Capítulo 4

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Isadora e Gianluca dançaram junto à Helena, Lorenzo e Antonio durante toda a noite. Quando sobravam apenas algumas pessoas no pátio, Gianluca convidou Isadora para ir à praia com ele. Ela recriminou a si mesma ao aceitar. Mas foi isso o que ela fez, sem hesitar.

Eles seguravam os sapatos nas mãos e deixavam a areia entrar pelos dedos dos pés. Caminhando lado a lado, eles conversavam:

- Você nasceu aqui? - Isadora perguntou.

- Sim, sou natural de Taormina - ele sorriu com orgulho - A maioria da minha família é daqui da Sicília. E você, nasceu no Rio mesmo?

- Não, eu nasci em Madri.

- Em Madri? - ele não conteve o espanto.

- Sim - ela riu da expressão dele - Minha avó materna era espanhola, mas veio com a família logo cedo para o Brasil. Ela teve minha mãe e a tia Alice, mas não manteve contato com a família na Espanha. Já o meu pai viveu em Madri até os vinte anos, quando ele veio ao Brasil com meu tio e conheceu a minha mãe. Foi muito difícil porque meu pai e minha mãe eram muito apegados à família. Então eles revezavam. Cada ano passavam em um país. E quando eu nasci eles estavam na Espanha.

- Mas aí seus pais voltaram ao Brasil e resolveram ficar por lá?

- Exatamente. Eles precisavam de estabilidade, agora que tinham uma filha.

- Deve ser difícil para seu pai ficar longe da família.

- Realmente é, mas ele sempre dá um jeitinho de ir para lá, principalmente agora, depois do divórcio. Eu é que não vou muito.

- Não?

- Eu só fui uma vez quando era pequena e outra no ano passado. Fiquei dez anos sem ver minha avó paterna.

- E como foi voltar lá depois de todo esse tempo?

- Foi estranho no começo. Eu não lembrava de muita gente. Mas depois foi difícil dar adeus. Só sei que não quero ficar mais tanto tempo longe de lá.

- A família realmente é a coisa mais importante. Eu acho que uma pessoa pode se desprender de qualquer coisa, exceto de sua família. Por mais que você se afaste, por mais que o tempo passe, o sangue continua a unir-nos e isso ninguém pode mudar - ele tomou fôlego antes de continuar - Eu já vi muitas coisas acontecerem com a minha família, mas sempre quando alguém realmente precisou de ajuda, todos deixaram as diferenças de lado e doaram de si o máximo que podiam. E eu tenho certeza que faria igual por qualquer um.

Ela olhou para ele com carinho.

- O que foi? - ele perguntou ao notar seu olhar demorado e um tanto quanto surpreso.

- Achei bonito o que disse.

- O que? Um homem não pode dizer o que sente? - ele sorriu.

- No Brasil os homens não costumam dizer o que sentem com tanta facilidade.

- Então bem vinda à Itália, Isadora!

Ela sorriu.

- Por que seus pais se separaram? - ele olhou para ela nervoso, temendo uma enorme intromissão - Se não quiser responder, não precisa.

- Não, tudo bem - ela começou - Eu acho que a relação deles nunca foi algo mais forte que uma grande amizade. Eles se separaram há dois anos, e até hoje se falam todos os dias.

- E você ficou bem com isso?

- No começo achei bem estranho. Não conseguia imaginar uma vida diferente daquela que vivia, nem mesmo imaginar-me morando sem o meu pai. Mas o tempo passou e vi que as coisas não mudaram tanto assim.

La Melodia ProibitaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt