Capítulo 10

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Assim que entrei no quarto me deparei com William se remexendo e suando demais em cima da cama... O grande e temido Levy estava tendo um pesadelo. Eu pensei em simplesmente sair do quarto e o deixar, mas minhas pernas começaram obedecer meu coração e caminharam até ele, calmamente eu lhe toquei o rosto enquanto chamava seu nome.

- Acorda, é só um pesadelo... - Falei segurando suas mãos que se debatiam sobre o colchão. Até que ele abriu os olhos derrepente e se sentou na cama ofegante.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntou nervoso.

- Eu me levantei para tomar um copo de água e ouvi seus gritos, pensei que pudesse estar sendo atacado, sei lá.

- Como se você se importasse se alguém tentasse me matar.

- Eu me importo com vidas no geral, independente se a vida no caso for a do meu sequestrador.

- Pois não devia ligar, porque no seu primeiro deslize eu acabo com você sem pensar duas vezes.

- Eu sei... Quer que eu lhe trague uma água com açúcar?

- Não.

- Quer conversar sobre seu pesadelo?

- Pra que? Para me achar fraco e vulnerável?

- Eu não sou assim, William. - Falei segurando suas mãos entre as minhas, e percebi que ele estranhou aquele ato, mas não fez nada para me impedir.

- Minha vida não é um mar de rosas, eu não gosto de matar pessoas, eu o faço porque é meu trabalho.

- Você pode mudar, basta querer.

- Mas eu não quero. Eu perdi meu pai muito cedo e minha mãe que precisou cuidar sozinha da casa, éramos eu, ela e minha irmãzinha Manu. Ela começou a trabalhar como diarista, mas tinha um problema na coluna e não estava mais aguentando, tentou arrumar outro emprego, só que sem estudos era muito difícil, e então ela acabou entrando no mundo da prostituição. Pela sua idade não era a preferida dos homens, então fazia programas por preço de banana, 20 reais a hora ou coisa do tipo. Mesmo com tanta dificuldade ela sempre me dava dois reais pra levar na escola para poder comprar um salgadinho, mas eu nunca comprei nada, comecei emprestar o dinheiro para os moleques. Emprestava 2 e depois eles tinham que me pagar mais 1,50 de juros, e quem não me pagava eu arrebentava na hora da saída... Quando eu vi eu já tinha mil reais guardado e comecei emprestar quantias maiores, para pessoas maiores, decidi então abandonar a escola ainda no primeiro colegial e me tornar um agiota.

- E sua mãe? Sua irmã?

- Minha irmã morreu muito nova, ela ficou doente, faltava dinheiro para pagar os remédios e ela faleceu com 4 anos. - Nesse momento percebi que seus olhos estavam cheios de lágrimas. - E minha mãe eu pago uma casa de repouso para ela, lá eu sei que ela está sendo bem cuidada.

- Eu também não tive um lar estabilizado, nunca conheci meu pai, minha mãe sempre foi problemática, bebia demais. Até que quando eu tinha 14 anos ela conheceu um cara e o levou pra morar com a gente, uma vez ele tentou abusar de mim eu contei para ela e ela me expulsou de casa, falando que a culpa era minha. Foi então que perdida e sem rumo conheci uma senhora dona de uma mercearia que me ajudou, me deu emprego, me deixou morar com ela até eu conseguir meu próprio cantinho. Mas eu queria ir embora, eu queria fazer faculdade de medicina e na cidade que eu morava não tinha uma, e então juntei minhas coisas e vim só com cara e coragem para capital, fiquei alguns dias em um abrigo, cheguei a dormir algumas noites na rua, até consegui um trabalho em uma lanchonete, o que me permitiu alugar um apartamento. Depois arrumei um trabalho de vendedora em uma loja, comecei a revender semi jóias e vi em um anúncio que a faculdade estava dando um desconto para quem atingisse determinada nota, e se eu conseguisse aquele desconto eu conseguiria pagar. Então eu passei noites e noites em claro estudando, prestei o vestibular e passei. Foram anos de muita luta e sofrimento, e quando eu estava acabando o curso, o lugar que eu trabalhava fechou e eu estava desesperada... Desesperada ao ponto de procurar ajuda de um agiota. - Falei rindo, mas era um riso de tristeza. E uma lágrima escorreu por meu rosto, eu me assustei quando ele levou sua mão até minha bochecha para seca-la. Nossos olhares se encontraram, e ele começou encarar as vezes meus olhos, as vezes minha boca. E a iniciativa partiu de mim, eu me inclinei e selei nossos lábios. A princípio foi um beijo tranquilo, aos poucos foi se intensificando até nossas línguas bailarem em perfeita sincronia. Sem dúvidas o melhor beijo que eu já havia provado em toda minha vida.

O AgiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora