Prólogo.

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[PRÓLOGO]

20 anos atrás...

1900.

21:45pm. Domingo. Inverno.

Um dia frio em Sheerground, talvez o mais frio desde que começou o inverno neste ano. O céu estava diferente dos dias anteriores, coberto por nuvens bem escuras e densas, como se fosse chover. Dessa forma, a maioria dos habitantes da cidade já se encontravam em suas respectivas residências, ora os que ainda estavam na rua não era por opção, mas sim por necessidade, seja ela qual for. Os ventos fortes balançavam muito as árvores em volta da cidade, um vendaval como nunca antes visto. O inverno realmente havia chego e não iria embora nem tão cedo. Nos rádios se pediam para que todos permanecessem em casa e os que não estivessem, fossem imediatamente pois as chances de cair uma tempestade eram grandes. Entretanto, faça sol, faça chuva, alguns negócios não poderiam parar. Alguns cidadãos em específico sabiam bem disso. Outros, simplesmente não sabiam o que fazer.

– M-Mas que merda eu vou fazer agora? – Apavorada, Alice sussurrou para si, rangendo os dentes de tanto frio apesar de estar bastante protegida dele, da cabeça aos pés

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– M-Mas que merda eu vou fazer agora? – Apavorada, Alice sussurrou para si, rangendo os dentes de tanto frio apesar de estar bastante protegida dele, da cabeça aos pés. Ajoelhada no chão, com os olhos arregalados e o coração batendo forte, não conseguia desviar seus olhos daqueles dois bebês envolvidos por toalhas cobertas de sangue, no chão bem na sua frente. – Eu não posso simplesmente deixá-los aqui, afinal, a Lauren-...

– T-Tia Alice, cadê a mamãe? – Indagou assustada a pequena garota atrás de Alice, com as mãos apertando o próprio peito sob o efeito de angústia. – Ela vai ficar bem, não vai?

– A-Ah, é c-claro, minha pequenina. – Sem pensar muito para não deixar a menina ainda mais assustada, respondeu logo. Pegou os bebês na sua frente e deixou sob seus braços, virando-se para a pequena menina de madeixas escuras. – Vai ficar tudo bem, ok? – A mais velha esboçou um grande sorriso na intenção de acalmar a menor. – Veja, são seus irmãos... – Abaixou os braços para que a outra conseguisse ver melhor o rosto daqueles bebês que dormiam bem calmos, apesar de toda a situação. – Lindos, não são? - Abriu um sorriso ainda maior e olhou para aqueles irmãos, logo em seguida olhou para Cristal novamente. – Cristal? – Alice franziu as sobrancelhas ao ver a forma como a menor fitava os bebês. Ela estava com um olhar diferente... O suficiente para deixar Alice meio assustada com aquilo.

– Senhorita Edwards, precisamos da senhora aqui! – Exclamou uma das garotas de dentro do bordel o qual estavam em frente.

– M-Merda! – Bufou para si, balançando rápido a cabeça. – Olha, eu preciso que você me ajude, está bem? – Estendeu os braços em frente, para que a menor segurasse os bebês. – Preciso que você pegue seus irmãos e vá para trás do meu bord-... Da minha loja. Se esconda e não apareça para ninguém, está bem? Eu não vou demorar. Consegue fazer isso?

– E-Eu... – Cristal arregalou um pouco os olhos, mesmo sem entender pegou os bebês em seus braços, mesmo que pesado. Olhou para eles mais uns segundos, tentando entender o que estava acontecendo ali. – Tia Alice, eu não sei se eu c-... – Parou de falar ao subir com sua cabeça e ver que a loira mais velha já estava correndo em direção de seu comércio.


Cristal permanecia parada naquela rua, fria e deserta, sem sabendo o que fazer. Sequer conseguia mexer o seu corpo, como se estivesse paralisada. Toda sua atenção era para observar aqueles bebês em seus braços que dormiam como anjos. Completamente distraída que sequer reparou que havia começado a chover, uma chuva bem forte. Só reparou algo de diferente quando os bebês foram abrindo os olhos e começaram a chorar, devido à chuva estar caindo sobre seus rostos. Apavorada com aquela situação, Cristal começou a tremer, não conseguia sair dali, não conseguia ajudar Alice no que foi pedido. Simplesmente seu corpo não a obedecia, sua mente permaneceu confusa com tudo aquilo. Por quê aquilo tudo estava acontecendo? Por que havia sangue para todo lugar, inclusive nela mesma? E o mais importante, onde estava Lauren, sua mãe?


Depois do que viu em sua casa, Cristal só conseguia imaginar o pior, sua mãe estava muito ferida, sabia que as chances de ela sobreviver eram poucas – podia ser criança, mas a garota era muito esperta. Mas ainda assim, se recusava a acreditar na hipótese de que sua mãe... A sua mãe... Por quê logo a sua mãe, dentre tantas as outras que existem? Isso não era justo. Por quê ele... Logo ele, teve que fazer isso com ela? Estes e mais alguns pensamentos perturbavam a mente da criança, que não conseguia tirar os olhos daqueles bebês em seus braços – que não a incomodou nenhum pouco chorarem ou não. Em questão de segundos, seu semblante começou a mudar, suas sobrancelhas se franziram, seus olhos se cerraram, sua respiração ficou mais ofegante, apertando os bebês que foram chorando mais. – Eles... Foram eles...

Alguns minutos depois

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Alguns minutos depois...

– Desculpe a demora, minha pequenina. – Disse Alice, respirando aliviada enquanto abria a porta dos fundos de seu estabelecimento. – É que algumas dessas garotas não me dão descanso, sabe? – Riu descontraída, coçando a nuca. Porém ao não encontrar a criança lá fora, prontamente a chamou, não obtendo nenhuma resposta. – Cristal? – Chamou novamente, ainda esperançosa. Mas algo dentro de si não estava bem, um pressentimento ruim apertava seu peito. Tinha que achar a criança, de qualquer maneira. – Sou eu, a tia Alice, já pode aparecer! – Disse com um riso frouxo, não querendo transparecer tão preocupada.


Entretanto... Nada, permanecia o silêncio. Não demorou para que a Edwards começasse a procurar por todos os cantos, procurou atrás das caçambas de lixo, atrás dos entulhos, caixas velhas, procurou em tudo, mas não a encontrou. Com o coração batendo mais rápido do que nunca, correu para a porta de entrada e pouco se importou com aquela tempestade caindo sobre sua cabeça e correu em direção da onde viu Cristal pela última vez.

Gritou pela garota mais algumas vezes, mas ainda sim... Apenas o barulho da chuva reinou. Alice olhou em volta, querendo achar algo, qualquer coisa, uma pista sequer. "Será que ele... Veio atrás dela também? Ele não seria esse monstro... Seria?" pensou a dona do bordel.

Não querendo ficar ali parada, deu uns passos em frente, ainda olhando em volta, mas logo no primeiro passo, algo encostou em seu pé. Abaixou a cabeça para olhar e arregalou os olhos.


– Isso é...? – Eram os lençóis cobertos de sangue que cobriam os dois irmãos. Mas apenas os lençóis, as crianças não estavam mais ali. Ela rapidamente se abaixou e pegou os lençóis e correu em frente, procurando um rastro de sangue, qualquer coisa do tipo; porém, ao olhar com mais atenção a calçada na sua frente, via, de fato, pegadas de sangue mas que logo... Se desfazia por conta de toda aquela chuva. – N-Não! – Olhou para os lençóis sobre seus braços, percebendo todo o sangue escorrendo por eles também. Suas pernas bambas não seguraram mais seu corpo, caindo ajoelhada no chão. Abraçou forte aqueles lençóis e desabou em lágrimas. Fechou os olhos, com o coração borbulhando de culpa.


Por mais que Alice se recusasse a acreditar, seria inútil procurar pela criança agora, em meio àquela tempestade.

Cristal havia desaparecido, e com ela os seus irmãos, filhos de Lauren. 

Sheerground - A Era da ProibiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora