Capítulo 3 - O Homem Que Não Existe

7 1 0
                                    

Assim como quando a raposa apareceu na caverna me dando um grande susto, senti o coração palpitar e, dessa vez, o medo tomava conta. Parei de súbito e o mirei tão paralisada quanto uma estátua. A minha conversa dentro da caverna com a raposa, me surgiu na mente. "O que tem lá fora?" - "O exército vermelho"

Aquele só podia ser uma das criaturas más que fazia parte do tal exército vermelho. Me recordando de tudo o que eu já tinha ouvido até ali, meu coração batia cada vez mais acelerado. Eles andam a minha procura e agora também devem estar atrás de si. Foi o que a raposa me disse. Recuei alguns passos na tentativa de fugir dali sem ser ouvida -e vista.

A criatura, que me dava as costas, não se apercebeu da minha presença (ou a ignorou). Usava um roupão vermelho com chamas e flores de cinco pétalas estampadas em dourado, e segurava uma máscara branca nas mãos, a qual ele examinava atentamente. Na minha retirada, não tão silenciosa, pisei de mal jeito em uma raiz alta que estava coberta por folhas e acabei por cair no chão com um escorregão. A criatura olhou para mim, e eu preferia que não o tivesse feito, não por me ter descoberto, mas sim por não ter face. No rosto dela não existia nada, já que não tinha uma face. O lugar dos olhos e do nariz era apenas pele rosada e com altos queloides, e em vez da boca, era uma linha de suturação muito antiga. Ela acenou para mim com a cabeça como se desse um "bom dia" e voltou a se concentrar na sua máscara branca. Pouco depois pareceu desistir dela, colocou as mãos para trás e ficou imóvel. Levantei-me lentamente, ainda com o coração pulsando fortemente com o encontro e com aquela aparência medonha. Fiquei a fitá-lo por mais um tempo. Até que ele também passou a me olhar.

_Está perdida? _A voz daquela criatura não se adequava a sua aparência. Não era a voz rouca de um vilão e nem grave de um ser maléfico. Era apenas uma voz, comum e tranquila, que saía do nada, já que lhe faltava a boca.

_Não...

Respondi com a voz tremida.

_Está a procura de algo? _ela voltou a perguntar.

_Sim...

_Bem, talvez eu possa ajudar, o que é que perdeu?

_Na verdade, alguém se perdeu de mim. Estou à procura do meu amigo.

_Amigo?

A criatura olhou ao nosso redor como se procurasse por alguém que estaria nas proximidades. 

_Não é habitual ter criaturas por aqui! Seu amigo têm essa sua mesma aparência?

_Não. É uma raposa!

_Raposa? _A criatura indagou e fez um breve silêncio para absorver o que ouviu _Só existe uma raposa nesse nosso mundo...

Ela se aproximou, andando, mas parecia flutuar, tão leve eram seus passos.

_O que é você? _questionou.

_Hã... O que? 

Me encolhi. A criatura voltou a perguntar, de forma sombria: _Que espécie de criatura é você?

_Humana... 

_Não acredito... É isso possível? Isso quer dizer que ele conseguiu mesmo? _perguntou para si mesmo. Com surpresa e entusiasmo.

A criatura olhava aos arredores como um sonhador lunático e sorria como se tivesse acabado de ficar milionário com uma jogada na loteria (se ele ao menos soubesse o que isso era).

_Ele têm procurado por ti por tantos anos! Do que estás a espera humana, precisa ir de encontro com ele agora!

_Me desculpe, mas... não sei quem é "ele" e mesmo que soubesse, não saberia chegar até ele. Não faz muito tempo que cá estou!

O Conto de Gautama: A Viagem de JaimeWhere stories live. Discover now