Gianluca, ainda petrificado, continuava a olhar quase sem piscar para o teto branco daquela iluminada sala de cirurgia.
Isadora está aqui... Isadora está aqui... - ele pensava, repetidamente, enquanto pensava desesperadamente em um modo para conseguir sobreviver e estar com ela novamente.
Algumas enfermeiras vestidas cirurgicamente continuavam a fazer testes e, agora, punham-se a preparar os equipamentos necessários para a operação, enquanto os cirurgiões se preparavam para entrar na sala. Os constantes barulhos dos aparelhos que ali ficavam o faziam pensar. E mais uma vez voltar no tempo...
Lá ele estava novamente. Sentado sobre a areia da Praia de Ipanema. Carolina decidira ir embora da festa de casamento quando esta estava prestes a acabar. Ele a levou de volta ao hotel, onde estavam hospedados. Ela se arrumou para deitar e logo adormeceu profundamente.
Gianluca decidiu sair. Não conseguiria pregar os olhos naquela noite. Muito menos com Carolina ao seu lado, na cama. Saiu do hotel e caminhou até a avenida da praia. Tudo estava quieto. Tudo era coberto pela escuridão da noite. Havia poucas pessoas que passavam por ali, que, juntamente a ele, lutavam contra a insônia. O que se ouvia era a música constante das ondas do mar. Ele tirou os sapatos e sentiu a textura da areia. Andou alguns passos e sentou-se perto de onde a água batia. Ele observava a grande lua cheia que conseguia iluminar o céu naquela noite e deixava a areia quente escorrer por seus dedos.
Então, tirou de seu bolso aquela mesma caixinha de veludo cor de vinho. Abriu-a e aquela mesma pedra lhe exibiu aquele brilho desafiador. Passaram-se quase dois anos desde que vira Isadora pela última vez. Já não havia esperanças para eles dois. Ele iria pedir Carolina em casamento naquela noite. Mas não iria ser feliz. E o destino conseguiu-lhe transmitir o recado, trazendo Isadora de volta para a vida dele. Trouxe-a de volta para onde ela nunca havia saído e jamais sairia.
A vida não tinha sentido se ele não tinha Isadora. Carolina poderia lhe dar carinho, filhos, momentos alegres, conforto... Mas ela nunca seria capaz de dar-lhe o amor que precisava. Nunca conseguiria trazer-lhe a felicidade completa. Aquele era o papel de Isadora. E era daquilo que ele precisava. Era aquilo que ele lutaria para conseguir.
Ele fechou a caixinha com o anel em seu interior e levantou-se da areia. Olhou para o céu e viu que ele já apresentava sinais de que o dia estaria vindo. Reuniu sua coragem e com todas as suas forças arremessou aquele objeto ao mar. Então virou-se e foi embora correndo, com um sorriso no rosto.
- Está pronto, Gianluca? - a voz do médico o despertou.
Gianluca abriu os olhos e encarou o cirurgião. Chegara a hora.
- Estou - convicto, ele assentiu.
Nos segundos seguintes a anestesia foi aplicada e Gianluca ficou inconsciente.
***
Subitamente o silêncio pairou sobre o corredor do hospital. Isadora, que estava até então parada no mesmo local, virou-se para os outros dois irmãos Cadore.
- Lorenzo eu quero ir com você até Taormina - falou Isadora - Você pode me levar até um lugar?
- Claro que sim. Antonio, você me liga se tiver alguma notícia?
- Ligarei. Boa sorte.
Já no carro, Isadora e Lorenzo não sabiam bem o que falar um para o outro.
- Carolina sabe sobre a doença? - Isadora perguntou, quando já chegavam em Taormina.
- No mesmo dia do término, Gianluca foi com o amigo dele até o apartamento dela e retirou todas as suas coisas. Ela não estava lá, então ele achou melhor não falar nada. Deixou a chave com o porteiro e esperou Antonio chegar para eles voltarem para a Itália. Quando o diagnóstico foi confirmado aqui, eu liguei para Carolina. Ela pareceu abalada e mandou melhoras para ele. Mas foi só isso. Nada mais. Só depois de duas semanas ela começou a ligar freneticamente para Gianluca, mas ele achou melhor não atender. Nunca mais falamos com ela.
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La Melodia Proibita
RomanceEm um hospital situado em uma velha cidade siciliana, um rapaz é obrigado a passar seus dias à espera de um transplante, em razão de uma doença rara no fígado. Após ter de conviver por dias com o que parecia uma interminável solidão, o rapaz finalme...