9.

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Cada passo que eu dava em direção a maldita sala, parecia aumentar a distância entre mim e a porta. Se fosse um filme, provavelmente agora eu estaria andando em câmera lenta! A ansiedade me dominava e já era possível sentir minhas mãos suarem.

Não por encontrar o Arthur ali, mas por pensar que a qualquer momento Letícia apareceria e entenderia a situação toda. Eu estava com medo de ser flagrada na minha própria mentira... Se é que posso considerar assim, afinal, omitir é diferente se mentir, né?!

Ao entrar na sala, bati a porta, fechando-a e encostei as costas na mesma, controlando a respiração e esperando que as batidas do meu coração voltassem ao ritmo normal.

— Tudo isso é por me ver? — A voz de Arthur me trouxe de volta ao mundo real, cheia de graça, como se aquilo tudo não passasse de uma brincadeira da qual ele estava se divertindo bastante. Franzi a testa e o fuzilei com os olhos.

— O que você está fazendo aqui? Ficou maluco?! — respirei fundo. — E não, isso não é por você! Já pensou se a Letícia te vê? O que ela ia pensar?

Ele revira os olhos, da de ombros e sorri.

Aquele maldito sorriso capaz de amolecer até o coração do Carrasco, que quase matou Bicuço, em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.

Foco!

Arthur se aproxima, chegando perto o suficiente para que eu pudesse sentir o cheiro amadeirado do seu perfume.

— Pra ser sincero, não ligo muito se a Letícia está ou não aqui — ele ergue a mão em direção ao meu rosto e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Precisava te ver.

— Me ver?! — bufo em resposta. — Eu não sei em que realidade paralela você vive, mas a que eu estou você é quase ex da minha melhor amiga.

— E daí?

— E daí?! Nossa, Arthur, você tem demência ou só é idiota mesmo? — coloco as mãos sobre seu peito, na intenção de afastá-lo. — Não existem motivos para isso estar acontecendo. — Tento ser o mais firme possível, mas minha voz falha.

Ele segura minha mão com delicadeza e, ainda com aquele sorriso preso aos lábios, fixa o olhar no meu.

— Não mesmo?

O mundo ao redor parece entrar em pause, como se só existisse nós dois ali e nada fosse capaz de atrapalhar aquele momento. Os olhos de Arthur dançam entre os meus olhos e lábios, fazendo com que uma enorme vontade de beijá-lo tomasse conta de mim.

Como se levasse uma eternidade, vejo-o chegar mais perto e encostar os lábios nos meus, com um certo receio, como se pedisse permissão; e então, eu cedo. Arthur me toma nos braços e me beija: um beijo urgente, quente e cheio de desejo.

Não respondendo mais por mim, correspondo da mesma forma. Era como se todo meu corpo dependesse daquilo, como se ele fosse minha droga e eu estivesse tomando uma grande dose depois de meses em abstinência.

Eu estava muito fodida.

Arthur se afasta lentamente, encosta a testa na minha e por um momento o único som no ambiente é da nossa respiração. Ele era como o mar, capaz de te proporcionar dias calmos e tranquilos, mas também capaz de causar um tsunami na sua vida, arrasando tudo o que estivesse pela frente... Vulgo, meu coração.

Tudo parecia perfeito, possível... Até sermos despertados pela Kelly Key, cantando "Sou A Barbie Girl" no meu celular.

— Ai droga! — Ele se afasta e eu apalpo meu bolso traseiro da calça, à procura do meu aparelho celular. Arthur ria, provavelmente por causa do toque escolhido. — É a Letícia — explico — é o toque dela.

Observo-o revirar os olhos e atendo, fazendo um sinal com o indicador sobre os lábios para que fique em silêncio.

— Oi!

Cadê você?

— E-eu... — gaguejo, procurando por uma boa resposta. Arthur está próximo a janela e aponta para um bar do outro lado da rua. — Estou aqui no Bar do Zé.

Fazendo o que, doida? — ouço Letícia rir do outro lado da linha. — Vou subir para a sala... Ou quer que eu te espere?

— Não! — exclamo. — Pode ir, só vim comprar uma água. Já te alcanço.

Ok! — falou, antes de finalizar a ligação.

Certifico-me de que a chamada foi finalizada e respiro aliviada.

É impressionante como a culpa pode nos deixar desesperados, principal quando precisamos mentir. Eu estava me sentindo péssima com a situação. Como se ele pudesse sentir o que eu sentia, se aproximou novamente, colocando as mãos na minha cintura e puxando meu corpo para perto do seu.

— Ei! Não fica assim. — O moreno sorriu. — Ela é sua amiga, vai entender.

De repente, algo dentro de mim desperta, como se uma caixa fosse destravada, fazendo um clique e esfregando a realidade na minha cara.

Arthur não era pra mim.

Ele não era pra ninguém. O garoto vivia trocando de relacionamento — se é que podíamos chamar assim — igual trocava de roupa. Eu não colocaria minha amizade de anos em risco por causa de uma ficada de uma noite.

Me afastei, desvinculando suas mãos da minha cintura e o olhando nos olhos.

— Isso não significa nada. — Minha voz saiu mais ríspida do que eu gostaria. — Não existe nada para ela entender, pelo simples fato de que não existe nada entre nós dois.

Pude ver confusão nos seus olhos, como se ele não estivesse esperando aquela reação.

— Não sei qual é a sua, mas não vai rolar comigo — completei.

Não esperei uma resposta e sai da sala, deixando o garoto para trás.

Meus sentimentos estavam confusos, mas eu acreditava que tinha feito o certo, afinal, não era como se vivêssemos em um conto de fadas onde o príncipe se apaixona pela princesa e vive feliz para sempre.

Pra começar, nem princesa eu era e Arthur estava mais para sapo. Um sapo bonito, cheiroso e que beijava muito bem.

— E então? — A mulher que antes havia me assustado, perguntou, com um sorriso sugestivo nos lábios, como se soubesse o que nós estávamos fazendo naquela sala vazia.

Não falei nada, apenas dei um sorriso sem mostrar os dentes e subi as escadas, indo em direção a sala de aula. 

Dez Vezes VocêWhere stories live. Discover now