Capítulo 16

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CAPÍTULO 16

O Tempo passava e eu continuava me dedicando a dizer mais ‘sim’ do que ‘não’ para as oportunidades de movimentar minha vida social para, no final, tirar proveito disso sendo inspirada de alguma forma.

Ainda durante aquele mês de setembro, minha agenda foi bastante preenchida: frequentei barzinhos no meio da semana, fui arrastada por Tom, obrigada sem direito a escolha a ir a um recital de poesia no teatro municipal. Só ouvi a primeira e a ultima poesia, e o tempo que as separou eu dormi. Acordei com uma cotovelada no braço direito e, quando abri os olhos, vi Tom balançando a cabeça negativamente em minha direção. Mas ele já sabia que eu detestava poesia.

Em um dos fins de semana, Tom e eu alugamos uma casa na cidade vizinha de Rochedo. Uma cidade interiorana, rodeada por natureza, completamente aconchegante. Fizemos piquenique no campo, andamos de barco no rio nos sentindo em Veneza, e claro, namoramos muito. Chegamos à pousada na sexta, que era feriado, e na noite de sábado havia chovido muito. Se isso foi bom para dormirmos de conchinha naquela noite, não posso dizer o mesmo para os fatos que se desenrolaram a partir disso no dia seguinte.

Na manhã do domingo, após a noite chuvosa, tivemos a brilhante ideia de fazer uma caminhada na pequena trilha que ficava nos arredores da nossa pousada. O Caminho seguia da pousada até o centro da cidadela, não muito longe dali. O Chão era de terra batida e, em alguns lugares, estava coberto por gramas falhadas e desgastadas pelo tempo. Nas extremidades havia pedras que marcavam exatamente a rota que devíamos fazer para chegar até o fim sem correr o risco de nos perdermos.

O Chão estava escorregadio e, em um momento Tom, que viera o caminha até ali me provocando por eu ter dormido um mais, derrapou e caiu sentado no chão bem em cima de uma poça de água. Eu o vi no chão e ri como se não houvesse amanhã. Resolvi continuar andando de costas, rindo e tirando sarro dele por não prestar atenção onde andava, até o momento em que eu também escorreguei e rolei uma pequena ribanceira. Ribanceira esta que, por acaso, estava em meu caminho o tempo todo e eu não pude ver porque estava de costas, rindo do coleguinha. Tom disse que naquela hora eu tropecei no karma e isso me fez cair. Resultado: torci o tornozelo, o que me leva até o dia 30 de setembro, onde eu ainda estava usando uma bota ortopédica na perna direita.

O Dia 30 era uma sexta-feira e à noite seria realizado o aniversário do meu pai. Minha mãe alugara o principal salão de Buffet do bairro, organizou e produziu toda a festa. Convidou os parentes, os próximos e os distantes, além de colegas de trabalho e vizinhos chegados. Ela sempre adorou dar uma grande festa. Meu pai também. Eu e meu irmão crescemos em meio a grandes confraternizações e festividades, a diferença é que ele transformou essas experiências em trabalho e eu, bem, eu fiquei afadigada com o excesso. Excesso de gente que mal falava conosco, mas sempre aparecia nas festas para comer e beber de graça, enquanto nós, que éramos da família dos organizadores da festa, tínhamos que ser simpáticos e oferecer também nossos sorrisos e cordialidades para aqueles tipos. Obrigados a sair sorrindo nas fotos dos mesmos.

Naquele tempo eu não tinha muita escolha, mas mesmo tendo agora, não cogitaria a possibilidade de faltar. Especialmente porque era aniversário do meu pai e se eu faltasse ia ter muito drama e a culpa iria me seguir até o resto de meus dias.

Eu havia comprado um vestido lindo para o aniversário: verde-água com detalhes em renda nas costas e comprimento na altura dos meus joelhos. O Vi em uma vitrine de uma das lojas do Shopping Mall e Tom queria pagá-lo pra mim. Disse que não aceitaria e ele retorquiu falando que não tinha nada de mais um namorado querer presentear a namorada.

- Eu vou parcelar em 1000 vezes esse vestido e você quer me dar de presente, assim, sem nenhum problema? Vem cá, você ganha o mesmo que eu?

- Sim, mas ganho um pouco mais porque sou o único da nossa equipe que assessora as publicações de poesias. E Livros assim vendem bem se você quer saber.

Querida Folha em BrancoWhere stories live. Discover now