Amor e alma

8- O que você transmite?

  Bill olhou para o lado e percebeu que Artie estava assustado e então tomou a inesperada atitude de segurar a mão de Artie.

  Ao sentir aquele toque, Artie sentiu um choque percorrer todo o corpo. "É a terceira vez que o pega na minha mão desde que nos conhecemos", pensou. Ele queria entender se aquilo tinha algum significado mas não teve muito tempo para pensar sobre isso pois logo o homem na sala começou a gritar.

— Roger, cadê a cerveja que eu mandei você pegar?!

  Em seguida Roger entrou na sala com uma garrafa de cerveja na mão.

— Por que você é tão incapaz de fazer qualquer coisa? A propósito, você ainda não me explicou que porra aconteceu com sei nariz.

— Eu já disse que eu cai quando estava voltando da escola. — Mentiu Roger.

  Ao ouvir a mentira de Roger, Bill sentiu uma pontada de culpa.

— Sei. Aposto que se meteu em alguma briga e o pior de tudo, apanhou. Quantas vezes eu tenho que dizer que um homem de verdade não apanha? Um homem de verdade bate e ganha todas as brigas em que entra! — Disse o homem enquanto bebia a cerveja direto da garrafa. — Você não sabe que quando você age como fraco, eu pareço fraco?

— Cala a boca seu verme inútil! — Disse uma mulher entrando no cômodo. - Você é um imprestável que bebe o dia inteiro e nem sequer trabalha para sustentar eu e os filhos inúteis que você me deu.

— Vai fazer algo de útil, mulher! Você não viu que estou tentando educar esse covarde?

 Os garotos que espreitavam a janela estavam em choque e não sabiam bem o que dizer sobre o que ué estavam presenciando.

— Sabe, eu criei várias teorias mas isso consegue superar todas. Esses pais são péssimos! — Disse Bill.

  O casal continuou discutindo enquanto Roger assistia tudo com um olhar vazio porém, visivelmente triste. Bill percebeu que não havia mais nada para eles fazerem ali.

— Vamos, Artie. Não tem porquê continuarmos aqui assistindo isso.

— Eu iria mesmo te pedir para irmos embora. — Disse Artie aliviado.

  De repente eles se lembraram de que suas mãos ainda estavam entrelaçadas. Bill rapidamente soltou a mão e a enfiou no bolso. Ambos sentiam-se um pouco encabulados. Logo em seguida eles saíram de perto da janela e se afastaram da casa o mais rápido possível e começaram a andar em direção a suas casas.

— Eu não podia imaginar que o Roger tinha uma família assim. — Artie
comentou.

— Eu também não...

— Eu vou pensar em uma maneira de ajudá-lo. Tia Gomercinda com certeza pode me aconselha sobre isso.

— Você é realmente gentil. Você quer ajudar o Roger mesmo que ele não te trate bem. Acho que eu admiro isso apesar de eu não compreender.

— Hã, bem... Acho que é como minha tia sempre diz. As pessoas normalmente transmitem aquilo que recebem. Roger deve ter recebido aquele tipo de tratamento a vida toda e isso acabou por refletir em suas ações. Se transmitirmos bons sentimentos, quem sabe ele não aprende a  retribuir isso?

  Bill ficou surpreso com o que Artie disse.

— Uau, eu nunca ... Tinha parado para pensar nisso desse jeito. Você é realmente uma pessoa incrível, Artie! Você sempre diz coisas tão inteligentes.

— O-Obrigado. Eu acho que penso o mesmo sobre você. — Artie sentia suas bochechas esquentarem. — Bill, posso fazer uma pergunta?

— Claro. O que foi?

— Porque você pegou na minha mão enquanto estávamos escondidos no arbusto?

— Ah, isso? Bem, eu me lembrei de quando eu era bem pequeno e sempre que eu ficava com medo de alguma coisa, minha mãe segurava minha mão bem forte e dizia que quando alguém segura nossa mão em algum momentos ruim, tudo parece bem melhor. Isso sempre me fez perder meus medos. Eu me sentia seguro.

— Sua mãe estava certa. Quando você fez isso, funcionou. Eu não senti mais medo. Obrigado!

— Fico feliz por ter conseguido transmitir calma para você. — De repente Bill se lembrou do que Artie dissera anteriormente. — Hey, você tem razão! Eu te transmiti aquela sensação que minha mãe me transmitia! Você está certo, Artie, as pessoas emanam aquilo que recebem dos outros. Agora eu compreendo!

— Sim! É exatamente o que eu quis dizer. Acho que é por isso que dizem que gentileza gera gentileza.

— Isso é tão incrível! — Bill estava fascinado pela nova descoberta.

  Quando os dois meninos de deram conta, já haviam chegado até o ponto em que eles tinham que ser separar.

— Então eu te vejo amanhã, Artie. Obrigado por ter topado participar da minha grande investigação.

— Tudo bem. Até amanhã.

  Ambos sentiram que não queriam se separar. Eles sabiam que queriam passar mais tempo juntos mas mesmo assim, cada um seguiu seu caminho.