Capítulo 9 - O Elefante

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_És uma coisinha muito esperta e valente para o seu tamanho!

O elefante, que era o triplo do meu tamanho, tinha uma voz calma e suave que não combinava com a sua aparência volumosa e rígida, além de falar de uma forma entusiasmada apesar da situação em que nos encontrávamos. Me pousou nas pedras da margem do rio e desenroscou a tromba do meu corpo calmamente.

_Ah... Queria eu que as criaturas de Gautama me ouvissem como você fez. Mas parece que todos por aqui simpatizam com a surdez e a cegueira! _O elefante olhou para o campo atrás dele e repetiu "Seria mesmo muito bom se me dessem ouvidos" como se quisesse que alguém em especial o escutasse. _Talvez precisem de umas orelhas grandes como as minhas. Devia enfeitiçá-los para tal coisa? _O elefante voltou a olhar para mim me direcionando a pergunta.

_Quem é você? _Perguntei eu, ensopada e encolhida como um pintinho depois de apanhar uma chuvada. Prestava muita atenção à tudo que o elefante dizia ao mesmo tempo que abanava a tromba e remexia as orelhas. Ele deu um sorriso espontâneo por eu ter perguntado a sua identidade: _Eu sou o Grande Elefante Ganesha! _respondeu ele com vivacidade _Um temporário protetor de Gautama.

Para além do facto de falar e apresentar algumas curiosidades como, por exemplo, a presa esquerda ser notavelmente menor do que a direita e ter cravado, como se feito aos cortes com uma faca muitos anos antes, no espaço entre os olhos, um símbolo que me era desconhecido, Ganesha era um elefante como qualquer outro que eu costumava ver no meu mundo. Era muito alto, dono de uma grande barriga, de umas enormes orelhas e de cor acinzentada. Por esse motivo, de não ser peculiar e pela sua célebre apresentação como "protetor de Gautama" não pude deixar de sentir um alívio imediato. Até me esqueci que à minutos passados estive a beira da morte. Apressei em me apresentar com modéstia:

_Oh. Olá, Ganesha! Eu sou...

_Jaime! _interrompeu ele dizendo rapidamente e abanando a tromba com garantia _Já sei, já sei!

_Como sabe?

_Um espírito apareceu-me desesperado e a repetir euforicamente "a Jaime está em perigo", e então, quando vi aquela situação toda presumi logo que você fosse a Jaime, estou correto?

_Bem... sim! Mas acabou de dizer que um espírito te avisou? Então isso quer dizer que eles estão mesmo a me vigiar... Como o professor espírito disse?

_Tens bons amigos, Jaime! Se não fossem eles me avisarem, eu não teria sabido desse ocorrido e não teria chegado à tempo de ajudar.

_E você também consegue ver eles?

_Eu consigo ver tudo ao meu redor pequenina!

O elefante levantou a tromba e soltou um bramido contente antes de berrar: _Ôoooo dia de Chaturthi! Seja bem-vinda à Gautama, pequena humana Jaime. Acho que devo te perguntar, tem fome?

_Tenho. _Confessei, estranhando um pouco aquela pergunta naquele momento, e colocando a mão no estômago que doeu ao pensar em comida. Espremi a zona para afastar o ronco e senti a água do meu macaco lilás escorrer por entre os meus dedos.

_É normal. Depois de um susto a fome sempre aparece. Então não percamos tempo, hoje há festa e um enorme banquete!

_Festa? Que festa?

_Hoje é o Dia de Chaturthi!

_O que é isso? _O elefante riu-se e fez novos gestos com a tromba. _Dia de Chathurthi é o meu aniversário!

_O desculpe... Eu não sabia. Feliz aniversário!

_Obrigada pequenina, mas eu dispenso, é cansativo sempre ter que ouvir isso todos os anos...

O Conto de Gautama: A Viagem de JaimeWhere stories live. Discover now