The Secrets of a Little Lady

IV

"Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,

Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento;

Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro

— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro; (...)"

de Azevedo, Álvares. "Lembranças de Morrer."

Um amanhecer nublado e insípido, aparentou o prelúdio quase inegável de mais um dia revolto em chuva. O som da carruagem partindo foi ouvido pela madame antes mesmo da aurora. Ela soube que se tratava de Lord Dawson, que em seu mais afetado orgulho, não a pôs a par do paradeiro tomado durante a viagem. "Insensato e egoísta! Como podes um cristão agir com tamanha imprudência?", pensou consigo. Tendo em vista a estranheza da causa que o fizera se apartar, ficou temerosa em comunicar isto aos seus verdadeiros patrões, pois conjecturava sem provas que o Sr. Rutherford não existia.

Em um ato de obstinação, que podia muito bem ser julgado como um belo escape de consciência, invadiu sem rodeios o gabinete do amo em busca da epístola desconhecida. A princípio, nada irregular foi notado. Dentro das gavetas havia diversos documentos com valores transcritos em espécie, que a madame supôs tratar-se das despesas da propriedade e de gastos supérfluos. Nada disto foi alarmante ao seu entendimento, exceto uma escritura em nome dono da casa. Ao que parece, tratava-se de um belo château na Champs-Élysées: a esplêndida avenida da Cidade Luz. Aquilo deixou-a intrigada. Embora não fosse errado possuir uma propriedade com tamanho potencial, quando já se tem uma residência fixa... qual seria a finalidade desta, em particular? Não era de conhecimento público o desejo de retornar a França, o que seria muito difícil, pois, toda a independência como um legítimo senhor que tanto ansiava fora estabelecida na Inglaterra. Percebendo a gravidade e as possíveis consequências de sua ação descabida, a madame guardou todos os documentos revistados com uma minúcia de cuidados. Para que não ficasse evidente ao amo que foram removidos furtivamente do lugar onde os deixara.

O dejejum ocorrera na mais perfeita bonança. O céu turvo e os ventos afoitos, que sacudiam as urzes frente à gelosia, não seriam capazes de aplacar a tranquilidade que emanava na casa, livre de humores cítricos e intolerantes. A ama parecia satisfeita e revigorada do mal-estar ocorrido na noite anterior e, de certa forma, a solidão lhe caia muito bem. Não se importaria de fazer todas as refeições sozinhas por um mês ou um ano, pois, estava exultante com a própria companhia agradável. A madame não desfrutou da ocasião com a mesma imparcialidade, uma vez que sua consciência a atormentava. Ela não sabia se realmente agradou os seus contratantes com o único relato feito, talvez, fora crítica demais nas colocações. Decerto, Dawson não recebera nenhuma carta dos pais. Tendo em vista, que as correspondências, quase obrigatoriamente, teriam sido retidas em sua posse antes de chegarem ao destinatário final.