Naquela calorosa tarde de verão no Rio de Janeiro, a campainha soou na casa da família Rodriguez por volta das 17h. Isadora, do segundo andar da casa, pôde ouvir a campainha tocar, porém, nem deu importância. Estava concentrada demais nos cálculos que estava fazendo já há mais de uma hora. Alguns minutos depois, Ellen subiu até o quarto da filha. Tocou na porta e a abriu.
- Isadora, tem visita para você.
- Para mim? - ela estranhou, parando o que estava fazendo no mesmo segundo.
- Sim - Ellen lhe enviou um sorriso - Coloque uma roupa e desça.
Isadora fez o que a mãe disse. Tirou o pijama que costumava usar em casa e colocou um shorts e uma bata fresca. Quem estaria ali? Não estava esperando por ninguém. Ficou curiosa e resolveu descer as escadas, porém quase caiu de um dos degraus quando contemplou quem a esperava no andar de baixo.
- Lorenzo... - o olhar pasmo estendeu-se por longos instantes, até trocar de lugar com um lindo sorriso.
- Isa... - Lorenzo também não conseguiu esconder a felicidade que tinha ao vê-la novamente.
Isadora desceu rapidamente os degraus que restavam e correu dar um abraço no amigo.
- Minha nossa, o que você está fazendo aqui?! - Isadora perguntou, abismada, ainda abraçando-o.
- Eu vou deixar vocês a sós - Ellen anunciou antes de se retirar.
Os dois se separaram e olharam para Ellen, que ia se afastando. Quando Isadora olhou novamente para Lorenzo, seu sorriso tinha desaparecido.
- Eu preciso conversar com você, Isadora.
Isadora ficou em silêncio. Um arrepio percorreu sua espinha quando Lorenzo a olhou nos olhos.
- O que aconteceu, Lorenzo?
- É sobre o Gianluca. Podemos nos sentar?
- Claro - Isadora sentiu as pernas ficarem fracas ao conduzi-lo ao sofá na ampla sala de visitas.
Ela se sentou de frente para ele em uma poltrona.
- Eu queria ter vindo aqui antes para visitá-la, Isa. Estava morrendo de saudades - ele começou, antes de desviar o olhar - Me desculpe, mas a notícia que eu tenho para lhe dar não é boa.
Isadora percebeu que seu corpo se preparava para sentir uma forte sensação. A seriedade no tom de voz de Lorenzo fazia-na recordar instantaneamente das angustiantes lembranças do passado, onde suas sensações eram obrigadas a mudar constantemente da alegria para a dor. Passava a assegurar-se de que viveria agora mais um dia como aqueles. O medo novamente começava a assombrá-la, tornando-se maior a cada novo segundo.
- Diga-me o que está acontecendo - a voz dela soou ansiosa e preocupada.
- Gianluca está doente.
- Como assim doente?
- Ele tem uma doença avançada no fígado.
Isadora fechou os olhos. Um silêncio pairou no ar e ela pensou ouvir os batimentos fortes e acelerados de seu coração se dissiparem. Ela olhou para suas mãos e viu-as tremer. Um espelho poderia confirmar as suspeitas que ela tinha de ter perdido a cor. O ar tornou-se rarefeito, a imagem desfocada ao abrir os olhos. Ela respirou fundo e engoliu as lágrimas antes de continuar:
- É câncer? - a voz dela soou falha.
- Não, mas os padrões da doença evoluíram bastante nos últimos meses - Lorenzo falava com calma - A doença de base se chama hepatite auto-imune... basicamente, o sistema imunológico dele reconhece as células do fígado como estranhas. Então, isso acaba gerando inflamações crônicas e cicatrizes. O caso dele era assintomático até então, mas pela ausência do diagnóstico e do tratamento, a doença acabou evoluindo para cirrose hepática. Agora ele está internado no hospital, recebendo um tratamento intensivo, mas há alguns dias atrás recebi a notícia de que o tratamento não está progredindo.
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La Melodia Proibita
RomantikEm um hospital situado em uma velha cidade siciliana, um rapaz é obrigado a passar seus dias à espera de um transplante, em razão de uma doença rara no fígado. Após ter de conviver por dias com o que parecia uma interminável solidão, o rapaz finalme...