Capítulo 16

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Lauren passara vários dias planejando contar a Camila aquela parte obscura do seu passado, que, na verdade, já fazia parte do presente e poderia arruinar seu futuro. Ela havia memorizado cada palavra que deveria ser dita e imaginado todas as possíveis reações que Camila provavelmente teria. Contudo, aquela inesperada viagem mudara a direção que ela pretendia tomar. Agora, tudo o que Lauren sentia era um tremor e uma vaga sensação de pânico sem forma. Ela moveu-se agitada no assento do seu carro enquanto observava Camila se despedir da irmã. Era inútil ficar assustada, ela sabia disso, mas saber não diminuía sua angústia.

Quando Camila finalmente entrou no carro e elas partiram em direção ao aeroporto, Lauren sentiu um aperto no peito e uma imensa vontade de implorar para que ela ficasse. Depois falaria sobre o flagelo que carregava esperando que Camila compreendesse e acreditasse nela. Mas, em vez disso, ela fingiu que estava atenta à estrada como se não a conhecesse por toda a vida. Camila pousou a mão sobre a coxa dela, numa carícia gentil. Lauren a olhou sem dizer nada, um olhar que Camila não conseguiu decifrar.

— Você está bem? — preocupada com o silêncio dela, Camila quis saber.

— Sim. É que já estou com saudade — disse ela, como se não estivessem estado juntas nas últimas horas.

— Meu amor, serão apenas duas semanas.

Lauren exibiu um sorriso amargo e começou a dizer alguma coisa para preencher o silêncio, algo que a impedisse de pensar na solidão que estava por vir sem a presença de Camila. Estavam chegando cada vez mais perto do aeroporto, e quando Lauren menos esperava, estava pegando a rampa de acesso ao embarque internacional. Elas desceram do carro, pegaram as bagagens e caminharam em silêncio.

— Não fique tão calada, meu amor. Eu não aguento te ver assim — disse

Camila, as palavras continham uma ponta de ansiedade e nostalgia. Lauren forçou-se a rir, mas não ousou olhar para ela. Temia que a angústia em seus olhos ficasse evidente. Definitivamente, não era essa a imagem que queria que ficasse na memória de Camila. Ela estava prestes a dizer alguma coisa quando uma voz nos altos falantes anunciou a abertura do embarque para Genebra.

— Eu te amo. Mais do que você possa imaginar. Faça uma boa viagem — ela deu um último e longo desesperado abraço em Camila, mas que não foi longo o bastante, e depois, lentamente, recuou.

— Obrigada, amor. E eu também te amo, muitíssimo. Vou sentir muita saudade, mas logo estarei de volta. Eu prometo.

Piscando depressa para afastar as lágrimas, Lauren observou Camila se distanciar e entregar a passagem para um homem na entrada. Depois, com um último aceno, ela desapareceu dentro da sala de embarque. Lauren ficou olhando para a porta vazia. Ficou ali muito tempo, até ter certeza de que o avião tinha partido. Ela começou a chorar, bem ali naquele aeroporto idiota e lotado. De volta ao carro, Lauren de repente se sentiu exausta. A chuva que começou a cair borrou o mundo lá fora por um momento antes que os limpadores de para-brisas deixassem tudo nítido outra vez. Quando finalmente chegou ao seu apartamento, Emma a estava esperando. A presença da amiga a fez lembrar de que não estava tão sozinha quanto se sentia.

— Duas semanas passarão rápido, você vai ver — Emma esperou que Lauren assentisse e em seguida a convidou para almoçar.

Era feriado e a cafeteria ficaria fechada até o dia seguinte. Horas mais tarde, Camila ligou. Elas conversaram por longos minutos e ouvir a voz dela amenizou o vazio que estava sentindo. Quando se deram boa noite, Lauren apagou a luz esperando que o sono viesse, mas não veio. Ela sabia que mais tarde, na longa escuridão do seu quarto, e nos muitos dias que teria pela frente, um novo tipo de solidão a tomaria, soltando sua voz silenciosa no eco da casa agora mais vazia, mas ela também sabia que ia sobreviver. As poucas horas de sono fez com que Lauren rastejasse para fora da cama sem vontade. Sentindo-se cansada, desejou voltar para cama e permanecer ali o dia inteiro, esperando que a voz de Camila ao telefone suavizasse a saudade prematura que sentia dela.

Mentiras de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora