Capítulo 23

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Gianluca se encontrava naquele mesmo corredor, agora voltando para seu quarto. Quando ele terminou de cantar, Stella, já deitada, com os olhos fechados, disse um "Obrigada. Vou me lembrar para sempre." E então, ela dormiu. Uma lágrima escorreu pelos olhos de Gianluca enquanto ele ainda segurava a mãozinha frágil dela. Já não havia mais história para contar-lhe, mas ele inventaria milhares delas, só para tê-la ao lado dele, ouvindo em silêncio e dando-lhe toda atenção, como costumava fazer.

Gianluca resolveu virar à direita e entrar, pela porta de vidro, no jardim do hospital. Ele deixou o ar puro da noite entrar por suas narinas, caminhou até o banco, onde se sentava todas as manhãs, para tomar sol, e se sentou ali uma vez mais.

Ele somente deixou o quarto de Stella quando o pai dela chegara para acompanhar a filha. Ficou observando-a dormir; a pele pálida, os cílios longos; a respiração lenta, que fazia seu abdome subir e descer vagarosamente...

Stella se tornara uma parte muito importante dele. Era como se fosse sua filha. Era justamente aquilo que ele gostaria de fazer no futuro. Ele sempre sonhou em ter filhos e construir uma família. Porém já não podia mais pensar sobre aquilo. Parecia um futuro muito distante e talvez impossível para ele.

Fechou os olhos e se lembrou do Hotel Cadore. O lugar onde passara os melhores momentos de sua vida. Sentiu falta de sua infância; sempre correndo por todos os cantos e separando as brigas dos irmãos. Ah, como sentia falta... sentia falta de toda a sua família. Seu pai, sua mãe, os irmãos, o avô e sua avó, que já não poderia mais voltar. Ele nunca mais veria Angela Cadore. Não havia se acostumado com aquela ideia ainda. Como deveria ser a morte? Será que tudo acabaria ali? Ou será que aqueles que eram bons iriam para um lugar paradisíaco onde não havia mal nenhum? Será que após as pessoas morrerem, elas poderiam ver os mortais? Será que elas poderim voltar à Terra? Reencarnar em outros corpos?

Para ele, sua avó ainda estava por aí, em algum lugar do mundo. E ele ainda esperava o dia em que ela voltaria e todos a abraçariam, livrando-se da saudade. Tudo o que queria era ter tido mais tempo com ela. Mais tempo... com todos.

Ele não estava certo. Sua família, seu bem mais precioso, estava longe dele, e agora ele se sentia sozinho mais uma vez. Se ele morresse, qual seria a última lembrança que teriam dele? Com certeza não seria uma boa lembrança. Lembrariam-se da mentira. Fizera a coisa errada desde o começo, agora ele percebia e impulsionava-se a tomar uma decisão. Chegara a hora de dizer a verdade.

***

Dezesseis. Dezesseis horas novamente esperando. Esperando, com a ansiedade pesando no coração, para chegar em solo italiano. Ela jurara nunca mais voltar... e agora ali estava, sobrevoando mares de um azul intenso e terras verdejantes a se perder de vista. Isadora se lembrava daquela última vez. Parecia que havia passado séculos. Não acreditava que estava voltando... mais uma vez para sua amada Itália.

Somente depois de ter passado horas que deixara o Brasil, Isadora percebera o erro que cometia. Ficara desesperada quando Lorenzo dera à ela, aquela espantosa notícia. Não pensou duas vezes e disse que queria vê-lo. A única certeza que apareceu dentro dela, era de que precisava vê-lo. Ela não pensou em mais nada. Não pensou em Carolina...

O que ela estava fazendo? Qual era a intenção de Lorenzo ao contar à ela? Qual seria a utilidade dela lá? Carolina com certeza estaria ao lado dele vinte e quatro horas por dia, como ele próprio fizera quando ela sofreu o acidente. O que ela faria quando encontrasse com Carolina? O que diria à ela? O que Lorenzo iria dizer à ela? Somente agora Isadora pensava em tudo aquilo. E tudo a atormentava como um insulto por não ter pensado em nada antes.

Mas Lorenzo havia falado que Gianluca somente contara da doença para ele e Antonio. Não havia tocado no nome de Carolina. Será que ele não havia contado a ela? Então onde ela estaria? No Brasil, esperando ele voltar de uma visita à família? Não, aquilo era improvável. Isadora somente conseguia imaginar Carolina ao lado dele, como estava naquele casamento. Somente conseguia imaginar a cena embaraçosa que viveria quando chegasse em Catânia. Quando Lorenzo acordou, Isadora resolveu manter-se em silêncio. Não haveria mais como voltar atrás.

La Melodia ProibitaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora