47- Napa Valley

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Abracei com um pouco mais de força a almofada no meu colo enquanto observava a sala clara, a Dra. Jackson sentada a minha frente na sua poltrona verde menta. Mesmo que ela parecesse confiável, e fosse, eu não queria estar ali.

Eu queria estar em minha cama, sob as cobertas, onde era seguro, onde nada nem ninguém poderia me ferir. Onde eu só veria quem eu quisesse ver.

Mas todos haviam insistido tanto, que eu me sentiria melhor depois, mais calma. Eu duvidava, mas se não fosse aquilo, o que eu faria para me sentir bem de novo?

- Podemos começar? – a voz delicada da Dra. me puxou de volta para o ambiente e encarei seu rosto amigável antes de assentir – Então, Jade. Porque está aqui?

- Você sabe. – eu disse apenas e mexi meus dedos do pé dentro da bota felpuda.

- Sim, eu sei. – ela disse e me olhou por mais alguns segundos, como se esperasse algo, antes de seguir – Você se lembra do que aconteceu com você?

O que fizeram comigo, quis corrigir.

- Sim.

- Te pergunto porque me foi informado que você desmaiou, certo?

- Na manhã seguinte. – eu expliquei – Eu lembro de tudo que aconteceu naquele lugar.

- E você entende o que fizeram com você? – ela perguntou, como se tivesse ouvido meus pensamentos antes, eu assenti – E como você se sente em relação a isso?

Eu a encarei por longos segundos.

- Confusa, – eu comecei depois de pensar um pouco – violada, envergonhada e culpada. – eu completei, sentindo o rosto esquentar, a vontade de chorar apertando os seios da minha face – Eu não sei o que eu fiz para chegar nesse ponto, para merecer isso.

- Primeiro passo é entender que você não fez nada. Nada que você faz permite que qualquer um faça o que foi feito. Isso é uma decisão individual dele.

- Então... por que eu?

- Infelizmente não tem resposta pra isso. – ela disse – Como foi o desmaio? E o que aconteceu depois que acordou?

- Diz Harry que eu acordei uns 5 minutos depois, mas que pareceu uma eternidade. – eu disse – Eu não sei como foi o desmaio, me senti tonta, sem ar e então aos poucos eu apaguei. Foi como uma nuvem escura me engolindo. Achei que ia...

- O que? – ela perguntou quando parei.

- Achei que eu ia morrer. – confessei – Eu não senti nada. Eu imagino a morte assim, o fim de tudo. Você é e de repente, não é mais.

- E como você se sentiu quando acordou?

- Por um segundo, eu senti alívio. – eu falei baixo – Eu não estava morta, mas no segundo seguinte eu queria sumir.

- Você queria sumir? – ela questionou.

- Eu não pensei muito sobre isso. – eu falei – A polícia chegou logo em seguida.

- Mas pensando nisso agora, o que acha?

- Não acho que eu queria sumir. Queria que as memórias sumissem, a sensação.

- Conte mais sobre como foram os dias até aqui.

Haviam duas semanas desde o acontecido, e eu não lembrava de muita coisa desses dias. Eu estava aérea, dispersa, sem contar que passava os dias fazendo as mesmas coisas, coisas seguras, o que fazia com que as memórias se embolassem e tudo parecesse um longo dia só.

Aimlessly |H.S|Where stories live. Discover now