Capítulo 07 - Um caso perdido de amor platônico

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Com nossas bandejas de lanche em mãos, começamos a andar em direção a mesa de costume, enquanto conversamos sobre as primeiras aulas do dia. Conto que, mesmo estando apenas na segunda semana de aula, a professora de português já passou um trabalho onde cada aluno terá que fazer uma crônica com nossa cidade como cenário, que deve ser entregue após a semana de Carnaval. É incrível a capacidade que os professores têm de acabar com um feriado. 

— CUIDADO! – ouço o grito a poucos metros de mim, mas antes que eu possa processar o que está acontecendo, sinto algo atingir minha cabeça em cheio e caio no chão sentada, com bandeja e tudo, bem no meio do pátio. 

Ai! – Levo a mão a minha testa latejante, onde a bola de couro bateu sem dó nem piedade.

Tento abrir os olhos, mas quando faço isso e vejo tudo meio embaçado, volto a fechá-los com força.

— Amiga, você está bem??? – Sinto que Cris se abaixou ao meu lado.

— Eu… 

— Me desculpe – uma voz masculina me interrompe.

Eu já ouvi essa voz!, penso, sentindo meu coração acelerar

Volto a abrir os olhos e encontro nada mais, nada menos que Paulo Dias de pé bem na minha frente. 

Paulo Dias está perto de mim. Falando comigo. Me olhando diretamente, ainda por cima.

Acho que a pancada na cabeça foi mais forte do que eu tinha imaginado...

Pisco, entorpecida. Meu pulso acelera e tudo ao meu redor deixa de existir por um milésimo de segundos. Não deixo de reparar em como ele é infinitamente mais bonito assim, bem de perto.

Mas o encanto vai embora quando sinto um beliscão forte no meu braço. 

Ai! – olho para Cristine, sem entender o motivo da agressão, e encontro seus olhos verdes me olhando com preocupação genuína. 

— Me desculpa. Você não me respondeu, achei que tivesse tido um traumatismo ou algo assim.

— Juro que não foi por querer – Paulo fala e também se abaixa para ficar na mesma altura que eu. Ele agarra a bola que me acertou, entregando-a para alguém que não presto atenção de quem se trata, pois estou ocupada demais tendo um surto interno. — Você está bem? 

Tento achar voz para responder, mas ela provavelmente resolveu tirar umas férias em Dubai. 

Não dá para acreditar que na primeira vez que o Paulo fala comigo, é para se desculpar por ter me acertado com uma bola de futebol. Eu deveria considerar isso como sorte? Minha testa latejante diz que é exatamente o oposto.

— Acho melhor levá-la até a enfermaria – a voz de Cris me traz de volta a realidade.

— Não precisa! – falo rápido, o que faz minha cabeça doer ainda mais. 

Não posso permitir que o colégio ligue lá pra casa e avise que eu me acidentei. Do jeito que minha avó é quando o assunto é doenças, machucados e acidentes, vou acabar passando o resto do dia presa na cama, entupida de chá amargo e canja de galinha sem sal. 

— Tem certeza que está bem? Tem uma marca vermelha bem preocupante na sua testa – prendo a respiração quando vejo Paulo levantar a mão e aproximá-la do meu rosto. 

Ai. Meu. Deus. 

Eu vou ter um derrame.

Para meu completo desgosto, ele para o movimento no meio do caminho e sorri meio tímido, abaixando a mão novamente.

Do Que o Amor é Feito | Amores Platônicos 01Where stories live. Discover now