Point 6: Promessas.

2.9K 254 50
                                    

A casa de Richard em Jacksonville na realidade era uma cobertura no centro da cidade. O prédio era tão alto que não se era possível ouvir a cidade lá em baixo.

Agarrei minha mochila contra o peito — Richard havia pegado ela antes de sairmos de Miami. Olhei ao redor, confusa por não haver nenhum móvel, mas sim diversas caixas, por todos os lados.

— Você não mora aqui, mora? — perguntei, me desviando de uma pilha de papelão. Estavam empilhadas tão altas quanto eu. E eu tenho 1,71.

— Não. — Ele jogou uma blusa de frio em cima de uma caixa, a fazendo cair da pilha. Richard olhou a caixa rodar com falta de interesse, dando de ombros em seguida.

O sol começava a se por, inundando a casa com tons alaranjado. Na sombra, o cabelo loiro de Richard parecia vermelho. Uma linha de pensamento passou em minha mente, questionando se ele ficaria bem com o cabelo vermelho. Levando em conta que na noite passada usava dreads e hoje já tinha mudado completamente, e tinha ficado ótimo com os dois, eu duvidava que alguma coisa não ficasse boa nele.

— Você precisa descansar — falou, sumindo em um corredor. O segui. — A médica receitou um remédio para o caso da sua pressão alterar, mas eu não comprei.

— Não precisa. — Franzi a testa, analisando o que ele havia dito. — Que médica? — Eu não me lembrava de termos ido ao médico.

Ele coçou a cabeça.

— Te levei no hospital depois que você desmaiou...

— Meu Deus, você não chegou falando que sua esposa estava passando mal , não é? — O olhei, mesmo que estivesse de costas para mim.

— Não — respondeu mal-humorado. — Não entramos. Chamei uma amiga para te ver.

— Uma amiga médica?!

Revirei os olhos, por ter feito uma pergunta óbvia, levando em conta que só repeti o que ele havia dito. Eu odiava perguntas obvias.

— Ela é enfermeira na verdade.

Uma mulher sempre sabe quando seu marido esta mentindo.

Oi?!

Virei o rosto e me olhei em um espelho que tinha no corredor, me encarando e fazendo uma careta, perguntando mentalmente ao reflexo que porra foi essa de "uma mulher sempre sabe quando seu marido esta mentindo".

Aquele corredor não acabava nunca?

— Você pode ficar aqui. — Parecendo ler minha mente, Richard abriu uma porta branca.

Entramos no quarto, que era inteiramente branco. Assim como o resto da casa, havia caixas por todos os cantos. Uma cama de solteiro estava no centro, com algumas caixas afastadas para abrir espaço.

— Pedi para trocarem a roupa de cama hoje — avisou. — Tá limpa pra dormir.

Eu ia me virar para agradecer — e falar outra coisa —, mas a porta atrás de mim já havia fechado e eu estava sozinha. Que ótima pessoa eu fui me casar, com uma ótima comunicação.

Suspirei, encarando o quarto. Uma das paredes tinha vista para uma parte da cidade, com colinas ao longe. Toda aquela parede era de vidro, do teto ao chão, com portas duplas para uma varanda.

Apesar de querer ir atrás de Richard para conversarmos, eu já sentia meu corpo pesando. O fuso entre Seattle e Miami ser de apenas três horas, mas eu já me sentia cansada. Afinal de contas, estava já há alguns bons dias sem dormir, e a alta mudança de temperatura parecia consumir minhas energias.

Las VegasWhere stories live. Discover now