As Estrelas e Outras Drogas

36.

Suspiro.

Acho que é o meu terceiro em dez minutos desde que fiz meu pedido: umas enormes porções de biscoitos e um, exageradamente grande, copo de chocolate quente. Cortesia da minha mãe, é claro.

- Amala. - o pequeno Gales puxa meu casaco erguendo seu tênis desamarrados.

- Amarrar. - o corrijo. Mamãe diz que devemos sempre o corrigir para aprender a pronunciar corretamente mais rápido. - Pronto, garotão.

- E a Ky? - minha questiona ao se sentar à minha frente - Já faz algumas semanas. Nunca mais a vi.

- Não nos falamos muito ultimamente. - digo, já querendo mudar de assunto. Eu sei que ela insistirá em me perguntar porque sabe que tem algo errado. Minha mãe sempre sabe.

- Está com medo, não está? - lhe observo um pouco surpreso. Ela arqueava sua sobrancelha direita de uma forma um tanto ameaçadora.

- Medo do quê, exatamante?

- De acabar como a Eleanor. - desvio o olhar em resposta confirmando suas dúvidas. - Uma coisa que vou lhe contar, filho. Apesar do pouco que a conheço, ela não é a Eleanor.

Avisa com firmeza.

- Talvez não acabe como da última vez, mas tenho um forte pressentimento que eu acabo sozinho, mais uma vez. - dou de ombros tentando me concentrar em meus dedos. - Ela tem sonhos, mãe. Quer conhecer o mundo, odeia essa cidade.

- Mas você também não quer ficar aqui pra sempre, quer? - nego com a cabeça - Filho, vocês são adolescentes. Querem viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas, querem se aventurar, e está tudo bem. Não pode culpar Kyle por querer ser adolescente, por querer sonhar.

- Eu não a culpo. Ela pode fazer o que quiser, mas eu não posso estar do lado dela, me apegar a ela sabendo que terei que deixá-la partir. - suspiro já impaciente - Merda. Eu gosto muito dessa garota.

Minha mãe sorriu.

- Você tem noção que está em Greendale, não está? Não é a cidade das constelações? A cidade parada no tempo? Aproveite seu último ano com ela.

- Não consigo fazê-la ficar. Seria egoísmo da minha parte?

- Ao contrário disso, mostre a ela o quanto quer que ela fique. Diga de uma vez que está apaixonado! Que drama! - sorrimos alto.

- A senhora é muito apressada. Sabia disso? - zombo.

- O seu pai era um lerdo com garotas. Eu tive que tomar a iniciativa muitas vezes, e você, é igual à ele. - nossos sorrisos diminuíram.

Ainda é doloroso falar dele dessa forma, como uma lembrança. Está sendo difícil para ela, para todos nós seguir a vida sem ele, por isso não quero decepcioná-la, não posso fazer algo assim com ela. Por ele, eu não posso.

Recebo uma mensagem de Axl:

Me encontra no CS. James está pirando!

- Vai fechar a loja? - indago para minha mãe.

- Sim, já está escurecendo. - olha para seu relógio de pulso. - Vai precisar do carro? - confirmo - Tudo bem, vamos.

***

Assim que abro a porta de entrada do Cloud Stars, nosso refúgio em Greendale, James e Axl veem ao meu encontro.

- O Cloud Stars vai fechar. - James solta enfurecido - Fechar! Acredita?

Me sobressalto.

- O quê? Como? Por que? — vou até o balcão assustando Wendy que contava cédulas no caixa. Axl e James me seguiram — Que história é essa de que o CS vai fechar?