Prólogo

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Las Vegas

Minha cabeça latejava, e a dor apenas aumentou quando eu abri os olhos.

— Você não vai vomitar de novo, não é?

Todo o instinto que eu tinha de fechar os olhos e continuar encolhida até o mal estar passar foi embora, e em movimento rápido eu me sentei. Me arrependi na hora, tanto pelo enjoo que se formou em minha barriga e a tontura, quanto pela batida da cabeça em algo a cima de mim.

— Ai — resmunguei. Minha voz saiu rouca e seca.

Levei a mão até o lugar onde havia batido, o sentido dolorido. Deixaria um galo e tanto.

Olhei ao meu redor, vendo que estava no chão de um banheiro. A minha frente, encostado na parede e com um braço dentro da banheira ao seu lado, estava um garoto. Não um garoto, já que provavelmente tinha mais de vinte e cinco anos.

Arregalei os olhos o vendo ali, me encarando com olhos de ressaca. Ele vestia apenas uma calça jeans preta e um colete da mesma cor, deixando a parte de cima do corpo praticamente toda exposta.

— Quem é você? — Foi a primeira coisa que me veio a cabeça.

— Hm, Richard — respondeu com tom de dúvida em sua voz, mas ainda sim de forma óbvia, como se eu devesse saber. Levantei a sobrancelha.

Observando pelo conto do olho, pude reconhecer o pequeno cômodo que estávamos, com o piso quadriculado e a banheira verde ao lado do vidro do box. Era o banheiro do meu quarto de hotel. Senti um pequeno alívio por ao menos estar em um ambiente familiar.

— Gabbe? — me chamou, após eu ficar alguns curtos minutos em silêncio observando as coisas.

— Como sabe meu nome? — Virei o rosto para ele.

— Porque você me disse.

— Disse?!

— Disse.

E a conversa acabou, apesar de ele continuar me encarando. Parecia me analisar para saber o que eu faria em seguida, e também parecia esperar algo de mim.

O que eu deveria fazer?

Tinha acordado no chão do banheiro com um completo estranho a minha frente. O que raios alguém faz nessa situação?

Minha consciência respondeu: simples, você não entra nessa situação.

Bom, tarde de mais, eu já estou aqui. Cercada pelo cheiro de vomito, suor, perfume e álcool. Meu estômago se embrulhou com o cheiro de bebida, e eu tive que colocar a mão sobre a boca para não vomitar.

— Aspirina? — perguntou Richard, estendendo a mão.

Eu não vi de onde saiu a garrafinha de água e nem muito menos o comprimido em sua mão, mas os aceitei mesmo assim. Não sei se o pior era acordar ao lado de um estranho ou aceitar coisas dele. De qualquer forma, joguei as duas coisas na boca e em seguida me levantei.

A banheira e a pia se mostraram ótimos lugares de apoio, enquanto eu me levantava. Meu corpo não aguentava com ele próprio, e meus braços agradeceram por anos de acadêmia, porque do contrário eu não teria conseguido ficar em pé. Me segurei com força na pia até sentir a tonteira passar e minhas pernas pararem de tremer.

Soltei um suspiro pesado e levantei o rosto, encarando meu reflexo no pequeno espelho quadrado.

Eu estava um lixo.

Meu cabelo completamente emaranhado, com pedaços de fitas coloridas. A maquiagem tinha ido embora e deixado apenas resquícios, como uma sombra borrada e os contornos vermelhos de batom.

Las VegasWhere stories live. Discover now