A hora da verdade

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Algumas horas podem parecer uma eternidade, quando a gente precisa que elas passem rápido. E era isso que me perturbava no começo daquela noite. Aquela noite, na verdade, é essa noite. Hoje é sexta feira, um dia depois da festa da faculdade; dois dias depois do meu encontro- se é que posso dizer isso- com o meu professor; e algumas horas depois de eu ter aceitado um pedido de namoro.

Às vezes é bom dar uma recapitulada das coisas que aconteceram nos últimos dias. Essa semana foi bem tensa. Foi pesada. Uma mistura de coisas boas e ruins. Não sei qual ganha. Bom e mal. Coisas tão distintas, mas que andam conectadas. Não existe mal, sem o bom. E não existe o bom, sem o mal. Parece ate ridículo dizer isso, não é? Eu acho. Isso não passa de uma hipótese para controlar o ser humano. Para tentar nos impedir de fazer coisas ruins (no caso aqui, o mal).

Se for pensar dessa forma, eu posso dizer que essa semana eu sofri muitas coisas ruins.

Agora, retornando à minha recapitulação, é válido dizer que eu gosto de fazer isso toda sexta feira à tarde. Quando está começando a escurecer. Quando o céu está naquela mistura de laranja, roxo (às vezes essa cor surge) e azul. Quando o sol dá luz à escuridão. A frase anterior pode até ter ficado sem sentido, mas é isso. Literalmente.

É tão bom olhar a semana como um todo. Ela parece ser um organismo vivo. Cada dia é uma história diferente. Uma vida diferente. Tudo pode acontecer. Um dia você está voltando de uma festa, no outro você está no meio de uma pandemia- parece até coisa de filme falar isso. Mas é isso, cada dia uma coisa nova. E foi isso que aconteceu comigo. Num dia eu estava solteiro, no outro namorando (meio confuso isso ainda, preciso entender melhor, mas por enquanto, é um relacionamento aberto). Num dia eu sonhava com um professor, no outro estava sendo chantageado por ele. Num dia eu sou eu, no outro sou as sobras de mim. Tudo em constante mudança. É por isso que gosto de olhar para a janela, no final da tarde de sexta feira. Olhar como o céu está em constante mudança, nas suas cores. Como tudo, sempre, muda.

Isso me dá esperança. Hoje é ruim, mas quem sabe amanhã, não seja bom.

Não posso ficar perdendo muito tempo, pensando nessas coisas. Tenho um jantar com Junior, e não posso perder a hora. Comecei a tomar banho. Coloquei música. Hoje foi o dia da Gal Costa- que mulher maravilhosa. Escutem uma música dela.

Talvez eu nunca tenha falado, mas o meu quarto, aqui no apartamento, tem banheiro. O meu e o do João Pedro têm. São os únicos. Paulo e Junior dividem o mesmo.

Sai do banheiro já preparado, se é que me entendem.

Eu já estava seco. Coloquei uma cueca. Ela tinha vários desenhos de plantas. Coloquei um short. Me olhei no espelho. Não estava legal. Tirei o short e coloquei uma calça jeans. Olhei no espelho e não estava legal. E foi nessa hora, que bateu aquela sensação péssima de "nada está bom em mim". Parei. Respirei. Troquei de calça. Coloquei uma verde (ela é verde bem samambaia). Agora sim eu estava me sentindo bem. Peguei uma camiseta preta e coloquei. Falta o sapato agora. Quem anda comigo, sabe que eu gosto de all star. Sim, eu sou esse tipo de gay. Peguei o meu all star azul claro. Agora me sinto bonito. Sinto-me desejado.

**

Fiquei esperando a mensagem do Junior. Eu não lembro o que tínhamos combinado. Fiquei uns quinze minutos esperando ele. Por fim, ouvi uma batida na porta do quarto.

- Entra- eu disse.

J entrou. Ele estava muito bonito. Muito bonito mesmo. Ele estava com roupa sofisticada. Ele parecia um homem hétero. Eu não estou exagerando. Vou descrever ele.

A camiseta era branca, com um jacaré (acho que era esse o símbolo). Sei que essa marca é cara. Uma vez, meu pai comentou comigo. Ele estava com calça Jeans. E agora, a parte mais marcante de tudo. Ele estava usando uma botina. Não é igual a que ele usa na faculdade; essa parece ser nova. Ela é mais bonita. Mais elegante. Independente da botina, ele estava, extremamente, lindo.

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