Capítulo 02 - Eu disse isso em voz alta?

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E aqui estamos nós, melhores amigas até hoje, mais grudadas que chiclete em asfalto – não é a melhor das comparações, mas acho que deu para entender a extensão da nossa amizade.

O que mais contribuiu para essa união foi o fato de sermos colegas de sala durante dois anos seguidos. Mas nesse ano (logo no último ano do ensino médio das nossas vidas!) caímos em turmas diferentes. 

Agora só temos 20 minutos de intervalo para conversar aqui no colégio, e o plano é tentar aproveitar esse tempo o máximo possível, já que moramos longe uma da outra e a Cris passa a maior parte do tempo livre ajudando os pais no mercado da família.

— Você não sabe o que eu descobri hoje de manhã! – ela fala, e só então me dou conta de que acabei me perdendo em pensamentos.

— O quê? – pergunto, voltando a comer o pastel delicioso, já sabendo exatamente o assunto que ela vai começar a puxar só pelo brilhinho suspeito no fundo dos seus olhos verdes.

— Acredita que hoje surgiu um boato nos sites de fofocas de que o James Prince está tendo um caso com aquela nova cantora de música Pop? – indaga, se referindo ao cantor teen que ela é obcecada desde que ele lançou a primeira música. — Só porque viram ela entrar no camarim dele depois do show de ontem em Toronto. Tenho certeza que não é verdade. Eles dois nem combinam! – afirma ela, com toda a convicção do mundo, fazendo uma careta de desdém.

— Estava mexendo no celular durante a aula, Cristine? Perdeu a noção do perigo? – indago em tom de censura. 

Uma das maiores regras do colégio é nunca usar o celular enquanto um professor estiver na sala de aula. Já perdi as contas de quantos celulares de colegas de turma já foram confiscados por conta disso. Nunca aconteceu comigo, claro. Mas também não é como se houvesse motivos para que eu precisasse mexer no meu celular de tela rachada, cheio de bugs e bateria viciada durante as aulas. A única distração que ele me proporciona é o estresse, então costumo evitá-lo o máximo possível.

— Era aula de filosofia, e você bem sabe como a professora Maria é. Acho que ela pensa que a vida monótona dela é super interessante, já que só fala disso o tempo todo. Mexer no celular é só um método de sobrevivência. 

— Ainda bem que ela não é professora da minha turma esse ano. 

— Você tem sorte, isso sim! Além do mais... – Cris para de falar quando uma garota passa ao lado da nossa mesa. — Alice, isso é pudim de chocolate? – Quase posso ver seus olhos reluzirem ao olhar o pote plástico com conteúdo marrom na mão da garota ruiva, que só balança a cabeça em concordância e continua a andar. — Mano do céu, como eu não vi isso na cantina? – Ela se levanta do banco. — Volto em um segundo.

E antes que eu possa dizer alguma coisa, Cristine sai quase saltitando de alegria em direção a porta da cantina.

Dou risada da sua obsessão por chocolate e como o último pedaço de pastel. Limpo a boca com um guardanapo e o jogo na bandeja azul à minha frente, que já tem meu copo de suco vazio. 

Sem nada para fazer até ela voltar, apenas relaxo e coloco os cotovelos na mesa, escorando o queixo numa das mãos.

Depois de toda a correria do começo desta manhã, as coisas agora estão na mais perfeita tranquilidade. Até o clima está ajudando no meu bom humor: não está nem quente nem frio, com o céu ostentando nuvens brancas e grandes o suficiente para diminuir os raios do sol de verão, e até um ventinho fresco balança os fios do meu cabelo desfiado e cheio de frizz de vez em quando. 

Surpreendente, até o pátio está mais silencioso que o normal, sem alunos gritando, nem garotos baderneiros andando de skate clandestinamente ou jogando bola.

O que mais pode acontecer de ruim depois das 10 da manhã? Acho que daqui em diante as coisas não serão tão péssimas para mim pelo resto do dia. Ao menos é o que eu espero.

Minha atenção é tomada quando vejo Paulo, junto com dois de seus amigos, saindo pela porta da cantina e se sentando numa mesa alguns metros à minha frente. 

Observo enquanto meu crush sorri abertamente, totalmente entretido em uma conversa animada, e eu sorrio junto inconscientemente. 

Ele é tão lindo!

Já decorei cada traço dele só de observá-lo de longe: olhos azuis levemente repuxados nos cantos, nariz reto, rosto levemente arredondado. O cabelo escuro como piche, que ele sempre mantém em um penteado para cima numa "bagunça arruma", é uma das coisas que mais gosto nele. Mas nada me tira mais o fôlego do quê o fato de que, sempre que ele ri, como está fazendo agora, covinhas fofas aparecem em suas bochechas.

Alguns traços nele me fazem acreditar que Paulo é um descendente bem distante de japonês, ou quem sabe meio coreano. 

Ele é o primeiro garoto por quem sinto alguma coisa, no sentido romântico. O máximo que tive antes disso foi um beijo de um ex-colega de turma, que aconteceu em um jogo de verdade ou consequência numa festa da sétima série. Não foi um bom primeiro beijo – na verdade, foi uma experiência meio esquisita e constrangedora, mas eu acho que é assim para quase todo mundo.

Me apaixonei pelo Paulo no meu primeiro dia de aula aqui no colégio. Lembro desse dia como se fosse hoje. Na época, eu era a novata na cidade que tinha chegado algumas semanas depois do início das aulas e estava totalmente perdida sobre onde deveria ir ou com quem falar. Ele percebeu isso e, gentil como é, me ofereceu ajuda, me acompanhando até minha sala, que coincidentemente era a mesma que a dele. 

E pronto, eu estava apaixonada. Simples assim. 

Nesses quase três anos que se passaram continuamos sendo colegas de turma, mas nunca sequer chegamos perto de ter outra conversa. Eu nunca tive coragem de ser a primeira a puxar assunto. Infelizmente, sou introvertida e fechada demais para tomar esse tipo de atitude. 

Viver um amor platônico é tão... cansativo. Não é nada romântico ou emocionante, como os livros que leio gostam de retratar. 

"Paulo, espero que um dia eu consiga te falar que gosto de você", suspiro sonhadora e levemente deprimida.

— Então você gosta de conversar sozinha, Heloísa? – Meu coração falha uma batida ao ouvir a voz cheia de sarcasmo atrás de mim.

Me viro lentamente, dando de cara com um par de olhos castanhos adornados por um óculos de grau me fitando de forma divertida. 

Sinto meu sangue gelar nas veias.

Eu disse isso em voz alta???

Ferrou!

Sim, gente, o capítulo terminou na melhor parte

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Sim, gente, o capítulo terminou na melhor parte. Não me odeiem! A intenção é só dar mais emoção para a história... hehe

As repostagens dos capítulos ocorrerão todo sábado, com dois ou três capítulos por semana (dependendo de quantos eu já tenha pronto).

O que acharam da Cristine?

Só nesses dois capítulos vocês já conheceram 5 personagens importantes do livro...

Não esqueça de deixar seu voto!!!

Beijinhos e até o próximo sábado ♡

Datas das versões:

03/10/2020

02/04/2022

Do Que o Amor é Feito | Amores Platônicos 01Where stories live. Discover now