Capítulo 02 - Eu disse isso em voz alta?

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     — Heloísa, será que você pode largar só um pouco a comida de lado e me dar alguma atenção?

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     — Heloísa, será que você pode largar só um pouco a comida de lado e me dar alguma atenção?

Paro o pastel de queijo a meio caminho da boca e encaro a garota loira e baixinha à minha frente. 

— Foi mal, Cris – peço e abaixo a mão que segura o pastel. — Me atrasei hoje e não tive tempo de tomar café direito. – Sorrio sem graça e ela revira os olhos em resposta.

Estamos no pátio do colégio, ocupando uma das muitas mesas de cimento espalhadas pelo terreno ao ar livre, protegidas do sol embaixo da sombra de uma árvore, enquanto comemos o nosso lanche. 

— Isso aí não é novidade, você sempre se atrasa – ela alfineta. Nem me dou ao trabalho de me defender, já que é a mais pura verdade. — Não acredito que quase chegou atrasada na aula do professor Edgar. Você sabe que ele não tem o apelido de Zangado a toa, né?

— Pois é. Me lembre de nunca mais repetir a experiência. Achei que meu coração fosse parar quando ele chegou no corredor e me viu jogada no chão. 

Cristine ri, como se estivesse se lembrando de algo super engraçado. A pele clara do seu rosto começa a ficar vermelha e seus lábios tremem ligeiramente.

Para tentar disfarçar, ela toma um gole do seu suco e joga o cabelo loiro natural, que sempre mantém em um corte curtinho e repicado, para trás da orelha. Mas ela não é bem sucedida em seu disfarce, pois logo começa a rir alto, quase engasgando.

— Qual é a graça? – pergunto, confusa.

— Ainda não acredito que derrubou mesmo o garoto novo no chão! – Meu rosto se fecha em uma carranca, e ela ri ainda mais.

Contei sobre o "encontrão" de mais cedo para a Cris quando nós duas estávamos na fila da cantina, há poucos minutos atrás. Mas já estou me arrependendo amargamente de ter comentado.

— Você não vai esquecer desse dia, não é? Não sei porque fui te contar! 

— Não, eu não vou esquecer nunca. Com certeza deve ter sido hilário! – Ela começa a rir mais alto ainda, e eu apenas a ignoro, voltando a comer. — Queria ser uma abelhinha, só para ter estado lá na hora e visto tudo. Nunca achei que você seria dessas que se jogam nos garotos. Tem que treinar outro tipo de abordagem, amiga! Tenho certeza que essa daí não vai dar certo não – ela zomba, fazendo graça, e eu não consigo segurar a risada.

— Você é ridícula! – Sorrio e tomo um gole do meu suco.

Só a Cristine para me fazer rir do meu próprio desastre. Não que essa seja a primeira vez que isso acontece. A Cris é como um raio de sol na minha vida, que sempre me faz ver o lado bom das coisas, mesmo nos momentos mais difíceis. 

Eu adoro a Cristine.

Se existem almas irmãs, tenho absoluta certeza de que ela é a minha. 

Lembro do dia que nós nos conhecemos como se fosse ontem. Eu tinha acabado de me mudar para a capital de São Paulo, ainda estava de luto pela perda dos meus pais e me sentia completamente deslocada no mundo. Mudar de cidade, ter que morar com meus avós e frequentar um colégio novo, ainda mais sob circunstâncias tão tristes, estava sendo um dos momentos mais difíceis da minha vida. Foi então que a Cris se sentou do meu lado na sala de aula e começou a puxar assunto, com toda aquela excentricidade e alegria que ela sempre possuiu em seus um metro e cinquenta e cinco de altura.  

Do Que o Amor é Feito | Amores Platônicos 01Where stories live. Discover now