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Estar sonhando com certeza não seria tão bom quanto o que estava vivendo agora. Eu me sentia nas nuvens, como se nada no mundo fosse capaz de estragar a felicidade que estava sentindo. O problema é que minha mente traiçoeira (e sensata) me lembrava constantemente dos motivos dessa felicidade não ser gritada para todo mundo ouvir.

Arthur era perfeito de todas as maneiras e se eu fosse ligada em aura e o significado das suas cores, diria que a dele é rosa claro, que significa amor, carinho, sensibilidade, ternura e todas essas coisas boas que pessoas com essa cor de aura tem. 

Ai ai, eu estava muito apaixonada e muito encrencada também.

Como sair dessa situação sem magoar Letícia e sem acabar com a nossa amizade? Seria Arthur o amor da minha vida e motivo suficiente para por em risco todos os anos ao lado de Letícia? Seria nossa amizade tão forte, como da Maiara e Maraisa e da Marília Mendonça, capaz de superar um cara entre nós duas?

Tantas dúvidas e tantas perguntas sem resposta.

Talvez devesse ligar para minha mãe e pedir para ela ir até aquela senhora que diz ler a sorte... As cartas sempre mostram o caminho, ela dizia.

— Você pensa demais, às vezes eu juro ver fumaça saindo da sua cabecinha — Arthur diz com o tom de voz rouco, passa o braço por trás de mim e me puxa para deitar no seu peito nu.

— Estava imaginando os motivos de você ter o sistema solar pintado no teto do quarto — menti, me aninhando ao lado dele na cama.

— Mente muito mal também — ele ri. — Quando era criança queria ser astrólogo e tinha a intenção de pintar as constelações, mas meu pai não entendeu e acabou mandando pintar assim.

— Então quer dizer que você acredita em signos e em como eles influenciam em nossas vidas?

— Claro! Você não? — ele questiona rindo. — Inclusive tenho certeza que você é libriana, ou então tem alguns planetas em libra, de tão indecisa que é.

— Pode ser — respondi tentando soar enigmática. — E não sou indecisa, sou cautelosa — explico. — Você nem pode falar nada, até parece que é o Senhor Decisão.

— Sou sim, sei bem o que quero. — O tom de voz de Arthur deixa sugestivo o duplo sentido da sua fala quando me puxa para seu colo.

O contato de minha pele contra a dele era o suficiente para que meu corpo do reagisse e implorasse por mais. Contrariando todos os avisos histéricos que minha mente dava, me inclinei sobre ele e beijei seus lábios, movimentando meu corpo sobre o seu e sentindo os sinais que seu corpo dava em resposta.

Arthur segurou minha cintura com as mãos e virou nossos corpos sobre a cama, de modo que ficasse por cima de mim. Sua boca deslizou pelo meu pescoço, deixando beijos e mordidas por ali enquanto suas mãos exploravam meu corpo e aumentavam ainda mais minha vontade de tê-lo dentro de mim.

É engraçado como às vezes a mente da gente quer nos destabilizar. 

Enquanto Arthur me tocava e causava reações gostosas em meu corpo, minha cabecinha começava a trabalhar com afinco para me lembrar de como tudo poderia dar errado, e se não fosse suficiente pensar em Letícia, por um momento a imagem de Guilherme me veio a mente.

Para que você não se sinta perdido em meio a minha fértil imaginação, vou explicar rapidamente quem é o ser humano com nome tão bonito: meu ex namorado.

Guilherme era como Arthur: fofo, querido, carinhoso, cheio de si e parecia me amar muito, mas esse amor durou até ele encontrar uma garota loira e abençoada com peitos grandes. É claro que eu sofri como um cão abandonado no meio do deserto, mas diferente do que vemos em filmes e livros, não jurei nunca mais amar outra pessoa.

Entretanto, contrariando minha vontade de estar aberta para vida e para o amor, minha mente voltou ao passado para alertar-me de que tudo poderia ser como foi, afinal era muito parecido.

Foi neste momento em que meu corpo ficou tenso e ao notar isso, Arthur parou o que estava fazendo (e fazia maravilhosamente bem), me olhou confuso e deu um breve beijinho nos meus lábios.

— Fiz alguma coisa errada? — ele perguntou sem jeito.

— Não, é só que já está tarde e daqui a pouco preciso ir embora — menti mais uma vez. Eu estava ficando boa nisso.

— Você sabe que pode ficar se quiser — ele sorriu e eu anui. 

É claro que eu sabia e com certeza queria, mas não devia.

— Vou te levar em casa — ele se prontificou, me beijando mais uma vez.

¨

Já passava das onze horas da noite quando cheguei ao pequeno apartamento no centro da cidade, depois de caminhar uma quadra com passos apressados e louca de medo de ser assaltada antes de conseguir por os pés na recepção do edifício. Isso porque não quis que Arthur parasse com seu carro totalmente chamativo na frente, vai que Letícia ainda estivesse acordada e visse. 

É claro que eu deveria contar para ela, não só deveria como queria. Estava me sentindo aflita por não poder dividir com a minha melhor amiga todos os sentimentos maravilhosos que habitavam meu coração, ainda que provavelmente não diria o quão bom de cama Arthur era, para que ela não ficasse fantasiando isso antes de dormir.

Suspirei pesado antes de abrir a porta e ao fazer, fiz devagar e o mais silencioso possível, afinal se ela estivesse dormindo não queria acordá-la. 

A sala/cozinha estava vazia e a porta do quarto de Letícia totalmente aberta, sem nenhum sinal da garota por lá. Caminhei até o banheiro e espiei pela fresta da porta, que estava entreaberta e com a luz acesa. Nada também.

Não sabia onde ela poderia ter ido aquele horário, não era normal sair sem avisar, mas devido a nossa pequena discussão supus que ela não fosse me ligar para dizer que estava saindo.

Seria Arthur o culpado pelo caos entre nós duas ou nossa relação já era assim e eu não via?

Balancei a cabeça negativamente, tentando afastar aquele pensamento. Eu amava Letícia como se fosse minha irmã e, obviamente, às vezes brigávamos e discutíamos, mas não era como se fossemos rivais ou uma quisesse ser melhor que a outra... Pelo menos era assim que via as coisas.


Dez Vezes VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora