Capítulo 2 - Prédios não pulam

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"Bom dia, Louis!

Você sabia que se Manhattan tivesse a mesma densidade populacional que o Alasca apenas 15 pessoas morariam lá? Essa é uma das muitas informações inúteis que recheiam o meu cérebro... não sou só um rostinho bonito, sabe.

Espero que nossa conversa ontem a noite não tenha feito você dormir alguns minutos a mais e chegar atrasado para sua aula, mas se esse for o caso, não use esse tempo pra estudar, entre pro meu time e faça alguma loucura.

Vou te ver logo,

Harry."


Não era o caso. Louis não deixaria algumas mensagens trocadas com um cara que ele mal conhecia atrapalharem toda a sua reputação, ele não era ingênuo.

Há algumas semanas ele vinha recebendo bilhetes de Harry no mural da faculdade, cinco semanas para ser mais exato (não que ele estivesse contando). Sempre nas segundas, ele procurava por um papel simples, sem muitos detalhes e escrito em caneta preta com o seu nome nas primeiras linhas, e ele sempre recebia alguma coisa. Até agora, já tinha uma coleção de piadas, cantadas mal feitas e fatos aleatórios guardados dentro de uma caixa no fundo de sua gaveta de cuecas, para evitar que seu colega de quarto bisbilhotasse mais essa parte de sua vida pessoal, uma tática que ele havia desenvolvido ao longo de anos morando com irmãs curiosas em casa.

Na primeira semana depois da festa, ele tinha respondido ao bilhete e mandado uma mensagem que dizia "Acho que o sapatinho serviu! Parabéns, Príncipe Encantado, você me encontrou..." para o número indicado no verso do papel quadriculado, e desde então eles vinham conversando por pouco tempo do dia, nada substancial o suficiente para que soubessem algo significativo da vida um do outro, mas íntimo o suficiente para que Louis soubesse que toda semana teria algo para procurar pela cortiça cheia de furinhos além de propostas de emprego e vagas para estágios.

Na cabeça de Harry isso tudo era muito cômico. Louis ainda não tinha confirmado seu sobrenome, desviando de todas as perguntas pessoais que ele fazia. Não tinha revelado seu curso, se tinha irmãos ou animais de estimação, em qual prédio de dormitórios ficava o dele, seu filme favorito ou o chocolate que mais gostava. Mas Harry sempre fora muito observador, e só pelo jeito que as poucas coisas que ele respondia eram digitadas, ele sabia que Louis, definitivamente, com toda a certeza, não era um estudante de exatas. Sabia também, porque era quase impossível não saber, que Louis era o tipo de pessoa que se importa. De verdade e com tudo. Louis se importava com suas notas, se importava se estava apresentável antes de sair de casa, se importava com a escolha de palavras na hora de digitar uma simples mensagem de texto. Era notável também que ele era muito ocupado, sempre respondia durante a noite, como se esse fosse seu único tempo livre e para um leigo isso poderia indicar desinteresse, mas Harry sabia interpretar exatamente cada entrelinha das mensagens.

Era meio que perfeito. Louis calculando meticulosamente as palavras para não parecer muito entregue e Harry resolvendo com paciência cada uma das notificações que recebia, como resolvia equações no tempo de escola.

A análise não ficava só de um lado, por mais que Harry fosse muito melhor nesse jogo. Louis percebia que Harry estava sempre online e o enviava piadinhas e gifs idiotas o dia todo, incluindo de madrugada e especialmente nos finais de semana. Era irritante o quanto ele não se abalava pela vida na faculdade, o quanto continuava vivendo como se estivesse de férias, como se a universidade fosse um hotel e eles estivessem na porra do Havaí, ele pensava. Mas mesmo assim ria de tudo. Ele tinha a impressão de que tinha algo a mais em Harry, algo que revirava suas entranhas e o fazia querer uma xícara de café as nove da noite. Ele não sabia explicar, mas algumas coisas da vida funcionam exatamente assim. Estão lá, você sabe que estão, você não pode ver mas você enxerga.


Paper RingsWhere stories live. Discover now