Point 27: Última promessa.

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Já era noite quando eu ouvi vozes pelo apartamento.

Clary e eu chegamos da festa da formatura as oito horas da manhã. Após remover toda a maquiagem e um banho longo, cada uma se trancou em seu quarto.

Acordei com meu quarto mais escuro do que quando fui dormir, e pela fresta da janela eu pude ver que já era noite. Tinha dormido o dia todo.

Joguei as cobertas para o lado e me levantei. Prendi meu cabelo em um coque alto e peguei meus óculos, saindo do quarto. Havia caixas em todo o apartamento, prontas para a mudança.

— Richard, não — ouvi Clary dizer do corredor.

— Clary...

— Não. Você magoou minha melhor amiga, Richard, magoou Gabbe. Não vou deixar você entrar.

Soltei um suspiro e atravessei o corredor, chegando à sala.

— Tudo bem, Clary — falei me juntando a eles. Clary mantinha a porta entre aberta e um braço esticado, impedindo a entrada de Richard. — Deixa-o entrar.

Clary encarou Richard uma última vez e se afastou da porta, indo para a cozinha. Passei a mão pelo rosto e olhei ao redor, procurando o que queria entre as caixas. Por um segundo me senti em Jacksonville.

— Preciso que assine isso para mim — disse a Richard, pegando ao papeis  que havia deixado separado há alguns dias.

Eu só tinha conseguido me formar como Gabriela Morgan, e não Gabriela Camacho, porque não levei para a faculdade os documentos da mudança do meu nome. Na realidade eu não atualizei dado algum meu para o nome que tinha adquirido após o casamento. Para todos os efeitos, eu nunca havia sido Gabriela Camacho.

— Divórcio? — perguntou Richard sem acreditar, lendo os documentos. — Não vou assinar isso.

— Não complique ainda mais, Richard. Por favor.

— Não — repetiu, jogando o divórcio sobre uma pilha de caixas. — Principalmente não depois de ontem.

— Ontem foi... — As palavras morreram em minha boca. Eu não iria dizer que a noite passada foi um erro, por que o que não havia sido desde que conheci Richard? Erros atrás de erros. — Foi a despedida que precisávamos. Para encerar tudo.

— Não, não foi — falou me olhando. — Não vou desistir de você tão fácil assim, Gabriela. Não vou.

Richard saiu do apartamento sem dizer mais nenhuma palavra, e quando a porta se fechou atrás dele, eu pude soltar o ar que prendia.

— O que aconteceu ontem a noite? — me perguntou Clary, voltando para a sala.

— A gente transou — respondi, olhando a porta fechada.

— Difícil te defender hein amiga.

Ela estava com uma caneca preta na mão, e seguiu com ela para seu quarto. Fui atrás, sendo acolhida pelo calor do aquecedor dela, me jogando em sua cama.

— Acha que estou exagerando? — perguntei a ela, me acomodando em seus edredons.

— Vou dizer que não, mesmo achando que sim. — Clary puxou a última coberta sobre nós e me entregou a caneca que tinha em mãos, e eu vi que era chocolate quente. — Acho que você precisa sentar e conversar com ele, ouvir as coisas de verdade. Tudo com vocês, desde o começo, foi no impulso. Precisam tentar fazer as coisas de outra forma.

Suspirei ao ouvir o que ela dizia, sabendo que tinha razão.

Realmente, desde o início, o que faltou para mim e Richard foi o bom e velho diálogo. E eu, como uma advogada, deveria prezar por isso. Afinal de contas, eu havia estudado quatro anos para saber como argumentar sobre algo, e também a ouvir, a entender os dois lados de uma moeda.

Las VegasWhere stories live. Discover now