Capítulo 11

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O som da campainha fez Camila sobressaltar da cama. Ela soltou um palavrão enquanto vestia o roupão de seda por cima da camisola. Chegaria atrasada ao trabalho como sempre acontecia todas as vezes em que Lauren dormira em sua cama. Ao menos ela tinha ido comprar o café, pensava Camila. Contudo, ao abrir a porta, a surpresa refletiu em seu rosto, bem como a mesma incerteza cautelosa que vira nos olhos de Justin.

— Oi, Camila. Sei que é cedo, mas eu preciso falar com você. É urgente.

Camila vacilou, não sabia se devia deixá-lo entrar ou não. Justin se afastara desde que ela iniciara um relacionamento com Lauren, e todas as suas tentativas de aproximação acabavam com os dois discutindo. Mas, apesar de tudo, ela se afastou para que ele entrasse.

— Sei que você deve estar me odiando — disse ele, assim que ela fechou a porta. — Mas, se esse é o preço que terei de pagar para te proteger, então aceitarei de bom grado.

Camila levantou a mão para silenciá-lo, como se escutar aquilo fosse mais do que uma afronta. Ela respirou fundo, impaciente e irritada, sentou no sofá diante dele.

— Justin, acho que já falamos mais de uma vez sobre isso, então vou repetir o que você já sabe: eu não preciso da sua proteção.

— Eu sei. Mas não posso permitir que você seja enganada dessa forma.

— Lá vem você com essa história outra vez? Lauren não negou que os documentos...

— Não me refiro aos documentos — ele falou, interrompendo-a. — Me refiro ao fato dela ser uma garota de programa.

Muito lentamente, Camila se levantou do sofá. Ela não deve ter ouvido direito, e franzindo a testa, indagou:

— Do que você está falando?

— Estou falando que Lauren ganha a vida se deitando com outras mulheres em troca de dinheiro.

O choque daquela revelação foi diferente de tudo o que ela já havia experimentado. A voz ficou presa na garganta, e Camila não conseguia encontrar um modo de soltá-la. Ela continuou olhando para ele com a boca aberta. O veneno das palavras penetrando lentamente em suas veias, machucando-a.

— Como você consegue ser tão perverso?

— Perverso? Eu? — ele pronunciou lentamente, e ela ouviu sua respiração entrecortada e pesada. — Ela mente para você e eu é quem sou perverso?

— Você não vai conseguir nos separar.

— Não é essa a minha intenção.

— E qual é? — a voz soou fraca, não era de jeito nenhum a voz dela.

Ela queria gritar para ele sumir dali, mas as palavras ficaram presas na garganta, e aquilo doía muito. Sentiu-se sufocar.

— Não é segredo para ninguém que sou apaixonado por você. E me dói muito saber que você está sendo enganada dessa forma.

— Eu não acredito em nada do que você está dizendo — ela sentiu o primeiro calor das lágrimas.

— Imaginei que não acreditaria. Mas eu tenho como provar que aquela mulher não passa da porra de uma prostituta!

Camila ergueu a mão, tentando golpeá-lo. Mas Justina segurou pelos pulsos impedindo-a de atacá-lo. Seus lábios se curvaram em um sorriso de desdém.

— Como pode uma mulher tão inteligente como você continuar metendo os pés na mesma poça de lama esperando que esteja seca? Abra os olhos, Camila.

— Me solta! — ela se desvencilhou com brutalidade.

Os restos amargos da revelação dele macularam o ar, deixando-a sem ter o que respirar.

Mentiras de PrimaveraWhere stories live. Discover now