Real ou Atuação

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Visão Geral


Quase um mês havia se passado depois do incidente. O terceiro episódio estava quase pronto aquela altura. Finalmente Gilbert estaria voltando para Charlottetown e os fãs veriam um pouco do tão esperado casal na série.

Amybeth estava lendo seu script no camarim concentrada, sabia que seriam cenas importantes então estava tentando se dedicar ao máximo. Então de repente alguém bate à porta do trailer.

-Lucas? Tudo bem?

-Posso entrar?

-Eu estava repassando a última cena.

-Pois é... fazemos juntos.- ele estendeu o script numa tentativa de fazerem os dois interagiram antes da gravação, o rapaz estava preocupado como poderia ficar se não conversasse antes com a menina.

-Tá, a gente passa junto. – AB deixa o rapaz passar e fecha a porta do camarim um tanto relutante.

Lucas senta no sofá e Amy no tapete ao chão. Os dois repassam as falas, mas um muro gigante os separava. Quando diziam ação, tudo era esquecido, os olhos brilhavam, o sorriso surgia, não havia Amybeth e Lucas e sim Anne Shirley e Gilbert Blythe e eles sabiam fazer isso muito bem. Mas quando gritavam corta, a troca de olhares intensa deixava de existir. Um olhava o chão e o outro fingir ver algo interessante. Eles fingiam que estava tudo bem, mas estava chegando num ponto em que não estava mais enganando ninguém; nem a eles.

Lucas passou a aguentar os comentários dos colegas de trabalhos e o crescente desejo de Christian pela colega de trabalho e não sabia mais como lidar. A verdade é que ele e a Amybeth voltaram para quando ele namorada a Shannon, sorriam um pro outro, fingiam que não se importavam e que eram amigos, mas a verdade é que não era isso. 

-Está animada para a festa de hoje a noite? – Lucas tentou puxar assunto depois de rever algumas vezes as falas. 

-Kyla está tão ansiosa que estou mais preocupada de ela não ter um piripaque.

Lucas sorri e os dois ficam quietos, como costumava acontecer em todas as tentativas de uma conversa normal entre os dois: Um comentário, um sorriso sem graça e um silencio constrangedor.

-Amy... não quero mais isso. A gente assim! – Lucas comenta num ato de coragem. Estava há semanas querendo ter essa conversa e finalmente pôde estar a sós com a moça.

-Mas estamos bem.

-Não! Não estamos. – Lucas rebate um pouco frustrado. – Se ainda está chateada comigo... tudo bem, prefiro que seja sincera, não finja que estamos bem.

-Eu não estou chateada com você. – A menina reflete sobre o assunto. – Foi meio babaca, obviamente, mas foi coisa boba. – ela sorri.

-Então... porque eu sinto que tem algo te afligindo? Como se tivéssemos um grande muro invisível a nossa frente?

As sirenes de gravação tocam e eles sabiam que era a deixa dos dois. Lucas estava ficando extremamente frustrado com tudo aquilo, ele queria saber. 

Amy havia se vingado, ela entrou no grupo e todos os garotos estavam aos pés dela, ele já havia aceitado que eram só amigos, mas parecia que a menina também não conseguia mais olhá-lo como amigo.

Mal sabia ele que era justamente esse o problema. 


Os dois saíram para se prepararem. Amybeth aparece no set com um lindo vestido longo num tom verde claro, os cabelos ondulados com um penteado trançado atrás. Lucas ajustava o terno e ficou surpreso o quanto a menina estava bonita. Ele sabia que era uma grande cena, mas a equipe havia se superado.

 Ele sabia que era uma grande cena, mas a equipe havia se superado

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-Vocês dois, aqui. – chamou Moira. – Sabem que é uma cena importante, não é?

Os dois concordam com a cabeça. Uma maquiadora apareceu para retocar as sardas de Anne enquanto Moira os encarava.

-Independente da vida pessoal, quero que deem o melhor aqui. Sei que vocês já vêm fazendo isso, mas resolvam o que tem de resolver. Aqui vocês estão completamente apaixonados, certo?

-É claro, Moira. – confirmou Lucas vendo se a caixinha estava bem guardada no bolso interno.

De repente o set ficou silencioso. Os dois se posicionaram onde deveriam, numa estação de trem bem elaborada. Os figurantes tomavam seus lugares. A voz forte do produtor gritando ação, tudo tomou forma. Eles não estavam mais num estúdio, estavam no século passado.

Anne levava sua mala pela mão, iria embarcar no trem enquanto Gilbert corria para alcançar a moça. O maquinista grita avisando a partida destino a Avonlea e Anne está prestes a entrar quando ouve alguém chama-la.

Gilbert caminha ofegante até a moça surpresa e tudo ali parecia real. As falas são rápidas, porque o olhar um do outro já dizia tudo. E então, ao apito final do trem, Gilbert se ajoelha e tira de dentro do bolso interno do terno uma caixinha com um lindo anel de casamento. Anne deixa as lágrimas derramarem enquanto grita sim e o rapaz lhe abraça com força.

O contato físico.

Há semanas eles mal se falavam, mas fingiam estar bem. Mas, naquele momento, no meio de um abraço teatralmente sentimental tudo ganhou vida. Por um segundo ou dois eles não sabiam se eram o personagem ou se era real. Lucas puxou Amybeth com tanta urgência, que a ergueu sutilmente do chão. E então eles se entreolharam, com os olhos cheios de paixão, era de um recém pedido de casamento ou da lembrança de uma noite intensa há um mês? Eles não sabiam.

Amy acariciou o rosto do rapaz e então Lucas a beijou. Não havia câmeras, não haviam pessoas, não havia figurino. Era somente dois jovens sedentos um pelo outro, ele a puxava com paixão intensificando o beijo, Lucas não queria mais isso, uma distância os separando e naquele momento ele podia fingir que ela era sua, porque era exatamente isso que ele queria. Ele a puxava com paixão, deslizando uma das mãos pela sua cintura e a outra entre seus cabelos.

Mas Amybeth também havia se deixado levar, ela tentava se convencer de que era uma menina do campo do século dezenove, mas era só ela. Puramente ela ali. Ela o desejava, e não era somente como Anne desejando Gilbert, era como se as duas quisessem a mesma pessoa.

Eles se separaram, a respiração ofegante, os olhos intensos, os braços enlaçados um no outro estendendo ao máximo esse momento. Amybeth abriu um pequeno sorriso ao rapaz que beijou sua testa, como se tivessem chegado a conclusão de que eles não queriam mais aquilo, aquela distância.

-Corta! – gritou o diretor. – Acha necessário refazer? Para mim ficou perfeito, Moira. – gritou o homem.

A mulher olhava o casal com certa desconfiança. Havia um beijo previsto, um beijo rápido, mas aquilo foi bem mais; e mais ainda para dois atores que mal estavam se encarando para ser improviso. Ela os conheciam há anos para saber que aquilo não foi técnico.

-Não, ficou bem real. – comentou a mulher um tanto irônica.

Lucas e Amybeth deram um último olhar, eles queriam confirmar se o que sentiram foi mútuo, mas logo foram arrastado para lados diferentes e não puderam mais se ver.


Continua...

On The Set || AWAE 🎥Where stories live. Discover now