A Festa

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Senti um incômodo nos meus ombros e costelas.Aquilo era péssimo. Alguém estava me cutucando, e não parava. Era uma mistura de conforto e desconforto.O colchão me deixava confortável. O lençol me deixava confortável. Tudo ao meu redor me deixava confortável. Tudo, exceto aquele toque insuportável. E ele não parava.

"Nossa, quem poderia estar fazendo isso?"- pensei agoniado.

O toque em meus ombros ainda continuava.

"Isso é pior que um pesadelo."- pensei outra vez.

"Não é não, e você sabe disso"- meu pensamento me corrigiu no mesmo instante.

Por fim, decidi me dar a liberdade de abrir os olhos. E foi no ato de abrir que eu retomei os sentidos do meu corpo. Comecei a sentir cada vez mais o toque nos meus ombros. Comecei a sentir o gosto amargo na minha boca. Comecei a ouvir. E o barulho estava ensurdecedor. Era o meu despertador. Era a voz de Júnior.

- 'Mor', acorda.-ele ficava repetindo, enquanto ia com os seus dedos nos meus ombros.

- Já acordei.- eu disse com uma voz péssima.

- Até que enfim. Eu já não estava aguentando mais esse despertador. Justo no dia que eu posso dormir até mais tarde, me vem isso. Caramba!- J disse.

"Pelo visto alguém está de mal humor hoje. Melhor eu ficar bem de boa, antes que eu cause uma briga."- pensei.

- Desculpa, eu realmente estava dormindo.- eu disse enquanto já me levantava.

- Ok, só desliga essa merda, por favor.- Júnior falou.

- Já está feito.- eu disse enquanto desligava o despertador.

Eu tinha levantado, mas não estava em pé. Eu só estava sentado. Não sabia muito bem o que estava acontecendo, mas uma dor ia surgindo no meu corpo. Uma dor forte, não só nas minhas pernas, costas e braços. Ela estava na minha cabeça também. Pareciam vários socos indo e vindo na minha testa. Isso era sem dúvidas, resquícios de ontem a noite.

"Não quero pensar em ontem. Não quero lembrar de nada que aconteceu naquele inferno. Não quero chorar. Não quero ficar mal. Não quero ter que sumir de novo. Não agora."- foram os pensamentos que surgiram na minha cabeça, enquanto eu coloca a mão na minha testa para tentar, em uma tentativa falha, pressionar a minha cabeça.

Não sei o motivo pelo qual eu faço isso. Nunca melhora minha dor, mas eu sempre faço. Engraçado o nosso corpo né? As vezes fazemos cada coisa. Da até vergonha. São nesses casos que eu não acredito, quando que falam que somos mais evoluídos que os animais. Impossível! Como posso ser mais evoluído, se eu sempre faço uma coisa que não resolve o meu problema?

Não respondendo minha pergunta anterior, mas surgindo com uma coisa totalmente nova, devia fazer um tempo que eu estava sentado ali na cama. Acho isso, pois senti uma mão gelada nas minhas costas, seguida das seguintes frases:

- O que é isso? Meu Deus alguém te bateu ontem?- Júnior disse com uma voz preocupada, enquanto se levantava e ia tocando nas minhas costas.

- Não, por que?- respondi

- Você tem alguns roxos aqui.- Júnior disse.

- Impossível.- respondi.

Mas não era impossível. Eu não lembro do que aconteceu. Tudo era possível. Tudo podia ter acontecido ontem.

- parecem até marcas de mordida.- J disse.

- Lembrei o que aconteceu.- falei ao mesmo tempo que eu levantava. Levantei para ele parar de examinar o meu corpo. Não queria que ele achasse mais coisa por ali. Se eu não sei o que está lá, prefiro continuar sem saber.

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