When I see you again [Joah +Fillie]

São Francisco

Dizer que as coisas melhoraram logo depois que Noah saiu do hospital seria uma mentira enorme. Havia ainda uma tensão muito grande no ar toda vez que o menino trocava o olhar com algum deles, o silêncio constrangedor que ficava no ambiente nas visitas de Millie e Jack ou na distância e no olhar vago que o menino carregava. Sobreviver não era sua intenção, então era como se ele precisasse reaprender a viver. A cada respiração ele dizia a si mesmo que deveria estar ali. Todo dia ao acordar, tentava dizer para si que ele tinha razão de ter saído vivo daquilo tudo. A sua terapeuta era compreensiva com o lento desenvolvimento e melhora do menino. Faziam 2 meses e cada dia era uma luta.

Contudo, a relação de Millie e Noah melhorou aos poucos. Eles já se abraçam de novo e, as vezes no meio da noite, ele ligava para a agora somente porque o silêncio entre eles era confortável e ele sabia que não estava sozinho. Ellie estava cuidando muito bem dele, mas ele sentia medo de exagerar. As vezes ele sorria pra Brown, ou dizia que a amava baixinho em meio a um abraço caloroso. Mas haviam dias que ele a ignorava.

Jack era complicado. Noah passou a odiar a forma cautelosa com que ele passou a o tratar, como se fosse feito de vidro. As vezes o cacheado o pressionava demais, o outro perdia o controle e gritava e os dois acabavam em choro, mas no final um abraço resolvia a questão momentânea. Os beijos já estavam de volta, mas não eram como antes. Noah se segurava, ainda com um impasse de se entregar aos braços do seu namorado. A confiança ainda não estava concreta e um leve medo dentro do Schnapp ardia toda vez que ele pensava sobre a ideia de ela jamais voltar.

E haviam os dias em que Noah não suportava companhia. Ellie reconhecia esses dias quando ele não descia para o cafe. Nos primeiros dias ela se desesperou com aquilo, mas quando abriu a porta do quarto em que ele estava um dia e o encontrou parado em frente ao espelho, passando o dedo lentamente por suas cicatrizes e sussurrando algo para si mesmo, ela entendeu que eram dias em que ele só tentava agir em sua própria companhia. Noah odiava a imagem que tinha na frente do espelho quando tomou aquela decisão, então a cada dia ele tentava suportar sua própria imagem.

A casa de Ellie estava vazia naquela manhã, exceto por Noah. A garota tinha saído com a mãe para comprar as coisas de mercado, enquanto o pai ainda trabalhava. Ele estava sentado no sofá, encolhido e com um olhar calmo. Na sua mão estava uma xícara de chocolate quente cheia, que ele apenas encarava sem dar mesmo um gole, observando a fumaça flutuar para fora do recipiente. Outro ponto importante era que ele havia perdido peso. Até demais. As vezes ele simplesmente se recusava a comer porque não conseguia digerir coisa alguma, não era como se ele escolhesse. Apenas a falta de apetite se apresentava e era aquilo que havia acontecido, enquanto ele encarava o líquido escuro balançando.

O barulho da porta o tirou de seu transe e ele observou a mesma abrir e Jack entrar, esbaforido e todo molhado. Uma chuva intensa caia do lado de fora. Seu olhar foi calmo na direção do namorado, que retribuiu e sorriu de forma curta. Não houve diálogo, já que o Schnapp voltou sua atenção para o chocolate. O silêncio era comum entre eles agora e não necessariamente era um problema. Eles só conviviam na presença um do outro. Noah achava que era melhor tudo quieto do que eles brigando.

— Tá tentando tomar com o olhar?— Jack questionou, andando até o lado do garoto no sofá e beijando sua bochecha. A correntinha com o "N" pendurado bateu contra a caneca e o menor sorriu de canto por isso.

— Não acho que vou conseguir tomar.— ele resmungou em resposta e ofereceu a cabeça ao mais velho, que deu um pequeno gole, mas devolveu a ele.— nem começa.

— Você precisa comer.— e Jack havia começado. Dava nos nervos de Noah essa teimosia do namorado, como se ele não entendesse o que estava acontecendo. As intenções do cacheado eram as melhores, mas a super proteção dele era sufocante em certos momentos. Não vou tentar me matar de novo porque não estou comendo, Noah pensou, mas sabia que era algo muito cruel para ser dito.