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AXL

— Pegou as ferramentas na oficina, filho? — meu pai me indaga.

Fecho o capô da camionete negando com a cabeça.

— Joshua deve ter pego escondido. — acuso sem me importar com a provável bronca que ele levaria mais tarde.

Meu irmão caçula gosta de me encrencar por coisas muito piores.

— Ele sempre dá um jeito de chamar sua atenção quando quer alguma coisa. — limpo a graxa das mãos.

— Estou devendo o concerto da bicicleta dele faz alguns meses mesmo. — coça a nuca, logo passando os dedos pelos cabelos grisalhos pensativo — Vou conversar com ele mais tarde.

E como sempre, ele nunca fica encrencado como eu.

— Não esqueça do jantar esta noite. — o lembro me preparando para ouvir seus resmungos.

Eu posso ter sido o melhor filho do mundo em todos esses anos na escola. Sempre chego no horário certo, ajudo na oficina, tiro boas notas, fico em primeiro lugar nas premiações extracurriculares, ganho nos jogos de futebol. Mas é só namorar a filha dos Bloom que eu viro a ovelha negra da família.

Joshua tem sorte de ser o caçula e ser privilegiado. Nossos pais não se importariam se ele não fosse pra faculdade contando que eu vá. Um filho bem sucedido é o suficiente nessa família, e de preferência tem que ser o primogênito, é claro.

— Está levando mesmo isso à sério, não é? — ele se encosta no batente da porta da garagem cruzando os braços.

Pela primeira vez, meu pai não bufou ou fez um show estérico como minha mãe fez quando lhes contei sobre a Samantha. Já é alguma coisa.

— Estou esperando por isso há três anos, pai. — encaro minhas mãos ainda na tentativa de me livrar da graxa — Não estaria falando se não fosse com você e a mamãe. A Sam é importante pra mim.

Ele me analisou por alguns segundos sempre que faz quando está travando uma guerra mental. A testa enrugada e a carranca dos no rosto deixavam isso bem claro.

— Certo.

Soltou um suspiro rápido. Mas não o de decepção que estou acostumado a ver quando conversamos sobre isso. Está mais para um suspiro de desistência, talvez?

— Ele se deu por vencido. — me assusto com Joshua aparecendo bem ao lado como uma fantasma.

— O que disse?

Ele me encarou, arqueando uma das sobrancelhas. É um olhar muito parecido com o de Mona sempre que ironiza ou debocha de algo.

— Talvez. Só talvez ele dê uma chance à Sammy. — responde — Está com sorte.

— Você acha? — um pequeno sorriso se forma em meus lábios enquanto meu irmão confirmava com cabeça. Então eu volto para a realidade — Por que estou lhe dando ouvidos? Você só tem 11 anos. — frazo a testa.

Ele deu de ombros.

— Ao menos eu consigo manipular meus pais pra conseguir o que eu quero. — debocha indo até a porta por onde nosso pai acabou de sair — E de todas as garotas da cidade, eu não namoro a filha dos rivais da nossa família.

Zombou rindo descaradamente.

— Espero que ela tenha alguma prima da sua idade pra você se apaixonar por ela, seu pestinha! — lhe jogo minha própria praga — E não chame ela de Sammy! Só eu posso chamá-la assim.


SAM

As Estrelas e Outras DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora