13.

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— Aonde você vai a essa hora da noite? — Letícia questionou, assim que me viu saindo do quarto e indo em direção a porta.

— Vou sair, preciso de ar — respondi de forma seca.

A resposta certa seria: "não é da sua conta", mas me contive. Mesmo que ela merecesse, eu ainda prezo a educação que mamãe me deu.

Desci os degraus, de dois em dois, até chegar à portaria. Sabia que Letícia não conteria sua curiosidade e provavelmente estaria na janela, vendo que rumo eu tomaria, por isso pedi que Arthur me encontrasse na rua lateral, onde a visibilidade era quase nula.

A Ranger Rover Evoque branca estava parada próxima a um posto de gasolina e o garoto moreno estava do lado de fora, encostado no carro, de cabeça baixa, mexendo no celular.

Meu coração disparou assim que o vi. Deixei que um suspiro escapasse por entre meus lábios e me aproximei.

Definitivamente, Arthur Kannenberg era o cara mais bonito que eu já havia visto.

O garoto parecia ter saído de um catálogo de revista e tudo nele sugeria que tivesse sido desenhado a mão, desde os cabelos bagunçados às pernas torneadas.

Vi quando ele olhou para frente e sorriu, no momento em que seu olhar encontrou o meu.

Foi aí que me derreti por completo... Se é que isso é possível.

— Oi — falei, um pouco tímida, assim que parei na sua frente.

— Oi, Lu! — ele respondeu bem mais entusiasmado e nem um pouco acanhado.

Arthur colocou uma das mãos na minha cintura e puxou meu corpo para mais perto do seu, selando nossos lábios um beijo calmo.

Qualquer pessoa que visse de fora diria que aquela cena era digna de filme: o casal apaixonado. Mas enquanto beijava Arthur, só conseguia pensar em como seria cômico e trágico se fossemos flagrados por alguém.

Afastei-me, tentando não parecer a garota esquisita que estava renegando seus beijos e ele, como se percebesse meu receio, apenas revirou os olhos em resposta, deixando um sorriso se formar no canto dos seus lábios.

— Vem, vamos sair daqui — falou, apertando o botão e destravando o carro.

Sem perder muito tempo, dei a volta no automóvel, ocupando o banco do carona, enquanto Arthur se ajeitava no seu próprio lugar. O cheiro de carro novo logo invadiu minhas narinas, fazendo com que me questionasse se um dia seria capaz de me acostumar com esse estilo de vida.

Não que eu não tivesse ambição. Claro que tinha! Era justamente por isso que estava estudando tão longe de casa, às vezes passando por alguns perrengues para me manter na cidade e concluir meus estudos. Queria ser capaz de me formar, de preferência com honras; ter um bom emprego, talvez passar em algum concurso público e alcançar a tão sonhada estabilidade financeira, com direito a uma ou duas férias por ano e todas as contas em débito automático, sabendo que ainda assim sobraria um valor relativamente bom para gastar. Mas ser rica e esbanjar dinheiro não eram meus sonhos.

Se minha mãe me visse chegando em casa naquele carro, faria alguma piadinha de como ''acertei na loteria'' com o bonitão ao meu lado. Aquele pensamento me fazia revirar os olhos. Jamais ficaria com alguém por dinheiro, tenho princípios.

— O que você tanto pensa? — O moreno perguntou, enquanto dirigia pelas ruas movimentadas do centro.

— Sobre como nossas realidades são diferentes — respondi de forma sincera. — Onde estamos indo?

— Besteira — ele disse, estalando a língua no céu da boca. — Em um lugar onde possamos conversar... Sem que você fique toda espiada e com medo de ser pega... — Arthur revirou os olhos e completou: — Como se estivesse fazendo algo errado.

Olhei para ele de canto de olho. Não queria discutir sobre aquilo; queria que Arthur entendesse minha situação em relação a nossa situação, e que não agisse como se pudéssemos aparecer de mãos dadas andando por ai. Abri a boca, fazendo menção de falar algo, mas desisti no caminho, tornando a fechá-la e voltando minha atenção para a rua.

Observei enquanto ele estacionava o carro próximo ao Mirante do Leblon. A lua e alguns postes eram responsáveis pela iluminação do local, dando um ar um pouco romântico aquela situação; não fosse pelo clima estranho que havia se instalado entre nós. As ondas quebravam contra as rochas que ficavam a baixo do extenso deck de madeira e era possível ver alguns casais por ali.

Desci do carro assim que Arthur destravou as portas, parando em frente ao automóvel e aguardando enquanto ele descia também. O garoto moreno se aproximou, passando o braço por cima dos meus ombros e me conduzindo até o deck, parando apenas ao chegarmos à cerca baixa de madeira, que servia como apoio e base de segurança, separando as pessoas de uma possível queda sobre as rochas.

— Desculpa — Arthur sussurrou, apoiando o cotovelo sobre a cerca e me olhando. — Eu entendo que ela é sua amiga, mas é ridículo ficar se escondendo assim...

— Você errou — interrompi. Apoiei meu cotovelo sobre a certa também, ficando de frente para ele. — Você parecia saber quem queria e ainda assim deu corda, iludiu a garota. Como quer que agora fique tudo bem? Numa visão de fora, eu sou a amiga fura olho.

— Eu sei, Lu! — ele deu de ombros. — Mas não tem como voltar atrás, o que esta feito: esta feito. — Suspirei. Aquilo me deixava em uma sinuca de bico. — Não quero falar sobre isso, podemos só esquecer por um momento que existe esse problema?

Fiz que sim, com um movimento de cabeça e observei enquanto o garoto se aproximava. Arthur me envolveu em seus braços e me beijou. Um beijo lento, calmo e com gosto de liberdade; igual ao mar naquela noite.

Dez Vezes VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora