Capítulo 05

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Agora que tomara a decisão de trabalhar na penitenciária, Camila se encontrava ansiosa para começar. Já tinha uma vaga ideia de como o pai reagiria à notícia, contudo isso não a preocupava. Tinha coisas mais importantes com as quais deveria se preocupar, e a opinião de Alejandro não seria uma delas. Por muito tempo reprimira seus sonhos e desejos por medo de magoá-lo. Mas Alejandro refizera sua vida um ano após a morte de Sinuhe, com uma mulher vinte anos mais jovem. Então era mais do que justo que ela fizesse o mesmo, e sem qualquer receio.

— Vou me dedicar integralmente à penitenciária feminina da cidade — disse ela, observando o garfo que Alejandro levara à boca parar bem no meio do caminho. Ele pousou o utensílio na mesa e em seguida olhou para ela.

— O que isso significa?

— Significa que deixei o hospital para me dedicar às mulheres presidiárias. Ela viu a decepção surgir nos olhos dele, lentamente. A realização de que ele não queria o que ela queria, e de que ela não iria muito longe trabalhando naquele ambiente. Tudo que Camila queria era ajudar as pessoas e ser necessária. Mas Alejandro não compreendia. E como poderia? Ele não conhecia as sarjetas onde aquelas mulheres rastejaram ao longo da vida.

— Não sou de acordo — disse ele por fim.

— Eu sei. Mas a decisão é minha, papai.

No silêncio que se seguiu, Camila ponderou se deveria falar ou não sobre sua relação amorosa com outra mulher. Por mais que tivesse tentando se apaixonar por um homem, não conseguira. Não importava quantos homens atraentes e educados ela tivesse conhecido e se esforçado para gostar deles, não se encaixava mais naquilo. A cada dia, via o futuro se aproximando em uma nuvem de fumaça de oportunidades perdidas pelo simples fato de temer os julgamentos alheios. Não podia continuar assim.

— Embora minha vida privada pertença apenas a mim — começou ela, na defensiva. — Quero dizer que conheci alguém, e que estou muito bem com ela.

— Ela? — questionou Meryl, o cenho franzido em sinal de confusão e curiosidade.

— É isso mesmo. Estou em um relacionamento com outra mulher.

A descrença na expressão de Alejandro foi a coisa mais triste que Camila viu na vida. Demonstrava mais uma vez que ela o decepcionara. Viu também que o pai procurava palavras, e notou a tristeza encher os olhos dele quando não encontrou nenhuma. E diante do incômodo silêncio e da tensão que pairava no ar, Regina se levantou e foi até Camila.

— Desejo de todo o meu coração que você seja feliz, minha irmã — disse ela, beijando-lhe o rosto.

— Da mesma forma que nós aceitamos que papai se casasse com uma mulher que tem idade para ser filha dele, ele também vai aceitar que você se relacione com quem desejar. Não é, papai?

Alejandro ficou em silêncio por alguns instantes. Parecia imerso em uma lembrança. Elas esperaram pacientemente que ele falasse, embora estivessem ciente de que Alejandro não recebera de bom grado aquela notícia.

— Sim... — disse ele finalmente, mas percebeu, pela tristeza nos olhos da filha, que demorara demais para responder, e que o seu silêncio a convencera mais do que suas palavras.

— O importante para nós é a sua felicidade, querida — a voz de Meryl fez

Regina revirar os olhos e retornar ao seu assento. Quando o almoço finalmente chegou ao fim, Camila se despediu da família e foi embora na companhia de Regina. Sua irmã mais nova detestava permanecer em casa quando Meryl estava por perto.

— Não entendo por que você não vai morar com o seu namorado.

— E deixar aquela bruxa se apossar de tudo? Nem fodendo!

Mentiras de PrimaveraWhere stories live. Discover now