Capítulo 16 - O Lamento

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Capítulo 16 - O Lamento. 

[...]
Não sei quanto tempo ao certo fiquei apagada. 
Só sei que passei um longo tempo mergulhada em uma escuridão que parecia sem fim. 
Só parecia. 
- Hum... - Murmurei abrindo os olhos. 
Nos últimos tempos ficar desacordada vem se tornando rotina para mim e isso é péssimo. 
Estava em uma das tendas, acho que a que utilizam para dar atendimentos médicos aos feridos pois há alguns aparelhos aqui. Me ajeitei na cama e segundos depois, Elena adentrou o local. 
- Foi você quem me socorreu? - Indaguei surpresa por ter sido atendida pela pessoa que menos simpatizava comigo aqui. 
Ainda bem que demos uma trégua. 
- Sim. - A loira confirmou se aproximando de mim e checando meu pulso - Como se sente?
- O corpo está dolorido. - Olhei para meus braços e haviam vários arranhões, além de uma pequena queimadura no ante-braço direito causada sei lá pelo quê - Há quanto tempo estou aqui? 
- Três dias. - A loira respondeu séria - O comboio onde você, Jack e James estavam foi atacado por terroristas da Al Qaeda no meio do deserto. 
Assim que ouvi a explicação começei a lembrar de tudo.
Os tiros... A explosão. 
Meu filho! 
- Elena... - Engoli em seco - Como é que... - Levei as mãos a barriga, sabendo que como ela me atendeu com certeza já sabe que estou esperando um filho do Coronel - Ele está?
- Anastasia... Infelizmente... - Ela baixou a cabeça. 
A médica não precisou terminar a frase para que entendesse exatamente do que se tratava. 
- Não! - Gritei sentindo meus olhos começarem a se encher de lágrimas - Ele não pode estar...
- Infelizmente você perdeu o bebê, Isabella. Juro por tudo que é mais sagrado que fiz o possível para salva-lo, mas não consegui. 
A partir daí simplesmente desabei. 
Sei que no começo não aceitei muito bem essa gravidez, mas de alguma forma já amava meu filho. 
Se tivesse ouvido os conselhos da Kate, nada disso teria acontecido. 
Por quê sou assim?
Por que tenho tantos sentimentos ruins dentro de mim? Sentimentos que me levaram a cometer uma enxorrada de erros que fizeram eu perder meu próprio filho. 
Agora sou sozinha de novo, como antes.  
Está doendo tanto, mais internamente do que fisicamente. 
É como se com esse filho a esperança de ter um futuro feliz tenha ido embora e mais uma parte de mim tenha morrido, assim como quando Carla se foi. 
São tantas perdas, tanta amargura que a única que consigo fazer nesse momento é chorar, colocando para fora toda minha dor. 
- Meu filho... - Murmurei entre lágrimas, mantendo a mão sob o ventre que agora está seco de novo. 
- Christian era o pai do seu bebê, não é? 
- Sim. - Confirmei ainda chorando - Mas ele não sabia, ninguém sabia. Só Jack. Ai... - Tentei puxar ar pois estava quase me faltando de tanta dor que sentia dentro do meu coração. 
- E você pretende contar à ele sobre o filho que perdeu?
- Para quê Elena? Pra ele também sofrer? - Fiz sinal de negativo com a cabeça - Não vou contar à ele, nem a ninguém. E espero contar com sua discrição quando a esse assunto. Por favor, não diga a ele que...
- Não vou. - Ela me interrompeu concordando e dando um sorriso triste - Meus sentimentos, Anastasia. - Segurou minha mão. 
- Obrigada. - Apertei a mão dela quando Christian entrou na tenda, correndo em direção a mim. 
- Ana! - Me puxou para si, me dando um abraço confortante - Que bom que acordou! Rezei tanto pra isso. - Beijou meu ombro com carinho - Você está bem? 
- Uhum. - Nos afastamos e ele segurou minhas mãos, enquanto Elena nos deixava a sós - O que houve com quem estava no comboio comigo? Os soldados, Jack, James?! Eles conseguiram escapar, não é? - Christian desviou o olhar - Por favor, não me esconda nada! - Insisti. 
- Depois da explosão James sumiu. Há alguns metros de distância de onde estava o comboio foi encontrado um corpo carbonizado e... O relógio de James estava no pulso da vítima. Acreditamos mesmo que James infelizmente partiu dessa pra pior. 
- Que triste. - Baixei a cabeça - James não ia muito com minha cara, mas não queria seu mal. 
- Alguns soldados sobreviveram, outros morreram e Jack... Ele... - O moreno engoliu em seco, calando-se. 
- Jack está morto, Christian? 
Jack é um bom homem, não pode ter tido um destino tão cruel. 
- Não, ele sobreviveu - Suspirei aliviada -Mas... 
- Mas o quê? Fala Christian! - O pressionei ficando mais nervosa ainda.  
- Teve a perna amputada. - Revelou. 
- O quê? Não! Jack não... Não merece isso, ele... - Me desesperei começando a tremer sem parar. 
- Elena disse que se não amputasse a perna esquerda ele iria morrer. - O Coronel justificou - O que houve foi muito sério, Ana. As coisas saíram de vez do controle nessa operação. Meu pai até viajou para cá a fim de resolver tudo. Conseguimos capturar alguns terroristas e nem que tenhamos que arrancar o couro deles, mas vamos descobrir os detalhes desse maldito ataque para impedir que aconteça porque agora isso já virou pessoal. - Prometeu cheio de raiva por ter acompanhado tantas tragédias sucessivamente, sem poder fazer nada. 
- Raymond está no país?
- Há duas tendas daqui, mais precisamente. Mas e você? Como está?
- Eu... - Tentei segurar as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos ao pensar no filho que perdi - Estou bem. - Limpei as lágrimas. - Quero ver Jack! 
[...]
Depois de me alimentar e fazer alguns exames fui até a tenda dos feridos, onde Jack estava internado. 
O loiro estava deitado na cama, com metade do corpo coberto pelo lençol. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, provavelmente porque já sabe que perdeu uma das pernas. 
- Jack... - O chamei me aproximando de sua cama - Sinto muito. - Lamentei sentando na beira da cama do rapaz.
- Eu sei. - Ele mantinha a visão em um ponto fixo no teto, sequer olhando pra mim - E seu bebê? 
- Também se foi. - Admiti segurando as lágrimas - Parece até castigo. Aquela criança morreu por minha culpa e agora, o troco veio com meu filho também partindo pelo mesmo motivo. 
- Também sinto muito por você. - Me olhou - E por tudo que perdemos nessa maldita explosão. - Pôs a mão sob a minha. 
- A Leila já sabe? - Apertei a mão do loiro. 
- Ainda não, pedi que não contassem a ninguém. Não quero ter que aguentar o olhar de pena dela sobre mim. Quando reencontra-la, irei terminar nosso namoro de uma vez por todas. 
- Terminar?! Por quê Jack? Vocês se amam! 
- Leila merece coisa melhor que um aleijado como eu. - Respondeu fazendo sinal de negativo com a cabeça - Não vou sujeita-la a viver assim, mesmo sabendo que nos amamos muito. E não adianta tentar me convencer do contrário. 
- Tem certeza que quer mesmo fazer isso?
- Absoluta. - Ele derrubou mais algumas lágrimas - Minha vida acabou, Ana. A carreira no exército, nos Sentinelas, meu namoro. Sabe o que é mais irônico? Fui Major do exército, dos Sentinelas, fui há duas guerras e foi uma mera explosão que me derrubou! 
- É irônico mesmo.
- Disseram que James morreu. É verdade? 
- Uhum. - Assenti com a cabeça.
Conversamos sobre mais alguns assuntos aleatórios, nos abraçamos e choramos nos braços um do outro para depois, eu ir para minha tenda descansar. 
[...]
A noite tivemos uma reunião com os Sentinelas restantes e com Raymond, que estava furioso. Ele nos passou algumas informações que conseguiu dos depoimentos dos terroristas que disseram que pretendiam atacar nosso país - com antraz - e alguns códigos para acessarmos alguns detalhes importantes e secretos da operação. 
Na manhã seguinte Riley, Carrick e Jane retornaram aos Estados Unidos em busca da célula terrorista que ao que parece, está instalada em um casébre velho em Washington e segundo as notícias mais recentes, parece que conseguiram prender os criminosos porém, dois terroristas fugiram antes de chegarem ao local ou seja, a luta continua. 
Como sempre. 
Passei por mais alguns exames que Elena me pediu e em seguida aproveitei o tempinho livre e o sinal de celular para conversar com Kate nos fundos do acampamento, proximo a uma antena de operadora instalada por Mike a fim de melhorar a péssima comunicação no deserto. 
- Não consigo imaginar a dor que deve estar sentindo neste momento, Ana. - Kate lamentou após ouvir meu relato de tudo que aconteceu comigo durante esses dias todos - Sinto muito, amiga. 
- Eu também. - Me segurei para não chorar de novo - Agora é voltar ao meu plano de vingança que é o que resta. - Olhei para o horizonte que estava embaçado de tanta areia. 
- Não Ana! Você ainda pode ser feliz com o Christian e...
- Foi tudo uma ilusão, Kate. É tudo uma ilusão. Christian é apaixonado pela Tenente marrenta, não pela garota que para conseguir o que quer passa por cima de quem for necessário. Não pela garota que quer destruir a única referência de família que ele já teve na vida. Quando Christian descobrir minha verdadeira história, vai me jogar fora como se eu fosse um sapato velho.

 Quando Christian descobrir minha verdadeira história, vai me jogar fora como se eu fosse um sapato velho

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- Desabafei - Quando souber quem realmente sou, vai... 
- Quem você realmente é Anastasia? - Ouvir aquela voz ácida fez meu corpo estremecer da cabeça aos pés. 
Virei-me lentamente e me deparei justamente com a pessoa que em hipótese alguma poderia ter ouvido alguma conversa minha com Katherine ou quem quer que fosse. 
Raymond!!!

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E a maratona chegou ao fim.

Adorei passar esses dias postando diariamente pra vocês, obrigada pelos votos, as visualizações. A fic está quase com 10 mil visualizações, mais de mil votos, estou muito feliz com o resultado que estamos tendo aqui, ainda mais por uma história fora do clichê habitual, então é muito bom ver que embarcaram nessa comigo ❤

A previsão para eu voltar a atualizar aqui é na próxima semana, okay?

Beijos e não esqueçam de votar e comentar❤

O TrocoWhere stories live. Discover now