Amor e raiva

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Resumindo em poucas palavras, o resto do meu dia foi: cansativo, esgotante e triste. Cansativo, pois eu estava desacostumado com a minha vida acadêmia- vocês não fazem ideia de como uma semana sem fazer, absolutamente, nada( a não ser existir) pode te desacostumar com a vida. São nesses momentos que eu paro e penso naquelas pessoas que quebram as pernas, coluna ou tem que fazer algum tipo de cirurgia que demanda uma quantidade boa de repouso. Imagina que péssimo você ter que mudar toda a sua vida, toda a sua rotina por uma coisa tão imbecil como cair da escada e quebrar as pernas. Quando você acha que o pior foi ter caído e sentido a dor, é nisso que você se engana. É necessário o repouso. Imagino que pelo menos um mês, até os ossos se recuperarem um pouco. Gosto nem de pensar em mudanças tão radicais. Não sei se sou capas de lidar com isso. Imagina não poder sair mais com os amigos. Imagina não poder mais sair de casa para dar uma volta na rua, no parque, no centro ou em qualquer outro lugar. Imagina não poder ser capaz de se sentir capaz de fazer as próprias ações sem a ajuda de alguém.

O dia foi esgotante pelo simples fato de eu não estar sabendo lidar com os meus sentimentos e pelo trabalho em grupo que a Fabíula passou para fazer durante a aula.

" você poderia ter contato para ele. O Junior teria entendido"

" Mas imagina se ele deixasse de conversar com você. Passasse a sentir nojo. Errado ele não vai estar."

"por outro lado, ele é melhor do que isso. Ele não perderia tempo me julgando. Ele só tentaria me ajudar."

"Será mesmo? Será que você conhece ele tão bem assim?"

" Ele é legal."

"Ele é humano. Pode te decepcionar."

" Ele sempre procura o meu bem."

"Pierre também procurava, e olha só no que deu."

" O Junior não faria isso comigo. Nunca!"

"Então conta para ele. Simples assim"

'Não posso. Tenho medo."

"Pelo visto ele estava certo. Você, realmente não é tão sincero com ele, quanto ele é com você."

Esse é o tipo de pensamento que eu estava tendo durante a aula. Era para eu estar pensando nas espécies de obrigação que existem, e não nos meus problemas. Mas só quem sabe como as dúvidas podem te destruir de dentro para fora, entende o quão difícil é conseguir focar em algo.

Comecei a ler as perguntas e não entendia nada. Ainda bem que no meu grupo tinha um pessoal que entendia bem das coisas, se não meu zero estaria garantido.

OK! Preciso começar a ajudar. Eu não sou essa pessoa. Eu estudei a matéria faz pouco tempo. É impossível eu não saber nada. Será mesmo impossível? Nunca duvide da capacidade do ser humano de ser burro.

"Foco! Leia as questões de forma mais lenta."- eu dizia na minha cabeça.

"Como que eu vou ler, se eu estou com sede?"

Foi naquele instante que eu percebi que eu não trouxe minha garrafa de água. Na verdade, meu copo. Evito usar garrafas de plástico. Tento ser um pouco consciente com o planeta.

Eu preciso beber água. Estou com muita sede. Por isso não consigo pensar em nada. Tudo isso é mentira. Eu não consigo focar por que eu só penso nos problemas e nas mentiras que eu estou criando cada vez mais. Uma coisa pequena tem se transformado em uma coisa cada vez maior. A famosa bola de neve. Começa pequena descendo a montanha, e quando você menos espera, está gigante. Destruindo tudo pela frente.

Sai da sala e fui beber água. O bebedouro é perto, mas decidi ir beber em um longe. Eu precisava dar uma andada. Tomar um ar. Segui o corredor até o final. Passei por várias coisas. Vi casais se beijando. Vi gente colando panfletos nos murais do corredor. Vi gente matando aula. Comecei a parar de reparar nas pessoas e passei a ver as plantas. O prédio 12 tinha uma variedade de plantas muito grande. Tinha coqueiro, cacto, orquídeas e outras. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma orquídea amarela. Daqueles amarelos bem vivos, que exala vida, felicidade. Foi ali que eu percebi do por que o meu dia estar sendo não só cansativo e esgotante, mas também triste. Faltava algo tão vivo na minha vida, como aquela orquídea. Pode parecer um pouco falso, mas a partir do momento que eu menti para os meus amigos sobre a morte do meu tio, eu menti para mim mesmo. Eu quebrei uma ponte dentro de mim. A ponte que autoriza a sinceridade com os meus amigos. Entretanto, não adianta ficar remoendo sobre isso. Eu fiz o que eu tinha que fazer.

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