Último Capítulo - O Fim

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Narrado por Anastasia.



Quando Raymond me encontrou naquela rua sem saída, me senti literalmente sem saída. 
Se o ignorasse e pulasse o muro, acreditava que certamente ele atiraria nas minhas costas e pronto. 
O motivo de seu maior tormento estaria resolvido. 
Tive que me render e acreditei que naquele momento, o fim tinha chegado para mim. 
Cadeia, julgamentos e solidão. 
Mas o Comandante veio com um papo totalmente diferente, dizendo que queria me ajudar a fugir com... Christian. 
- E então? Aceitará minha ajuda ou não, Anastasia? 
- O que está havendo com você, Raymond? - Levantei com a testa franzida - Da última vez que nos encontramos eu quase te matei. Esqueceu disso por acaso? - Ironizei. 
- Jamais esquecerei aqueles dias de tormento, Anastasia. - Ele também se levantou - Mas aqueles momentos serviram justamente para que eu tomasse a atitude que estou tomando hoje.
- Acha que me ajudando a fugir agora o perdoarei por ter acabado com a vida da minha mãe no passado? 
- Não. - Raymond ajeitou sua roupa amassada - Entenda uma coisa de uma vez por todas. - Tentou colocar as mãos sob meus ombros, mas dei dois passos para trás me afastando dele. 
Não adianta, não consigo confiar neste homem. 
- Carla está morta e nada, absolutamente nada que você faça contra mim mudará isso. Você passou anos da sua vida planejando uma vingança sem sentido algum. Do que adianta acabar comigo? Isso vai trazer sua mãe de volta? 
Não sei por quê, mas as palavras do filho da mãe me fizeram chorar. 
- Eu só queria que você sofresse tanto quanto ela! Só isso! 
- Pois bem... - Ele tirou uma arma da cintura e entregou a mim - Está carregada. Atire em mim, Anastasia. Acabe com isso tudo de uma vez por todas e complete sua tão sonhada vingança. - Raymond falou fechando os olhos e abrindo os braços - Estou pronto. Atire de uma vez!!
Apontei minha arma na direção do peito do homem que por tantos anos, quis destruir. 
Mais uma vez, era só puxar o gatilho. 
Era justo que ele morresse assim como Carla. 
Mas e depois? 
O que mudaria na minha vida matar aquele que querendo ou não, é meu pai de sangue? 
Carla não vai mais voltar. 
E desde que iniciei esses planos todos de vingança só tive sofrimento atrás de sofrimento. 
Só senti vazio, tristeza, dor. 
Tive alguns momentos de prazer, mas sempre eram mais passageiros que a tristeza eterna. 
A única coisa boa nisso tudo foi ter conhecido Christian. 
Um homem bom que gostava muito de mim, que queria ter uma família de verdade comigo.
Se eu tivesse largado essa vingança quando descobri minha gravidez, há essa altura já teríamos nossa família. 
Teria uma família de verdade pela primeira vez na vida. 
Mas não, insisti no caminho do mal, da dor e perdi meu bebê. 
Culpei Raymond por isso, mas a culpa é toda minha. 
Foi uma escolha minha ir para aquela missão sabendo da gravidez e ainda por cima, entrar naquele comboio. 
Somente minha.
Estava tão cega de raiva que sequer conseguia reconhecer meus próprios erros, mas agora que estou prestes a concluir a vingança tudo se tornou tão... Pequeno. 
- Não vai atirar? - Raymond perguntou me trazendo de volta a realidade.
Literalmente.
- Toma. - Entreguei a arma de volta para ele - Me prenda logo de uma vez e acabe com isso tudo, Raymond.
- Você quer mesmo ser presa? 
- Sequestrei e tentei matar um dos homens mais importantes do exército americano.  Mereço ser punida, não acha? - Admiti - O que eu fiz foi errado, de certa forma me arrependo de ter tentado me vingar de você porque isso fez com que muitas coisas ruins acontecessem não só comigo, mas com pessoas que não mereciam como seu filho. 
- Você sempre quis me matar. Por quê não quer mais? 
- Porque depois de tudo que fiz, que vivi... Parece que não vale mais tanto a pena assim, Raymond. - Dei de ombros, secando minhas lágrimas com os dedos - É melhor  pagar logo pelo que fiz. Fim de jogo! 
- Não Anastasia. Você já sofreu demais nesta vida. Está na hora de tentar ser um pouquinho feliz, não acha?  
- Feliz? 
- Sim. Só confie em mim. - Pediu pegando o telefone e dizendo alguma coisa para Carrick que não entendi muito bem, pois estava desnorteada com toda a cena vivida segundos atrás - Você confia em mim, filha?
- Confiar? Eu não confio em ninguém, Raymond. Nem sei o que é confiança. - Dei de ombros.  
- Mas sabe o que é amar, mais do que eu inclusive. E é isso que quero que você seja até o resto da vida, filha. Muito amada e feliz para que todos esses sentimentos ruins que você sente por mim saíam do seu coração um dia. - E sorriu. 
Raymond sorriu pra mim...
Mas não devolvi seu sorriso. 
Apenas o segui até o carro onde o General Carrick nos aguardava. 
Entrei no mesmo, enquanto Raymond e o pai de Leila conversavam do lado de fora. Pareciam em alguns momentos estarem discutindo feio, certamente por minha causa. Depois, ambos pareceram concordar entre si e entraram no carro. 
- Olá Anastasia. - Carrick me cumprimentou. 
- Oi. 
Ele começou a dirigir e minutos depois, chegamos a um casébre abandonado próximo da área periferica da cidade. 
- O que está acontecendo? Não estou entendendo nada. 
Estava me sentindo muito confusa com as atitudes do Steele. 
Um lado meu acha que ele quer mesmo me ajudar, mas o outro não. 
- Estamos cuidando de tudo, de cada passo da sua fuga para que não ocorra erros. - Ele respondeu.  
- Vou ter que fugir para sempre? - Indaguei olhando para o General. 
- Não, apenas enquanto os crimes que você cometeu não prescrevem ou arrumemos uma forma de conseguirmos a clemência, o perdão judicial. Pode ser que demore alguns anos, mas contrataremos os melhores advogados do país para que tudo se resolva o mais breve possível. Enquanto isso, é melhor você estar bem longe daqui. - Carrick respondeu tentando esboçar um sorriso. 
Tentei sorrir de volta. 
Joguei minha mochila no canto da sala e sentei naquele sofá velho. 
Meu futuro agora está nas mãos desses dois. 
Confio no Carrick, sei que é um homem bom, mas ainda não estou confiando cem porcento em Ray. 
- Quer comer alguma coisa Capitã? - Carrick perguntou sentando do meu lado. 
- Não sou mais Capitã, General. - Ele assentiu com a cabeça - Quero sim, qualquer coisa. 
[...]
Ele se afastou e alguns minutos depois, chegou com um sanduíche para mim que o devorei rapidamente enquanto os dois continuavam resolvendo meu destino. 
- Anastasia. - Raymond sentou-se desta vez ao meu lado - Vamos lá. 
- Por quê está me ajudando? 
- Para me redimir comigo e contigo, Anastasia. Para tentar, de um jeito meio torto, ser seu pai e cuidar de você, do seu futuro, mesmo que só por algumas horas. - Respondeu com lágrimas nos olhos. 
De todas as vezes que Raymond chorou na minha frente, esta foi a primeira que não sei por qual motivo, senti sinceridade.
- Vai deixar eu ser seu pai? - Perguntou quando a porta da casa se abriu e Christian apareceu sorrindo e correndo na minha direção. 
Fiz o mesmo e nos abraçamos com muita saudade. 
- Me desculpa, por favor. - Sussurei no seu ouvido - Sei que te fiz sofrer com tudo que fiz nos últimos dias, me perdoa Chris.  
- Está tudo bem, amor. - Ele envolveu as mãos ao redor do meu rosto, me olhando nos olhos - O importante é que nós vamos ficar juntos. 

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