VIII

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Em paralelo ao amanhecer caliginoso de Dawson, as damas de Londres, tiveram o seu dejejum saciado em encantos e deleites. A Sra. Hall se perpetuara mais uma vez como uma excelente anfitriã e companhia, ela pediu para que o cozinheiro da casa preparasse uma infinidade de iguarias francesas, — em particular — os magníficos doces. Dentre os mais apreciados estavam as tartelettes sucrées, macarons, madeleines, mille feuille e baba au rhum, acompanhados de um boníssimo champanhe com morangos.

 Dentre os mais apreciados estavam as tartelettes sucrées, macarons, madeleines, mille feuille e baba au rhum, acompanhados de um boníssimo champanhe com morangos

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gifzinho meramente ilustrativo.

O itinerário do dia foi marcado pela esperada visita à madame de Poitiers. A anfitriã e a sua acompanhante deixaram a residência por volta das onze horas da manhã, seguindo o trajeto até Mayfair. O calçamento das vias públicas dispunha de pedras largas, amontoadas de forma compacta, sendo o ideal para um maior conforto dos viajantes e do próprio condutor da carruagem. A pavimentação das ruas da capital inglesa era admirável aos padrões de urbanização europeus da época. Em meio ao trânsito constante de mercadores, carruagens com seus cavalos, cabriolés, comerciantes, parlamentares, estudiosos e todo o tipo de gente que seja passível a atuação, a altíssima taxa de criminalidade e pobreza também emanava junto a fumaça do carvão, — a névoa — que poluía veementemente os ares da cidade, tendo o seu ápice nos meses mais gélidos do inverno rigoroso. Na visão de muitos interioranos e estrangeiros, a velha Londres era um antro abominável para os vícios e a imundície. Sendo estes, mais agravados nas regiões paupérrimas entre St. Giles e Convent Garden com as suas ruas estreitas em um amontoado de bordéis, batedores de carteira, mendigos, meretrizes, comerciantes empobrecidos e criminosos de alta relevância no meio.

Em contrapartida, Mayfair era um bairro deveras elegante e dispendioso. Poucos são os afortunados que conseguiam se manter nesta região, tendo em Park Lane um dos endereços mais onerosos da aristocracia. A Sra. Hall, não mentira ao afirmar que o ateliê da madame era fabuloso. A cúpula de vidro central, era responsável pela iluminação solar que adentrava majestosamente ao ambiente, havia incontáveis estantes suspensas de madeira polida com tecidos de vários tipos e qualidades em sua maioria de cortes finos. Vendiam-se luvas, musselinas, penas, leques, sedas, perfumes, chapéus, fitas e as criações fantásticas da modista.

Dado a proximidade do baile, as damas de berço decidiram-se com idoneidade recorrer à madame e aos seus funcionários prestativos que faziam de tudo para atender as exigências caprichosas das senhoras. Era de conhecimento amplo dentre as mulheres "bem nascidas" a excelência do trabalho da madame, partindo do princípio de que cada peça era única. Não havia repetições nos modelitos à la Poitiers, o que concebia exclusividade ao ego afetado de cada uma das damas que se dispunham a pagar um valor honroso às suas imposições. Lady Liliana e a Sra. Hall, foram atendidas com toda a atenção necessária desde o momento em que entraram na loja. Algumas conhecidas da Sra. Hall a cumprimentaram brevemente, enquanto se intrigavam com a presença da condessa. Beatrice apresentou uma delas à Liliana, de modo a sanar a curiosidade exagerada da mesma.

— Oh! É um prazer imenso conhecê-la, Lady Dawson! Estarás conosco no baile da semana vindoura? — indagou a senhora, sem demonstrar nenhuma discrição.

— Decerto que sim, Sra. Belmont! — respondeu alegremente.

— Milady, já escolhera os tecidos? Nunca a vi aqui antes... Oh, Beatrice! Por que não me dissera que estás com visitas?

— Lady Dawson chegou ontem a minha casa, Sra. Belmont. Creio que não houve oportunidades para dizer-lhe.

— Ontem?! Por Deus! E já resolveras arrastá-la para as compras, Sra. Hall? — expressou um risinho escandaloso, mas curiosamente espontâneo. — Mas não a culpo. Vossa amiga viera em um momento excelente. Céus! Estou ávida para desfrutar da companhia amável dos cavalheiros.

— O Sr. Belmont estará presente? — observou a Sra. Hall em um tom divertido, e a falta de cordialidade da interlocutora não a surpreendia mais.

— Ora, Beatrice! Isto não é importante. Ele gosta de ver a minha felicidade, não é à toa que faz tudo que peço — sorriu satisfeita. — Em verdade, creio que não retornará a tempo. Charles está em uma viagem de campanha e sinceramente, imagino que isto seja um tédio!

— É possível que seja... — discordava, no entanto, já havia se cansado de tentar explicar por diversas vezes a importância da situação.

— O Sr. Hall também entrará para esta vida tediosa, estou certa? — Antes que a interlocutora pudesse responder algo, ela prosseguiu. — E o vosso esposo, milady? Está acompanhando-a nesta viagem?

— Oh, não! Ele está em uma viagem de cunho pessoal.

— "Pessoal", como assim? — questionou intrigada. — Milady, permites isto?

— Sra. Belmont, creio que Lady Dawson não possui muitos detalhes para lhe dizer acerca deste fato — lançou sobre ela um olhar "de corte" para que encerrassem o assunto de uma vez.

A senhora Caroline não se prolongou com a 'nova amiga' o tanto que gostaria, mas em sua concepção já eram íntimas. Lady Dawson e a Sra. Hall, levaram mais algumas horas para escolherem todos os apetrechos necessários para a confecção primorosa das peças, deixando a loja com a garantia da rapidez e qualidade do serviço. A condessa não teve a sorte de conhecer a proprietária naquela ocasião, entretanto pode vislumbrar com os seus próprios olhos o esplendor e o requinte do estabelecimento.

Os poucos instantes que desfrutaram na companhia da Sra. Belmont, foi o bastante para ocasionar alguns risos e comentários espirituosos acerca de sua intromissão. Acaso fossem rígidas com os pormenores da etiqueta, menosprezariam a pobre alma sem nenhuma piedade.

The Secrets of a Little LadyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora