Capítulo 19

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— Acabou. Você está, enfim, livre!

O anúncio de Regina conseguiu arrancar um sorriso dos lábios que já não sorriam havia semanas. Enquanto Emma a abraçava, Lauren desejava que Camila estivesse ali, chamando-a para um abraço, comemorando a sua inocência. Mas ela continuava em Genebra e nunca mais tinha falado com ela.

— Como eu imaginava, o marido dela planejou o assassinato depois que descobriu a traição — a voz de Regina dispersou seus pensamentos, e ela agradeceu por isso. — De qualquer forma, você cometeu um crime ao sair por aí com um monte de documentos falsos. Felizmente ninguém ficou sabendo deste detalhe, então vou te dar um conselho: destrua aquela merda o mais rápido possível.

— Obrigada, Regina. Pagarei até o último centavo que...

— Calma aí. Você não me deve nada. Quem me deve é ela — Regina se virou para Emma e sorriu antes de completar. — Foi ela quem contratou os meus serviços.

— Sendo assim, vou deixá-las a sós. Acho que vocês duas tem muito o que conversar... — disse Lauren, antes de abrir a porta da cafeteria e se retirar.

Quando Lauren desapareceu, Regina olhou bem no fundo dos olhos de Emma, segurando-a em um transe. Emma respirou fundo, deixando o ar sair devagar, perguntando-se como Regina conseguia fazer com que se sentisse balançando à beira de um precipício. Um passo em falso e ela mergulharia no abismo.

— O valor deve ser bem alto. — começou Emma, sentindo que Regina a estava secando com o olhar.

— Talvez você possa dividir em parcelas — ela abriu um sorriso sem graça. O pensamento não poderia ser mais equivocado. — Ou talvez você possa me pagar in natura.

— In natura?

— Exatamente — Regina deu um beijo em seu rosto e se afastou, deixando-a ali, em suspenso. Saudosa.

[...]

As vezes, Lauren observava seu reflexo no espelho se perguntando quem de fato ela era, para onde estava indo. Então a imagem mudava e não era mais ela, apenas a silhueta solitária de uma pessoa. Ela fechou os olhos por um longo tempo, o coração esmurrando cada osso da sua caixa torácica. Ela desejava tanto ver Camila que chegava a doer. Camila era seu primeiro pensamento de manhã e o último durante a noite. Ela havia se apoderado da sua alma. Estava dentro dela, consumindo-a, compelindo-a. Camila era tudo. Dia, noite, sombra, luz. Tudo. Lauren finalmente compreendia que nunca deveria ter sentido vergonha do seu passado, nunca deveria tê-lo ocultado de Camila. Mas só agora tinha a certeza de que os dezesseis anos que passara no orfanato sendo menosprezada, tratada com desdém, a tinha levado àquele momento de independência. Sua busca pela sobrevivência deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha. Por que demorara tanto para entender isso?

— Lauren, você está bem? — Emma perguntou. Sentindo os olhos se encherem de lágrimas, ela não olhou para a amiga. Em vez disso, se virou para a janela.

— Estou bem. — disse ela, virando-se finalmente.

Emma meneou a cabeça de modo compreensivo. Lauren sentiu o olhos dela examinando-a, estudando-a. O que será que ela via? Uma pilha de nervos à flor da pele?

— Como foi com Regina?

— Bem, eu acho. Ela disse algo sobre pagar in natura e depois foi embora.

— Ela disse isso? — Lauren arqueou as sobrancelhas enquanto balançava a cabeça. — Você aceitou?

— Na verdade ela foi embora antes de me dizer o que isso significava.

— Essa Regina é realmente uma filha da puta.

— Por que está dizendo isso? O que significa essa merda?

Mentiras de PrimaveraWhere stories live. Discover now