prólogo - narrado pela autora

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A família Martinelli nunca foi muito discreta em suas rotinas matinais, não importa se é nos dias mais quentes, onde tudo o que as pessoas do bairro procuram é uma tarde furtiva no Greendale's Lake, ou nos dias mais frios quando todos se trancam em suas casas aumentando a temperatura do aquecedor, acendendo suas lareiras e amotoando-se ao redor da sala pra tomar chocolate quente e contar histórias antigas que foram contadas de geração a geração.

Os Martinelli não são nada convencionais. O bairro inteiro sabe disso, porém, de vez em quando, eles tentavam suavizar o temperamento dos dias normais e tentavam transparecer uma família normal (como se alguma coisa fosse considerada normal naquela cidade).

Aquela tarde foi uma dessas em que Luigi estava odiando o silêncio do lugar. Agora ele é o único chefe da casa já que seus irmãos, com ajuda de sua primogênita precocemente milionária (ele ainda tenta se acostumar com o fato da conta bancária da filha de 18 anos ser maior que a da família inteira) se mudaram para uma casa muito confortável com varanda, no bairro adjacente.

Seus sobrinhos caçulas não gritavam pelos corredores, os adolescentes não discutiam pela preferência no banheiro que dividiam, sua esposa, irmã e cunhadas não tagarelavam na sala sobre as novidades da semana.

Agora, o que havia lhe restado era apenas seus filhos murmurando sobre algo na sala ou nos quartos, sua esposa sempre ao telefone tagarelando com sua irmã, Nancy que tinha se mudado para a Itália, e um dos seu piores pesadelos...

Então ele teve uma idéia. Um jantar. Ele já não tinha um momento a sós com a esposa há muito tempo. E para um italiano tradicional como ele, é de lei jamais lhe faltar romance em um casamento tão bem feito como o dele e o da esposa. A ideia foi tão bem aceita que ele mal esperou pela esposa se arrumar, ela estava pronta em apenas alguns minutos, o que não era do seu feitio. Quantas vezes ele já não teve de ser acordado quando a esperava se arrumar para seus encontros adolescentes.

A noite não poderia ter sido melhor. Ele estava tranquilo. Havia deixado seus filhos menores com a mais velha. Não tem mais ninguém (com exceção da esposa) em que confiasse mais do que Kyle.

Sua primogênita, que andava muito nem humorada desde que voltará da Itália e que passa mais tempo no carro daquele texano pálido do que na própria casa.

Ele era um dos seus piores pesadelos, Luigi odiava imaginar o que aquele maldito fazia com a filha quando estavam a sós. Ele, no fundo, sabe que são dois adolescentes (afinal, ele já tinha sido um), e que apesar dos pesares, o maldito é sim, uma boa pessoa, e conhecendo a filha, sentia que o garoto podia ser mais influenciado por ela do que vice-versa.

Bom, ele não queria pensar nisso. Teve uma ótima noite com a esposa, um jantar italiano nostálgico no restaurante no centro, e agora voltava para casa pronto para reencontrar os filhos que provavelmente estão brincando com sua filhinha responsável de algum jogo divertido.

Então, ele viu. Ele viu o maldito carro.

Um Chevrolet Volt prata com a placa já muito bem conhecida.

— Aquele não é o carro do...— sua esposa começou a falar no banco passageiro ao seu lado, mas não terminou. Ela já temia o que iria acontecer, não é a primeira vez que isso acontece.

Maldito! — vociverou, saindo em um pulo do carro.

Assim que abriu a porta de entrada, se deparou com seus sobrinhos, Mona e Lorenzo, os gêmeos que haviam se mudado com o irmão e a cunhada para o bairro adjacente. Os dois estão esparramados no sofá da sala assistindo um filme com seus filhos que já dormiam. Mas Kyle não estava ali.

— O que estão fazendo aqui? — indagou tentando não parecer irritado — E cadê a Antonella, hã?

As faces dos dois se tensionaram. Engoliram o seco ao se entreolharem.

As Estrelas e Outras DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora