Capítulo 14

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CAPITULO 14

- Seria ótimo se você tivesse nos avisado antes, Sam – Tom falou em um mix de surpresa e indignação. Fiquei pensando “será que se ele soubesse que colegas de trabalho dessa empresa não podem namorar entre si, teria desistido de mim? Assim tão facilmente?”.

 - Achei que já soubessem, vocês trabalham aqui há anos. Deviam ter se dado ao trabalho ao de ler o contrato que fizeram com Brian.

- Por favor, aquele contrato que o Brian nos fez assinar foi só por formalidade. Já tínhamos assinado com a editora antes. Aquilo é como os termos de uso de um programa para computador: todo mundo finge que lê e assina. – Falei, um pouco exaltada.

- Você ainda vai acabar vendendo sua alma em uma dessas, Julia.

Realmente acho que na vida amorosa de seus funcionários, Brian não devia se meter. Dentro de uma grande corporação como aquela editora, com várias equipes distribuídas em várias sedes, justo naquela tinha que haver essa regra estúpida. Justo Brian, que sempre pareceu tão liberal e respeitoso, criar um impedimento desses era realmente surpreendente. Algo deve ter acontecido no caminho que seguiu até a formalização dessa regra. Algo que eu seriamente gostaria de descobrir.

- Já vi caso de funcionários serem demitidos por causa disso. – continuou Sam enquanto se encaminhava para sua mesa, seguida por mim e Tom – Eu mesma já cheguei a me encantar com um rapaz que trabalhava aqui comigo há muito tempo atrás, antes de vocês entrarem na editora. Ele sentava exatamente onde você está, Tom. Chamava-se Robben. Brian percebeu essa ligação entre a gente e me falou que não permitia isso dentro de sua equipe. Repliquei dizendo que aquilo tudo era uma bobagem, mas no dia seguinte, soube que Brian tinha transferido Robben para outra sede da editora. Resolvi apenas aceitar as regras antes que eu tivesse que me mudar também por causa de um romance que eu sequer cheguei a consumar. – Fez uma pausa como se parecesse viver tudo aquilo outra vez e continuou – Olha, eu queria muito mesmo ver vocês juntos, mas quero que vocês fiquem juntos trabalhando aqui e não longe daqui. Então vamos manter isso entre nós o máximo que pudermos.

Aquilo era surreal de se ouvir. Tom e eu trocamos olhares assustados com toda aquela história, mas como não queríamos arriscar uma transferência, resolvemos seguir o que nos foi proposto e permanecermos em silêncio sobre nossa relação, pelo menos ali na editora.

Continuamos a trabalhar em silêncio em nossa sala onde só dava para se ouvir o barulho de nossos dedos ágeis nos botões do teclado do computador. Vez ou outra um telefone tocava e quem atendia respondia questões básicas a respeito do trabalho em andamento continuo e depois voltávamos a emergir no silencio. Isso se deu até às 18 horas daquele dia, quando Brian finalmente saiu de sua sala e falou para nos encaminharmos em direção ao auditório para a palestra ministrada pelos chefes de equipe da “100 palavras”.

Nos sentamos juntos no auditório. Enquanto Sam fazia a social com outros editores, Tom e eu permanecemos sentados em silêncio no fundo da sala. Não ousávamos sequer olhar um para o outro ou nos tocarmos. Estávamos ali, mas estávamos distantes ao mesmo tempo.

A Palestra começou e no palco estavam os principais chefes de equipe da nossa sede: Brian, Marco Pollo e Allen. Falavam sobre as reuniões que tiveram na sede principal a respeito de vendas de livros, crescimento do numero de leitores e o espaço que as edições impressas estavam perdendo para as edições digitais.

- As publicações esse ano aumentaram cerca de 6% a mais que no ano passado. Ficamos felizes com essa demanda de novos escritores, mas ficaríamos mais felizes ainda se a demanda de leitores e consumidores de obras literárias aumentassem também. – Allen começou a explanar.

Querida Folha em BrancoWhere stories live. Discover now