Capítulo 3

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CAPITULO 03

Girando a chave na grande porta de madeira que dava acesso a minha casa, entrei disposta a dar as boas novas para minha família. Na casa 3750 da rua Bewood, no oeste de San Side, morava minha mãe, meu pai, meu irmão, sua esposa e a respectiva filha, também conhecida como minha sobrinha.

Minha mãe, Alicia Hale, é uma mulher que eu realmente posso chamar de moderna. Trabalhou a vida inteira como servidora publica para o Ministério da Justiça de San Side e, justiça seja feita, agora ela aproveita intensamente sua aposentadoria. É conhecida e adorada por todos na vizinhança. Diria até que se ela se elegesse a algum cargo politico, seus votos seriam unânimes, pelo menos em Bewood. Seu jeito alegre e extrovertido sempre me fizeram ficar mal na fita na nossa rua porque eu era exatamente o contrário e as pessoas não entendiam por que eu era tão diferente da minha mãe. Em todas as confraternizações da sua firma eu era questionada sobre o porquê da diferença e era realmente uma coisa que eu não sabia responder. Não sei até hoje. Não era pra ser. Minha estrela estava destinada a brilhar menos que a da minha mãe quando o assunto era se relacionar com outros seres humanos.

Meu pai, Carlos Alberto Hale, era praticamente do mesmo jeito. Nascido e criado no interior, veio para nossa cidade para graduar-se em direito. Em seu primeiro trabalho, conquistado através de uma prova de concurso publico no qual passou com louvor, foi encaminhado para o mesmo ministério da justiça, graças à justiça divina, onde ele conheceu minha mãe. Meu pai é do tipo de pessoa que tem um amigo em cada metro quadrado da cidade. Eu e meu irmão passávamos maus bocados quando andávamos com ele em nossa infância: a cada casa, ele parava para conversar com alguém, e isso levava horas e horas. No fim do dia só quem se divertia era ele com seus amigos, meu irmão e eu ficávamos olhando para a paisagem com cara de paisagem. Esse também gostava de uma festa. Lembro que em dia de jogo de futebol na televisão ele trazia metade da rua para assistir aqui em casa. Nossa sala mais parecia um estádio, faltavam só os ambulantes vendendo hot dog e água pelos corredores. Era meio invasivo para mim, mas ele adorava.

Meu irmão, Steve, é o empreendedor da família, ou aspira a ser um. Tem várias ideias de montar de seu próprio negocio, de ficar rico e ser o próximo visionário de nossa geração, virando tema de inspiração para os jovens administradores. Porem a maioria de suas ideias ficaram só na cabeça mesmo. Apesar de estar trabalhando como produtor de eventos na cidade, ainda sonha em ficar milionário da noite para o dia sem que isso exija muito esforço de sua parte. No meio de seu caminho rumo à lista dos cem mais ricos da revista Forbes, ele conheceu Alessandra e, em um ato de paixão avassaladora, casou-se com ela um mês depois de seu primeiro encontro em uma cerimônia secreta, a qual ficamos sabendo um dia depois quando ele nos informou que iria morar com ela na nossa casa por algum tempo enquanto não encontravam um cantinho de luz para viverem esse amor fulminante. Isso foi há 6 anos atrás, eu era adolescente e o achava bem folgado. Hoje sou adulta e minha opinião não mudou nadinha. Tiveram uma filha que mora com a gente também, a pequena Patrícia, que talvez seja a única criança que tenha orelhas que não são meramente ilustrativas, pois escuta tudo atentamente e segue a risca seus deveres e ordens que recebe. Quando eu era mais jovem, antes de trabalhar na editora, Steve fazia a cabeça da minha mãe, dizendo que eu tinha que trabalhar e que meus pais me mimavam demais, que eu nunca iria ter minha independência se eu continuasse assim. Bem, foi meio irônico ouvir isso de uma pessoa que trouxe a família inteira para morar com os pais, mas tudo bem. A Notícia que iria dar naquele dia me elevaria espiritualmente perante o moralista contraditório que vez ou outra age come se fosse meu irmão.

Voltando à história: passei pela porta da frente e entrei na casa. Meu pai estava na sala ao lado, sentado em frente ao computador. Ultimamente vinha descobrindo o mundo não tão mágico das redes sociais, mais precisamente do Facebook. Tinha feito o seu perfil há pouco mais de dois meses para manter contato com seus velhos amigos e ainda não entendia tão bem o funcionamento das ferramentas do site. E É claro que sempre sobrava para esta que vos fala ensiná-lo seus primeiros passos no fétido mundinho digital que todos nos tanto amamos.

Querida Folha em BrancoWhere stories live. Discover now