Os criados da residência onde Dawson e Marianne estavam instalados receberam um código de conduta muito simples, que se resumia em dois seguimentos principais: não questionar de maneira leviana as decisões dos amos, e não receberem ninguém que não fosse estritamente convidado. Esta regra do proprietário, era primordialmente necessária para que mantivesse a ordem e o mínimo de paz em sua vida.
Estando livre de todo e qualquer questionamento, o senhor da casa pode se deliciar em seus devaneios alcoólicos madrugada adentro. Os pobres, que se preocuparam em velá-lo de forma oculta, puderam atestar com clareza a repetição interminável de seus lamúrios maçantes e alguns dizeres desconexos. Aconselhava-se consigo mesmo, em um lamento que somente ele compreendia. Decerto, não houve ninguém que se atreveu a estender-lhe a mão, deixando-o "às traças" conforme a embriaguez progredia. Quando já não mais podia ficar de pé, arrastou-se, aos tropeços, escada acima, pondo-se a arranhar a passagem da porta, sem êxito algum em abri-la.
Por fim, depois de muito esforço e persistência, conseguiu adentrar no aposento, onde despencou, tal qual uma fruta apodrecida, sobre o conforto dos lençóis tão macios quanto o colchão sob este.
Muito antes da plena vontade dos amos de descerem e ocuparem, com afetação, a sala de desjejum, escutou-se um chamado na porta central da residência. Uma das criadas, prontamente, fora avisar aos senhores que havia uma visita lhes esperando no andar de baixo.
— Por qual motivo me perturbas? — Marianne indagou muito aborrecida, quase bocejando. Os olhos ainda estavam semiabertos, transparecendo sua sonolência. — Por Goethe! Já havia dito que não receberemos ninguém, ainda mais a essa hora.
— Perdoe-me, senhorita, pois pensei que vossa irmã não estava inclusa neste desejo. Devo pedir para que vá embora?
— Não creio! — A dama manifestou uma nítida surpresa em seu tom de voz. — A mademoiselle d'Anjou está aqui?! Diga que logo irei encontrá-la. — E então estampou um sorriso travesso. — Não fale sobre o conde. Será uma surpresa para ela.
A criada fora dispensada com rapidez, e a senhora da casa pôs-se a falar, quase cantarolando: — Querido, acorde. Acorde, Phillipe! Não acreditarás no que tenho para dizer... — Enquanto afirmava, cobria o pescoço de seu amado com carícias.
Ao despertar, um tanto a contragosto, Dawson sentiu uma dor pungente e latejante invadindo suas têmporas... Certamente por conta dos miseráveis excessos da bebida. Pediu para que seu bem-querer fizesse silêncio, e que voltassem a dormir, afinal, ainda era muito cedo.
— Oh, não podemos dormir agora, meu bem! Temos visita — ela comentou com um grande sorriso em seus lábios pálidos. — Adivinhe quem é!
— Visita? Não receberemos ninguém, ma chérie. Sabes os motivos.
— Sim, eu sei... — Seu rosto, então, exibiu uma expressão pesarosa, que sempre caracterizava suas tentativas de amolecer o coração do homem. — Trata-se de minha adorada irmã, a senhorita Fanny. Lembra-se dela? Oh, ela ficará tão feliz ao vê-lo!
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The Secrets of a Little Lady
Historical Fiction𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 𝐎𝐅 𝐀 𝐋𝐈𝐓𝐓𝐋𝐄 𝐋𝐀𝐃𝐘 | 𝗮𝗻 𝗼𝗿𝗶𝗴𝗶𝗻𝗮𝗹 𝗻𝗼𝘃𝗲𝗹. ⋆ ࣪. O vasto leque de infortúnios da mal-aventurada Srta. Liliana d'Alembert, teve o seu considerável e infeliz estopim, devido à concretização de seu matrimôni...