Amor Platônico

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Acordo assustado com uma ligação. Olho primeiro o céu claro e sinto a pontada na cabeça devido a ressaca. Procuro o celular, tateando nervoso a cama. O som era alto e insistente e minha cabeça doía. 

Joguei todos os travesseiros no chão quando vi que o celular estava do outro lado do quarto, literalmente caído em qualquer canto.

Me levanto desorientado e desesperado para acabar o barulho, mas tropeço nos travesseiros e vou me arrastando até o celular.

-Alô? - digo ofegante.

-Shannon está grávida?

Demoro alguns segundos para assimilar a voz masculina, então afasto a tela e vejo quem é. A ressaca foi embora mais rápido do que ejaculação precoce.

-Oi, pai. Não é meu. - digo de antemão.

-Percebi. Ela estava com outro cara.

Fico mudo, não sei qual foi o intuito da ligação, muito menos puxando esse assunto.

-Não sabia que haviam terminado. - ele comentou. 

-Era só abrir qualquer twitter que saberia. -digo meio ríspido.

-Espero que tenha aprendido. Aquela história de sair de casa, se casar novo...

-Pai, o que você quer? -corto as reclamações de sempre.

-É que... Eu vi e lembrei de você e sei que as gravações acabaram. Achei que podia passar um tempo com seu pai.

-Como anda a Meredith? - mudo de assunto. Ele suspira.

-Está ótima. Mandou um abraço.

-Mandou sim... - bufo. - Pai, estou bem. Talvez fique em Toronto e nem volte pro meu apartamento na América. As gravações voltam em um mês por aqui.

-Você tem que aceitar a Meredith. - meu pai acusa.

-Tchau. - digo e desligo o telefone.

Estava sentado no chão, então só me deito e fico encarando o teto. A dor de cabeça voltando enquanto eu digeria a rápida e infeliz conversa.

Instintivamente pego o celular de novo e entro no perfil da Meredith.
Loira
Olhos azuis
Inteligente
Persuasiva

Eu a vi naquele cruzeiro há três anos e me apaixonei. Na época eu tinha dezesseis e ela dezenove.
Mas para quê ficar com o filho se eu posso ter o pai, não é mesmo?

Enfim, eu era novo, sabia que era amor platônico mesmo. Mas o meu pai assumir relacionamento sério com uma criança... Sem condições. Eu olhava e sentia nojo dele.
Voltamos de férias, às gravações, eu me tornei mais íntimo da Shannon que era irmã de um amigo meu e então me afundei de cabeça nesse relacionamento. Se tornou um escape para a droga que estava lá em casa.
Ganhava bem como ator, ela estava firme no trampo de modelo, então assim que consegui saí de casa.

Largo o celular, me punindo por ter remexido em lembranças desagradáveis quando algo maior vai tomando conta da minha mente.

Amybeth.

Eu literalmente a dei para aquele branquelo de sotaque britânico.

Tomo uma ducha e como um café reforçado, enquanto peço um Uber recebo uma mensagem da AB:

Ruivinha♥️:
Espero que esteja melhor da ressaca.

Lucas:
Extrapolei. Sinto muito. Posso ir aí?

Ruivinha♥️:
Claro 🥰

Sorriu instintivamente. Você estava muito dramático, Lucas. Um amigo. Ele é só isso. A Amybeth é sua, você é o responsável pelos beijos dela, pelos seus carinhos, pelo seu afeto. Não ele.
Só preciso parar de ser impulsivo. Só isso.

Bato a porta e sou recebido pelo braços da menina e seu sorriso que aquecem meu coração.

-Desculpa por ontem. -me antecipo entrando.

-Tudo bem. Vamos esquecer isso. - ela pede. - Quer tomar café?

Amy pergunta enquanto entramos na cozinha para ela me oferecer água.
Olho a mesa e estranho. Porque tem quatro pratos usados a mesa?

-Cadê seus avós? - pergunto instintivamente.

-Ahn... - ela abre a boca para falar algo, mas somos interrompidos por vozes no jardim interno.

Abro as cortinas da cozinha e vejo os avós de Amy rindo enquanto jogam minigolf com... Louis.

-Ele dormiu aqui? - pergunto tentando não soar ríspido; fica calmo, Lucas.

-Não, é óbvio que não. - ela comenta bebendo água de forma tranquila. - Ele só veio tomar café, ver como meus avós estavam... 

-Claro, legal. - murmuro.

Eu achei que eu era o favorito dos McNulty.

-Que tal subirmos um pouco? - ela propõe com um sorrisinho meigo (e malicioso) que me faz esquecer tudo.

Enquanto ela fecha a porta do quarto eu dou outra bisbilhotada pela janela. Louis ensinava uma sacada para a senhora McNulty enquanto riam, como se fossem uma grande família; babaca.

-Queria conversar com você. - comenta Amy me trazendo a realidade.

-O que foi?

-É que... Estamos de férias e eu sei que será mais um semestre de gravações, no mínimo, então queria visitar minha mãe, passar uns dias em casa na Irlanda.

-Ah...

Era isso, ela vai me deixar.

-O que acha de ir comigo? Tem tantas coisas legais que eu queria te mostrar! Não precisamos ficar muito, mas eu estou com saudades de casa e...

Eu não deixo ela terminar, abraço-a com força arrancando uma gargalhada sua. A ideia de ficar aqui sozinho ou ter que voltar para casa era assustador, mas estar com ela... Era tudo o que eu preciso.


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NOTA DA AUTORA:

Ok, surtei com esse lance do pai do Lucas (QUE NÃO É VRDD KKK), mas eu tenho planos mirabolantes com isso.

Quem perdoa é Deus.

On The Set || AWAE 🎥Where stories live. Discover now