LUNA (Sol da meia-noite #1)

CAPÍTULO 20

Oi gente ♥️
Muito obrigada pelos comentários na parte do desabafo. Espero que saibam que sempre podem contar comigo e que eu amo vocês.
Boa leitura 😊
LUNA

- Eles foram para a sua proteção.

- Mãe... como até agora você não me deixa ter escolhas? Até mesmo aqui e agora, você tenta justificar certas escolhas que não tem justificativa.

Ela me olha triste e se encosta na parede atrás da cama antes de voltar a falar.

- Eu fui criada sabendo que era realeza em um mundinho pequeno e tinha ideia que nunca sairia daqui e estava bem com isso, afinal, eu não sabia como o mundo lá fora podia ser. - Ela suspira. - Quando eu conheci o seu pai, era como se o meu coração cantasse para o dele e vice-versa. Nos unimos e um tempo depois, você veio. Você foi tão esperada, minha filha. Mas naquela época, a alcateia vivia em conflitos e como você percebeu, o que era uma alcateia grande, hoje é reduzida. Seu pai e eu ficamos com medo por você e tínhamos planejado fugir e viver no mundo humano. Ele já tinha experiência por ter saído antes em missões e conhecia pessoas... Pessoas que poderiam ajudar a gente a se adaptar. Ele teve que ir na última batalha para não levantar suspeitas, mas acabou que ele não resistiu e eu fiquei tão arrasada que esqueci de tudo por um momento, só me tocando em você. Foi quando começaram os sonhos e tudo o que eu pude imaginar era você aqui, tendo que viver a mesma vida regrada que eu me convenci a viver, a casar e ver seu companheiro indo para a batalha e morrer. Ainda mais um companheiro predestinado! Você sabe o que acontece quando você perde a sua outra metade? Uma parte sua morre! E eu não queria isso para você! Nunca quis e nunca vou querer!

Ouvindo agora ela contando com tanta amargura me fez ver que a minha mãe nunca aceitou a morte do meu pai. Até hoje ela levava em seu coração um rancor que eu não tinha culpa e deixou seus medos serem maiores.

Ela foi errada por me amar demais? Por não desejar para mim o que aconteceu com ela?

Eu sabia que não deveria ter vindo aqui, minha mãe ia me balançar como pretendia.

Balancei a cabeça e voltei para a questão principal.

- E os remédios?

Ela deu de ombros.

- Depois que fugimos, me encontrei com os contatos do seu pai e providenciei tudo, novas identidades e o mais caro foram os remédios inibidores cheios de hormônios humanos. Potencializados de uma forma tão grande que inibiriam os hormônios de lobo. E... uma gota de sangue vampiro.

Vampiro?

Vampiros?????

Ah cara, quando eu achava que não podia ficar pior, a vida vinha e ria na minha cara.
- Vampiro? Mãe, você está drogada? - Perguntei com o cenho franzido.

Ela revira os olhos para mim.

- Luna, se lobisomens podem existir, por que vampiros também não?

Bem, ela tinha um ponto.

- Cada vez que eu acho que não pode piorar... piora. - Eu murmuro antes de sentar no banco do lado de fora da cela dela. - E como você conseguiu dinheiro para fazer isso? E o que isso está fazendo comigo?

- Eu tinha algumas joias e dinheiro que seu pai e eu guardamos. Eu levei tudo e fui trabalhando ao longo para juntar mais e fui comprando suas caixas. O bom é que você só iria começar a transformação já mocinha, então tive tempo para juntar um bom dinheiro e nos manter abastecidas.

- Mãe, você não respondeu a minha outra pergunta. O que diabos esse remédio está fazendo comigo?

- Ele controla seus impulsivos mais fortes a querer se transformar, inibe seu cheiro de loba e te protege quando seu corpo tenta lutar contra isso.

- Você me deu uma versão sobrenatural de contraceptivo? É isso mesmo, mãe?

- Eu cuidei de você, Luna! Eu protegi você e olhei você contra todo o mal! Você acha que a alcateia são só flores no campo? Dias calmos e sossegados? Espere só os problemas aparecerem! As disputas, as guerras, as crianças que não conseguem passar pela transformação... Você acha que eu queria... que eu quero isso para você?

Um sentimento estranho brota no meu peito.

- Então, tem chances de eu me transformar?

- Acho que sim, eu não sei. Nunca deixei você sem o remédio tempo o suficiente para saber, filha. E mesmo que pudesse, é isso mesmo que você quer? - Ela me olha curiosa e eu a encaro de volta.

- O que quer dizer com isso?

- Logo você, que queria tanta liberdade, tinha tanta vontade de ver e conhecer o mundo... agora quer largar tudo isso para viver aqui? Viver uma vida de alcateia?

Eu me levanto e caminho quase até a saída.

- Eu só queria escolhas, mãe. Agora eu percebo que tudo o que sempre quis foi ter a possibilidade de escolher. Você tirou isso de mim e agora estamos todas aqui, nessa confusão sem tamanho que não trouxe nada além de mágoa para mim e para você.

Eu me viro para sair, mas não deixo de ouvir as palavras finais da minha mãe.

- Eu só espero que você não acabe sofrendo como eu sofri, minha filha. Eu realmente espero.

Eu não achava que era a minha mãe me desejaria bons presságios, mas um comentário desses? Eu podia sentir o arrepio pelo meu corpo.

Droga, mãe.

Sai de lá tentando controlar meus nervos e a vontade de enfiar um pote inteiro de sorvete goela abaixo.

Minha vida era isso agora. Uma comédia de mau gosto recheada de segredos cada vez mais cabeludos a serem desvendados e que me faziam me perguntar quando acabaria tudo e eu seria capaz de digerir tudo isso com calma.

E quando isso acontecesse, o que eu escolheria? E eu conseguiria escolher? Eu teria isso?

As palavras da minha mãe voltaram na minha cabeça, mas eu balancei a cabeça tentando esquecer isso e me encaminhei para ver Scar e Lúcio conversando nervosamente, mas eles param quando me notam chegando e olham meu rosto.

- O que ela disse? - Eles perguntaram, ambos chateados por mim. E naquela hora, meu coração aqueceu por ambos. Mesmo me conhecendo no mesmo dia, me primo tinha se preocupado com os meus sentimentos e minha melhor amiga também.

Ambos eram criaturas que eu nunca pensei que pudessem existir junto com todo um mundo que eu só li ou vi na TV. Mas no final, acho que a vida era isso, coisas aconteciam e a gente tinha o direito de enfrentar isso ou deixar que passasse por cima da gente.

Eu escolhi enfrentar.

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