Point 7: Beijos de morango.

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No dia seguinte, após me trocar — vestir a mesma calça jeans clara e a regata branca — encontrei Richard atrás de uma das pilhas de caixas no corredor.

Ele parecia ter subido em uma escada e abria as caixas mais altas, procurando algo. Dei um passo para trás quando uma delas caiu da e rolou aos meus pés.

Richard se esticou e pareceu me ver ali.

— Ops — falou, se encolhendo e rindo, descendo as escadas. — Foi mal.

— O que você tá procurando? — perguntei, me abaixando e pegando a caixa aberta. Pacotes de Doritos rolavam para fora.

— Esse é o nosso café da manhã — respondeu, pegando um dos saquinhos. Fiz uma careta. — Brincadeira. — Ele pegou a caixa das minhas mãos, a colocando em outra pilha. — To procurando roupas.

Desci os olhos, vendo que ele ainda usava a calça moletom de ontem à noite. E só. Levantei os olhos e pisquei para ele. Não notando meu olhar, ele deu de ombros e voltou a abrir as caixas.

— O que são todas essas coisas?

— Presentes de fãs, a maioria. E compras de viagens.

— Por que você não leva para a sua casa? — Abri uma, encontrando uma garrafa de vodca com fita de led dentro. — Legal.

Ele olhou a garrafa, fazendo uma careta.

— Não sei onde consegui isso.

Ri e guardei de volta na caixa.

— Na minha casa não caberia essas coisas.

Levantei uma sobrancelha.

— Sua casa é pequena?

Ele riu, se abaixando e abrindo outras.

— Não exatamente. Mas eu moro com meus pais, e essas coisas não caberiam lá.

— Quantos anos você tem, afinal de contas?

— Vinte e oito.

— E mora com seus pais?!

Ele riu outra vez, parado ajoelhado no chão, com alguns tecidos nas mãos.

— Bem, sim. Eu não passo muito tempo lá, de qualquer forma. Mas tenho um apartamento em Nova York com meu irmão.

— Não que você leve as coisas para lá também, não é?

— Não. — Se levantou e foi até a caixa que eu tinha aberto antes. — Mas ele sem duvidas vai gostar disso. — Levantou a garrafa. — Talvez eu deva levar.

Desviando os olhos do que tinha em mãos, ele se abaixou na pilha de pano aos nossos pés.

— Bom — falou, deixando a garrafa de lado — vai ter que servir. — Levantou uma bermuda jeans e uma camiseta branca. — Já volto.

Passando por mim, ele sumiu entre as caixas no apartamento.

Soltei um suspiro, colocando as mãos no bolso de trás de calça. Senti um aperto no coração ao notar que meu celular não estava ali. Eu tinha trazido meu tablete, mas ele já tinha ficado sem bateria e estava no fundo da minha mochila. Como eu iria falar com meus pais? Eles devem estar morrendo de preocupação.

Meu pai, particularmente, deve estar querendo me matar. Ele simplesmente surtou quando soube o que aconteceu, principalmente sobre a parte de que eu e Richard havíamos trocado sobrenomes em um cartório.

Eu era uma péssima estudante de direito mesmo. Sabia muito bem sobre esse tipo de acontecimento — casamentos sob efeito de álcool — e mesmo assim, cometi o erro.

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