossos batimentos se completando, nossas frustações e nossas mágoas.
Quando finalmente a solto Fire me encara, se afastando alguns passos.
- Fire. - Um vazio me preenche.
- Eu quero você. - Ela diz. - Eu quero muito.
Eu também. - Quero dizer, mas nada sai.
- Mas eu acho que nós dois concordamos que é melhor dar um tempo. - Ela seca as lágrimas.
Um soco me atinge.
- Para colocar as coisas no lugar, nossas emoções. - Ela completa.
Concordo com a cabeça.
- Eu amo você. - É a única coisa que digo.
Ela sorri.
- Eu também.
Eu balanço a cabeça.
- Eu sinto culpa, Fie. - Digo, lágrimas caindo descontroladamente.
- Eu sei. Eu li a carta.
Ela fala, sua voz embargada.
Fecho os olhos com força.
- Você o perdoou? - Pergunto.
Fire olha para baixo, procurando uma resposta.
- Minha mãe uma vez me disse que, você só chega ao fundo do poço se escolher descer até ele. - Ela diz. - Eu estive lá por muito tempo para deixar que essa situação me faça voltar para lá. Eu perdoei. E foi muito, muito difícil. - Ela seca suas lágrimas e limpa a garganta. - Mas eu fiz.
- Você me perdoou? - Pergunto.
Meu coração bate forte.
Ela sorri.
- Sim.
Essa é a palavra, é o suficiente para que eu volte a cair no choro.
Antes de perdoar a qualquer um, é a mim mesmo que tenho que perdoar.
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FIRE MEET GASOLINE
Roman d'amourO que é um caos? A teoria do caos estabelece que uma pequena mudança ocorrida no início de um evento qualquer pode ter consequências desconhecidas no futuro. Fazem dois anos que Fire Marie e Castle di Laurence se viram pela última vez. Tudo isso por...