36- Maus hábitos

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Quando Harry me soltou, eu estava infinitamente mais calma, mas ele parecia tenso. Eu queria perguntar o porquê, mas tinha medo da resposta, eu não precisava de mais alguma informação que me causaria pânico. Ele deve ter percebido em meu olhar, pois deu um sorriso fraco com um aceno de cabeça, como se dissesse que estava tudo bem.

Eu era uma covarde, era isso que eu era. Eu passei a gravação inteira pensando e ensaiando um discurso no qual eu abriria meu coração de uma vez por todas, para expor o que eu sentia e esperasse a resposta. Meu banho foi composto pelos mesmos pensamentos. Mas quando Harry abriu a porta do seu trailer com a blusa preta de botões sobre a camiseta branca, eu soube que não conseguiria.

O buraco se instalou no meu estômago e meu relacionamento deturpado com Rodrigo passou como um filme na minha cabeça, me fazendo ficar levemente tonta e enjoada. Eu achei que eu ia vomitar. Pensar em Harry me rejeitando causava o mesmo sentimento, mas me imaginar em qualquer relacionamento era muito pior.

Eu estava quebrada.

Eu não estava mais com Rodrigo e me sentia grata por ter me livrado de algo que me fazia tão mal. Mas por mais que eu me sentisse livre, eu não conseguia ignorar o que Rodrigo me disse. Eu era mesmo esse lixo? Eu era mesmo uma vagabunda? Quem iria querer uma pessoa como eu? Por que Harry ficaria com alguém como eu? Ele tinha Liz Adams em seus pés. Loira, linda e uma dama por natureza.

Parecia idiota, mas havia um peso nisso para mim. Maior do que eu gostaria que fosse. Eu não tinha classe, eu não gostava de salto alto e eu não fazia parte do mundo dele. Eu não parecia com qualquer namorada que Harry já teve. Todas impecáveis e modelos.

E o Louis? Meu Deus, Louis!

Nenhuma delas tinha mais personalidade que ele, nenhuma delas era mais bonita que ele – me arrisco dizer – e nenhuma delas tinha a admiração de Harry como Louis. Eu incluída.

Era realmente muito difícil manter minha autoestima intacta quando se tratava de Harry. Eu não conseguia me colocar no mesmo nível que ele e acabava me comparando com todos a sua volta, sempre chegando a conclusão que era impossível ele ter interesse por mim.

Eu era bonita, mas nada demais. Eu tinha um corpo legal, mas nada demais. Eu tinha uma personalidade, mas obviamente nada demais. A única coisa que parecia se destacar em mim era meu talento, mas isso não é nem de longe suficiente para uma pessoa querer estar com você.

Então eu arreguei. Eu mudei completamente o meu discurso. Ele não era de todo mentira, eu realmente tinha medo de perdê-lo como meu amigo e eu não queria que as coisas mudassem entre a gente, mas meu medo era caso eu revelasse o que eu realmente sinto para ele, não porque a gente se beijou.

Considerando a existência da Liz na equação, foi um pouco irresponsável nossa noite juntos, mas eu não classificaria como um erro. Não parecendo tão certo enquanto acontecia, não quando pensar sobre me fazia querer viver aquele momento para sempre e repetidas vezes.

Mas aquilo era impossível.

Ele não quereria e mesmo assim, eu não estava com cabeça para um novo relacionamento. Muita carga emocional para suportar.

Me joguei na cama do trailer e me deixei chorar até adormecer. Eu só queria que fosse mais fácil.

•••

Acordar na manhã seguinte com Amanda me chamando não tornou nada mais fácil. Ela viu minha cara inchada e eu pensei em negar que chorei, mas desisti.

- O que foi, amiga? – ela perguntou passando a mão no meu cabelo – Ele não gosta de você?

- Eu não sei. – choraminguei, tampando meu rosto – Não consegui dizer para ele. Pedi para que não mudasse nada entre a gente, e foi isso.

Aimlessly |H.S|Where stories live. Discover now