12.

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— Parece que alguém teve uma noite agitada — ela falou, me tirando do transe que estava.

Meu coração batia na garganta, prestes a sair pela boca e perguntas sobre o que ela tinha visto ou ouvido invadiam minha mente.

— Faz tempo que você esta ai? — vacilei, sentindo o medo e a culpa me consumir mais uma vez.

— Não muito, infelizmente — ela sorriu, um sorriso malicioso de quem estava curiosa para saber os detalhes da noite anterior. — Mas cheguei a tempo de ver a camisa masculina jogada no chão... Sorte a sua, minha intenção era entrar no seu quarto sem bater e descobrir a quem pertencia.

— Que bom que não entrou — sorri sem jeito, pensando em como aquilo seria uma catástrofe caso acontecesse.

— Quem é o cara? — ela caminhou até a pia e começou a preparar o café.

É o Arthur, seu boy magia! Minha consciência gritou.

— Você não conhece — menti.

— Duvido — ela riu. — Vai esconder essa informação preciosa por quê? — ela questionou, estreitando os olhos para mim.

— Por que você é uma metida — eu ri. — E vai ficar olhando para ele com cara de quem sabe o que aconteceu no quarto! — brinquei, tentando não parecer mais culpada do que me sentia.

— Então eu conheço! — ela exclamou.

— Como foi a festa? — questionei, tentando mudar de assunto.

— Foi boa... Quero dizer, poderia ser melhor, mas o Arthur não apareceu e o Breno, que era minha única companhia, sumiu de lá. — Como se sua mente estivesse funcionando a todo vapor, ela me olhou sorrindo, com cara de quem ''descobriu tudo'' e gritou: — Eu não acredito que era o Breno no seu quarto! Bem que eu o vi saindo as pressas da festa, mas nunca imaginei... Sua safada! Por isso você não quis ir comigo!

Pisquei algumas vezes, tentando entender como ela podia chegar àquela conclusão assim, tão rápido.

— Aquela camisa bordo não me engana, era de marca com certeza! — ela sorria triunfante. — Eu sabia que você não seria tão boba de dar mole para os pé rapado como nós.

Revirei os olhos. Aquela mania de superioridade, às vezes, me cansava.

Parte de mim queria dizer que não, que óbvio que não era o Breno, mas a outra parte me conteve e deixou com que ela tirasse suas próprias conclusões. Afinal, omitir era melhor do que contar a verdade, pelo menos por enquanto.

Tomamos café juntas, enquanto Letícia falava sobre um garoto que conheceu na festa e sobre como ele era legal. Por um momento me senti menos culpada, afinal ela estava superando a paixonite pelo Arthur, mas logo ela voltou a falar nele e a suspirar apaixonada, com a sua teoria de que o garoto não estava pronto para um relacionamento e que ela daria o tempo que ele precisava.

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O chão da sala estava cheio de provas e livros abertos. Letícia tentava me explicar sobre Círculo de Krebs, o que era em vão, pois minha cabeça estava longe.

Na minha mente, flashes da noite anterior insistiam em se repetir, deixando um sorriso bobo nos meus lábios e um olhar perdido.

— Ei! Terra chamando! — ela falou, estalando os dedos em frente ao meu rosto. — Eu entendo que você tirou o atraso noite passada e que deve ter sido bom, a julgar por essa carinha aí, mas segunda-feira tem prova e eu sou sua única salvação aqui! — Letícia riu e eu apenas concordei, tentando voltar a sua explicação.

Ficamos por mais alguns minutos fazendo alguns exercícios e debatendo sobre uma ou outra questão complicada, até que meu celular tocou, avisando que uma mensagem havia chegado.

Na tela, a notificação de um número que não estava salvo apareceu, com uma simples mensagem dizendo: "Cheguei, não me ignore". Letícia foi a primeira a ler, já que o aparelhamento estava ao seu lado.

— O Breno trocou de número? — questionou.

Tratei de pegar o celular rápido, antes que a mesma tivesse a oportunidade de abrir a conversa e ver a foto de Arthur.

— Não trocou — comentei. — Eu é que não tinha o número salvo.

— Ele chegou de onde? — questionou novamente, curiosa.

— Daqui de casa, eu acho — dei de ombros.

— Só agora? Quero dizer, o garoto saiu daqui pela manhã...

Ela deixou a pergunta no ar, de uma forma maldosa e eu apenas ignorei.

Se eu realmente estivesse saindo com Breno, provavelmente não deveria esperar que ele estivesse só comigo... Na verdade, não sabia nem mesmo se podia esperar isso do Arthur, a julgar pela sua fama.

— Ninguém está namorando — respondi por fim. — Se ele quiser sair com outras garotas, ótimo. Você não precisa agir assim só para me atingir – cuspi as palavras, me arrependendo logo em seguida, afinal não havia motivo para Letícia querer me magoar com suas palavras; não ainda.

— Não estou fazendo isso! — ela rebateu. — Só não quero que crie expectativas, você sabe que o garoto não presta.

— Ah é mesmo?! Engraçado que você estava me jogando pra cima dele sem nem pensar nisso antes!

— Foi você quem dormiu com ele noite passada e eu não me lembro de ter te mandado fazer nada — ela falou, com a voz carregada de ironia e acusação. — E você precisa entender que garotos como o Breno não costumam ser fiéis, ainda mais com...

— Garotas como eu?! — completei sua frase. — Por que eu não sou boa o suficiente? Ou por que eu não sou tão bonita, loira, carismática e perfeita como você? Ou talvez por que eu seja pobre? — minha voz estava cheia de raiva.

— Talvez seja um pouco de cada coisa — ela falou, cruzando os braços e me encarando, erguendo as sobrancelhas, como se estivesse me falando o óbvio.

Respirei fundo antes de continuar. A vontade era jogar na cara que o garoto do qual ela estava correndo atrás, não queria nada com ela e sim com a amiga que julgava ser tão inferior.

Levantei do chão, recolhendo minhas coisas e fui para o quarto, trancando a porta para que Letícia não entrasse e aquela discussão não virasse uma briga maior.

"Quer sair para fazer alguma coisa à noite? Conversar ou só dar uma volta por aí..."

A mensagem de Arthur chegou logo em seguida, como uma fuga e eu prontamente aceitei.

Dez Vezes VocêWhere stories live. Discover now