14. Arthur Kannernberg

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— Uma cor — questionei.

— Dificil! — ela disse sorrindo, espetando com o garfo algumas batatas fritas.

— Como assim! — dei risada. — Você tem que ter uma cor preferida. 

Luísa gargalhou e fez um movimento de negação com a cabeça. Estávamos em um pequeno restaurante, jogando conversa fora e comendo alguns aperitivos. Enquanto observava a garota se decidir por apenas uma cor, notava como era bonita e diferente das outras que já havia conhecido por aí.

— Eu gosto do arco-íris — ela disse por fim. — Por que se limitar a apenas uma cor quando se pode ver a beleza em todas?

— Talvez esteja certa — falei, pouco convencido —, mas eu gosto de vermelho.

— Como sangue? — ela questionou, erguendo uma das sobrancelhas com um ar misterioso.

— Como o vermelho da sua boca — respondi, com os olhos fixo em seus lábios. Suas bochechas coraram e ela sorriu. Naquele momento tudo o que eu queria era leva-la dali, de preferência para o meu quarto e fazê-la minha novamente.

— Minha vez! — ela disse, mudando de foco. — Time do coração?

— Mas que pergunta! — falei rindo. — Flamengo, óbvio!  — Luísa colocou o dedo na boca, fazendo ânsia de vômito e riu. — Você é de São Paulo né? Deve torcer... Sei lá, pro Corinthians?

— Não! — ela exclamou. — Eu lá tenho cara de corinthiana?

— Foi um chute — dei de ombros —, melhor que Palmeiras. — Ela fez cara de ofendida, rindo em seguida e me fazendo rir também. — Ah! Não acredito, Lu! Palmeiras não tem nem Mundial!

— Ainda! — falou, erguendo o dedo.

Luísa pegou o copo de suco sobre a mesa e tomou um gole, largando o mesmo novamente em seu lugar. Ficamos em silêncio por um momento, um olhando nos olhos do outro, querendo dizer tanta coisa e ao mesmo tempo não querendo dizer nada. Eu queria ser capaz de parar o tempo naquele momento e fazer eterno, revivendo-o várias e várias vezes.

— O que você acha de sairmos daqui? — falei, com o tom de voz rouco, deixando transparecer minhas reais intenções.

— Eu adoraria — ela disse, correspondendo da mesma forma, deixando com que o tesão se torna-se parte do clima que acabara de se formar entre nós dois.

Levantamos juntos da mesa e nos dirigimos até o caixa. Luísa parou ao meu lado, e enquanto eu acertava o valor da conta, observava a garota com o olhar periférico. Ela estava mexendo em alguns bombons expostos, lendo as etiquetas com sabores e devolvendo os mesmos a vasilha onde estavam.

Ao notar que estava sendo observada, Luísa sorriu; passei meu braço pela sua cintura e a beijei brevemente, enquanto esperávamos pelo troco.

Caminhamos pela beira da praia de mãos dadas em um silêncio confortável. Não era falta de assunto, era medo de dizer alguma coisa e estragar o clima que se formara entre nós dois.

As poucas pessoas que mais cedo estavam andando pelo Mirante do Leblon já havia indo embora e apenas meu carro continuava estacionado lá. Destravei as portas do carro e esperei Luísa entrar para em seguida dar partida no motor.

— Onde vamos? — ela perguntou. Notei que mordia o lábio inferior e estava um pouco insegura quanto ao que estávamos fazendo.

— Para um lugar onde possamos ficar a vontade — falei, olhando-a de canto de olho. Ela suspirou e meu vasto conhecimento sobre mulheres sabia o que aquilo queria dizer. — Não precisamos fazer nada — acrescentei —, só quero poder estar com você longe de olhares curiosos.

Ela apenas balançou a cabeça concordando e eu voltei minha atenção para o trajeto que estava fazendo.

As coisas eram muito novas para mim também. Em qualquer outra situação não estaria me importando com os sentimentos da garota, muito menos se ela estava tímida ou com medo de ser vista comigo em público — até porque geralmente as garotas gostavam de serem vistas ao meu lado, algo a ver com status, imagino.

Com Luísa tudo estava sendo diferente do habitual. Ela despertava algo bom em mim, algo novo. Fazia meus sentimentos se intensificarem, fazendo com que sentisse coisas novas e que nunca achei possível sentir por alguém. Eu estava completamente louco pela garota morena sentada ao meu lado e tinha a sensação que seria capaz de tudo por ela.

Entrei no condomínio onde morava e estacionei o carro na garagem, um pouco inseguro sobre o que Luísa realmente queria. Virei o corpo para vê-la melhor, ela estava me olhando também e tinha um sorriso nos lábios.

— Eu não trago todas aqui — justifiquei, antes que ela dissesse algo do tipo.

— Não falei nada — sua voz tinha um timbre brincalhão.

— Mas pensou, tenho certeza — dei risada. 

— Seus pais não estão?

— Não.

Luísa me encarava com dúvida, como se estivesse questionando onde meus pais estariam aquela hora da noite. Torci para que não perguntasse, não estava a fim de contar para ela como minha família era fodida e como eu poderia ser um péssimo namorado, a julgar pelo histórico familiar.

Saímos do carro em silêncio, segurei a garota pela mão e a conduzi pela casa que ela já conhecia. Luísa sorriu ao entrar no meu quarto, provavelmente notando cada detalhe diferente ali. 

O ambiente era bem comum, com cores neutras e poucos móveis; só o suficiente. O que o deixava diferente eram os pequenos detalhes que faziam parte da minha infância, como o teto pintado com o sistema solar, os bonecos de Toy Store dentro de nichos pendurados na parede, a coleção de Harry Potter ocupando uma das prateleiras da estante com alguns bonecos colecionáveis e, provavelmente, a ausência de bagunça, coisa típica em quartos masculinos.

— Você é organizado — ela comentou, soltando minha mão e caminhando até a estante. — Leu todos os livros? — perguntou sorrindo e me olhando desconfiada. Anui e ela riu, murmurando que duvidava.

— Garotos não podem ler Harry Potter?

— Claro que podem, mas você não parece ser esse tipo de garoto — ela explicou, dando de ombros.

— Eu era nerd até a sexta série — comentei, abraçando a garota por trás e dando beijos na curva do seu pescoço.

— Hum — ela resmungou, fechando os olhos e suspirando com o toque dos meus beijos.

Virei Luísa de frente para mim, enganchando uma das mãos nos fios dos seus cabelos próximos a nuca. Pressionei meus lábios contra os dela, sentindo o toque macio da sua boca contra a minha e iniciando um beijo calmo.

Meu coração parecia a Sapucaí em dia de desfile de carnaval, minha respiração estava irregular e denunciava o quanto eu ansiava por ter Luísa em meus braços, por fazê-la minha de todas as formas possível.

Estranhamente e sem que ela dissesse nada, eu sabia que se sentia da mesma forma.

Dez Vezes VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora