Capítulo 24

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CAPÍTULO 24

Passaram-se semanas até as semanas transformarem-se em mês. Já era dezembro, e por mais que tenha começado como outro mês qualquer, ele, bem, nos trouxe algumas surpresas.

Nos finais de ano, nós da editora trabalhávamos sempre um pouco mais para colocar tudo em dia, de modo que pudéssemos aproveitar nosso recesso de duas semanas para as festas de fim de ano sem nenhum peso na consciência.

Era a primeira semana de dezembro e, até aquele momento, não havia mudado muitas coisas em nossas vidas. Eu continuava com Tom, Mel cada vez mais apaixonada por Seth, Sam tentando administrar seu relacionamento com Danilo. A única coisa que tinha mudado realmente era minha aproximação com Brian, que tornara-se maior depois do que aconteceu mês passado na inauguração da megastore. Passamos a conversar mais em nossos tempos livres.

Na segunda semana de dezembro, em uma terça-feira silenciosa, Tom lançou um assunto no ar na nossa sala.

- Vocês ficaram sabendo que o MP vai se casar esse sábado?

- O MP? Marco Pollo? – Perguntei. MP era um dos chefes de equipe da editora, tal qual Brian. Inclusive já apareceu nesta história. – Como assim só ficamos sabendo agora?

- Já é uma tradição dos chefes dessa editora avisar tudo na ultima hora! – disse Sam dando um leve soco de indignação em sua mesa. – Eu fico passada com essas coisas! Por quê você soube disso antes da gente, Tom?

- Por que? Bem... porque eu encontrei com ele no fim do mês passado e ele me disse que ia casar. Mas eu acabei esquecendo de avisar, que cabeça a minha, não é verdade? – deu um tapinha na própria testa.

Achei aquilo tudo muito esquisito. Tom não é uma pessoa que esquece fácil de coisas importantes, como um casamento.

- E Como é que vai ser agora, gente? – eu estava completamente perdida com aquela história. O MP era um cara muito bacana e eu faria questão de comparecer à cerimônia.

Enquanto eu pensava sobre isso, coincidentemente e quase como uma invocação, MP passara pelo corredor em frente à porta da nossa sala que estava aberta. Em coro, Sam e eu gritamos: - MP!!!!! – E corremos em direção à ele que parara de susto no meio do caminho.

- MP, que história é essa que você vai casar sábado agora? – eu interroguei.

- CASAR? EU? QUEM FALOU PRA VOCÊS TAMANHA... – e olhou para Tom que estava parado na porta, atrás de mim e Sam. Fiquei sabendo depois o que acontecera ali: Tom fizera um sinal para que MP compactuasse com aquela história. – Quem falou para vocês tamanha... tamanha verdade assim tão em cima da hora?

- Eu esqueci de avisar à todos aqui quando você me falou mês passado que ia casar, MP. Me desculpe, foi uma falha minha. – Tom se aproximou e lançou o braço ao redor de MP, que parecia meio atônito.

- Mas MP, eu nem sabia que você tinha namorada e do nada você vai casar? – Sam falou.

- Namorada? Vocês sabem que eu sou gay, não é?

A gente já desconfiava, mas não tínhamos certeza. Até aquele momento. MP era muito extrovertido quando se tratava dos outros, mas muito reservado quando tratava de si mesmo.

- Noivo, então? – sorri. – Como se chama?

- Se chama... – deu um giro de 360° graus ao redor do corredor e respondeu – se chama Tom.

(eu) - Tom?

(Sam) - Tom?

(Tom) - TOM?

- É gente, Tom! Qual o problema? Só existe um Tom no mundo agora?

- Não, MP, tudo bem... – Sam interveio. – Mas como isso aconteceu? Há quanto tempo vocês namoram e...

- Ah gente, me poupe, eu não vou falar a história da minha vida amorosa para vocês em um corredor e em horário de trabalho. Só saibam que o casamento é sábado. Tom e eu quisemos aproveitar esse novo momento na comunidade LGBT depois da sanção da lei que aprova casamentos de pessoas do mesmo sexo aqui em San Side. E esperamos vocês lá... lá no...

- Lá no Paris Buffet, às 19 horas no sábado. – Tom respondeu, parecendo até que era ele mesmo o Tom que ia casar com MP.

- Exatamente! – MP concordou.

- Mas MP, e a lista de presentes? – Falei, lamuriosa - Fiquei com medo de estar muito em cima da hora para comprar o presente de vocês, ainda mais agora que é fim de ano e as lojas estão lotadas e...

- Não se preocupe com isso. De fato, nem temos lista de presentes. Tom é uma pessoa muito abastada, de modo que ele detém muitas posses e julgamos desnecessário pedir presentes para nossos convidados. O Melhor presente – segurou uma mão minha e uma de Sam – será a presença de vocês.

- Ahh, que fofo MP, estaremos lá sim, não é Julia?

- Com certeza, Sam.

- Ótimo! Espero vocês lá. Agora, se me dão licença, preciso sair. Tom, posso dar uma palavrinha com você?

- Claro.

Sam e eu voltamos para a sala e, desde então, não paramos de falar no casamento.

- Ah – Sam suspirou – eu queria ter um amor assim pra casar!

- Assim como, rico e apressado? Um rico você já tem só falta o desespero eu acho.

- Quem vai casar? – Brian entrou na sala.

- O MP, acredita? – Respondi, ainda surpresa.

- O MP? E ele tem namorado?

- NamoradA não, namorad...ESPERA, você sabia que ele era gay?

- E quem não sabia, Julia?

- Tem razão.

- Mas como ele não avisou nada?

Explicamos a história toda que havíamos acabado de ouvir para Brian, que terminou dizendo.

- Se é assim então eu também estarei lá sábado.

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Depois que saímos do corredor de volta à nossa sala, Tom e MP entraram no elevador. A conversa que rolou lá, e que eu fiquei sabendo dias depois, foi mais ou menos assim:

- Tom, que história é essa de que eu vou me casar?

- Antes de mais nada, quero dizer que você se saiu muito bem inventando uma história do nada.

- Ah Tom, eu trabalho em uma editora, eu vivo de história.

- Hahaha, muito bom. Eu quase acreditei, mas enfim. Vou te contar tudo MP, mas vai ter que ficar só entre a gente.

Querida Folha em BrancoWhere stories live. Discover now