VI

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Cumprindo com o que fora prometido, a Sra. Hall enviou uma de suas carruagens para buscar a célebre convidada. O percurso correu demasiadamente tranquilo e agradável para Lady Dawson, que pode desfrutar da companhia de Kant em suas meditações filosóficas. Apreciando com graça, o panorama estonteante e pouco conhecido por ela, digno da perfeição de uma obra prima: árvores frondosas, magníficas em altura e imponência. O aroma perfumado dos prados verdejantes, iluminados pelo céu límpido e a brisa cálida, muitíssimo aprazível a paz do espírito.

Próximo ao condado de Hampshire, a viagem foi interrompida em virtude da troca dos cavalos que os possibilitou um descanso breve, mas ainda assim adequado. Esta ação foi prudente por conta da distância acentuada entre o condado de Dartmouth e Londres, mesmo que creditasse algumas horas ao trajeto que, naturalmente, já era demorado. O desamparo de Lady Dawson promoveu certa desconfiança no dono da estalagem, também responsável pela guarida dos animais. Entretanto, ao negociar com o cocheiro dos Hall e ser informado a respeito do título da forasteira e o seu parentesco legítimo com os Dawson, toda e qualquer dúvida foi desfeita por meio de cortesias artificiosas e comentários garbosos à família da dama errante.

Por fim, a carruagem chegara ao desenlace de seu rumo prestes ao início da refeição noturna. O que gerou uma insatisfação momentânea à anfitriã, visto que, não poderia saber com rapidez dos pormenores da viagem e uma boa parte dos acontecimentos mais recentes no cotidiano da estimada amiga.

A residência dos Hall não desapontava em nenhum quesito ao que diz respeito à sua beleza e refinamento. O estilo neoclássico creditava suntuosidade e requinte aos ambientes, que eram bem ventilados e luminosos. Todo o projeto arquitetônico esbanjava bom gosto e distinção, provocando uma nostalgia calorosa nos pensamentos ditosos da convidada, que não mediu empenhos ao expressar sua admiração sincera aos anfitriões, que faziam de um tudo para agradá-la com delicadeza e prontidão. A Sra. Hall apresentou à Liliana o quarto em que ela ficaria instalada, enquanto os criados faziam a acomodação dos baús da viajante e de outros bens pessoais no aposento. O quarto era amplo e suntuoso, com belas cortinas de veludo azul, dossel e uma vista fascinante para o Green Park: esplendidamente adornado em mesmo feitio e pompa dos outros cômodos que vira. Os senhores da casa a acompanharam por um "passeio" efêmero, que tinha o intuito de mostrar-lhe as salas posteriores, à medida que esperavam o término dos preparativos para a ceia que seria ofertada a recepção de Lady Dawson.

O jantar tivera o seu início mais que proveitoso, com iguarias numerosas e incomparáveis ao paladar. A delicada sopa à La Reine, acompanhada pelo apetitoso pernil de carneiro cozido ao molho inglês e o peru recheado com castanhas frescas, arrancaram suspiros e receberam uma aprovação unânime dos presentes. Os licores e champanhes servidos durante toda a refeição, também foram um dos maiores responsáveis pelos risos descontraídos e uma felicidade verdadeiramente concreta.

— Lady Dawson, como o conde de Dartmouth está? Ele aceitou de bom grado a vossa viagem?! — indagou a Sra. Hall. — A princípio, John me dissera para convidá-lo... No entanto, creio que ficarás mais sossegada sem a companhia dele.

— Meu amor... Não fales isto — ele contestou brevemente. — Não interpretes mal as palavras de Beatrice, milady. A estima que ela nutre por vossa pessoa, tem anulado a imparcialidade que a situação exige.

— Não se preocupes, Sr. Hall! De fato, sinto-me mais tranquila sem a presença de Lord Dawson... Não sei como ele está. Partiu subitamente para a Suíça após uma desavença funesta que tivemos.

— Para a Suíça? Sabes o motivo ou ele apenas saiu?

— Apenas saiu! Sem explicações plausíveis. Se fora, sabe-se Deus para onde! Em meio aos seus insultos, cuspiu que voltaria dentro de um mês ou algo assim.

The Secrets of a Little LadyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora